_
_
_
_

Furacões, terremotos, a Rocinha... Avalanche de notícias negativas pode nos levar ao “medo líquido”

Estresse, ansiedade e insegurança generalizada são algumas das consequências da superexposição a informações alarmistas

Héctor Llanos Martínez

Nas últimas semanas, assistimos ou lemos, como espectadores e leitores, a uma avalanche de más notícias. O incêndio que matou crianças em uma creche em Minas Gerais, o assassinato de dois adolescentes por um colega de escola em Goiânia, os desastres naturais na América do Norte e no Caribe, violência na Rocinha, atentados terroristas e outros crimes em massa se sucederam sem trégua. As consequências de se expor a tantos acontecimentos negativos, que além disso ocorrem em lugares diferentes e por causas distintas, “pode gerar um estado de insegurança generalizada, que se denomina medo líquido”, explica ao EL PAÍS o psicólogo espanhol Luis García Villameriel.

Mais informações
Duas semanas de fogo reduzem a cinzas o coração da Chapada dos Veadeiros
Conheça o significado do ‘haka’, a dança tribal maori que virou símbolo dos All Blacks
#EuTambém: Mulheres do mundo todo contam que sofreram assédio sexual
Esta corrente humana conseguiu salvar uma escola em chamas na Galícia
Veja o mundo com olhos de um daltônico

O sociólogo Zygmunt Bauman dedicou um de seus ensaios a esse termo. “O medo é mais terrível quando é difuso, disperso, pouco claro; quando flui livremente, sem amarras, sem âncoras, sem lar nem causa nítidos; quando nos ronda em silêncio; quando a ameaça que deveríamos temer pude ser vislumbrada em todas as partes, mas é impossível de ser vista em um lugar concreto”.

Podemos não estar vivendo na pele nenhuma dessas notícias, mas ler cada uma delas provoca uma sensação de desproteção, que é “fruto do contato prolongado, contínuo e intenso com esse tipo de informação”. É isso o que se considera medo líquido e é como explica o fenômeno a psicóloga Vanessa Clemente.

Os principais afetados por essa corrente de más notícias são as pessoas que tendem a sofrer de estresse, depressão e ansiedade. “O problema ocorre quando se passa da empatia à simpatia e se começa a viver essas emoções negativas como próprias”, destaca Clemente, especializada em trauma.

Mas, segundo Luis García Villameriel, existe uma hierarquia entre essas notícias catastróficas: “Somos muito mais afetados pelas tragédias provocadas pela mão humana, como os incêndios criminosos, do que por aquelas que são produtos de um erro ou da natureza, como é o caso de um terremoto”.

O medo líquido ou, em outras palavras, o sentir-se vulnerável sem encontrar um culpado ou uma solução concreta, “é um terreno fértil para que a sociedade tenda a renunciar a suas liberdades individuais frente a líderes que lhes oferecem proteção. Foi a mesma sensação de insegurança que definiu eleições como a de Trump ou o Brexit”, adverte o psicólogo, co-autor do livro Psicología del Miedo.

Os dois especialistas dão algumas dicas para evitar se sentir afetado por tantas notícias negativas.

- Diminua a exposição. Consultamos nosso celular entre 80 e 110 vezes por dia. Com uma frequência tão alta, é complicado não nos expormos de maneira permanente a esse tipo de informação. Isso também ocorre nos meios de comunicação convencionais e também através de comentários nas redes sociais. “Ser seletivo é fundamental para conseguir uma mudança”, comenta Villameriel.

- Conheça-se melhor. “O medo e o estresse são recursos positivos na vida, mas é preciso estar consciente do nível que você consegue aguentar. Portanto, desconecte-se antes de cruzar essa linha”, recomenda Vanessa Clemente.

- Escolha o melhor momento. Faça duas pausas durante o dia para ler ou assistir notícias. Não se trata apenas de ser seletivo. “Ao saber quando vai se informar, você fica melhor preparado psicologicamente para o que poderá encontrar pela frente”, aponta o psicólogo.

- Distancie-se. Villameriel recomenda fazer uma análise mais crítica das notícias, e usar mais a razão do que a emoção. “Se o que você está lendo não traz novas informações, porque voltar a ficar chateado”, explica. Isso não significa ficarmos totalmente insensíveis. “Apesar de ser um mecanismo de defesa natural, ele só funciona a curto prazo e não resolve o problema”, adverte Clemente.

- Cuide-se. “É possível compensar os efeitos negativos do medo líquido quando estamos dormindo e nos alimentando melhor. E praticando esportes ou relaxamento ativo, como ioga ou meditação”, explica Clemente. “Beba mais água. Ainda que pareça absurdo, isso ajuda, já que o cérebro precisa se hidratar quando estamos estressados”.

- Contrabalançar com notícias positivas não funciona. A empatia com acontecimentos negativos é muito mais forte do que com notícias positivas. Saber que uma senhora de uma cidadezinha do interior ganhou na loteria de maneira inusitada é algo que pode nos fazer sorrir, mas “no fundo não nos afeta no dia a dia”, segundo Villameriel. É um fato que não vai nos fazer sentir que tudo está bem em nossa vida. Assim como ver nosso time ganhar nos distrai, mas só até certo ponto.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_