_
_
_
_
_

Quatro Estados e DF podem entrar em fase de “aceleração descontrolada” da Covid-19, diz Ministério

Saúde afirma que dados de São Paulo comprovam que isolamento diminuiu intensidade de transmissão, mas alerta para cenário futuro no Estado e no Rio, Ceará, Amazonas e na capital

Uma médica ouve os pulmões de um paciente que está se recuperando da admissão na UTI por Covid-19.
Uma médica ouve os pulmões de um paciente que está se recuperando da admissão na UTI por Covid-19.REMKO DE WAAL (EFE)
Beatriz Jucá

O mais recente desenho da epidemia de coronavírus no Brasil feito pelo Ministério da Saúde indica que o país enfrenta neste momento um risco nacional “muito alto” pelo novo coronavírus. Se de uma maneira geral o Brasil ainda vive a fase inicial de transmissão da Covid-19, ao menos quatro Estados ―São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Amazonas― e o Distrito Federal estão na iminência de entrar na fase mais dura da epidemia: a de aceleração descontrolada da doença, quando há espiral de casos e grande sobrecarga do sistema de saúde. O alerta feito pelas autoridades do ministério parte do cálculo de uma alta incidência da infecção em relação a população desses locais, um dado que supera a taxa nacional. E se soma aos gargalos estruturais que o país vem enfrentando na sua corrida contra o tempo para expandir o sistema de saúde antes da chegada da fase mais aguda da doença.

Mais informações
Personal sanitario toma muestras para análisis de coronavirus en una instalación en Múnich (Alemania).
Novo coronavírus se multiplica 1.000 vezes mais na garganta que o vírus da SARS
BRA107. BRASILIA (BRASIL), 30/03/2020. - El ministro de Salud, Luiz Henrique Mandetta, habla durante una rueda de prensa este lunes en Brasilia (Brasil). La cifra de fallecidos a causa de la COVID-19 en Brasil llegó este lunes a 159, con un aumento de 23 en relación a la víspera, en tanto que el número de casos asciende ya a 4.579, según datos divulgados por el Gobierno. EFE/Joédson Alves
Mandetta, o conservador que vestiu o colete do SUS e entrincheirou Bolsonaro
En la imagen actual, enfermeras de la Fundación Jiménez Díaz, en Madrid. En otra imagen, un grupo de mujeres pertrechadas con mascarillas durante la epidemia de gripe de 1918 en Brisbane (Australia).
Armas do século XIX contra a pandemia do XXI

No mais recente boletim que o Ministério da Saúde publicou sobre a situação epidemiológica do país, divulgado neste sábado (4), a pasta avalia os riscos para o Sistema Único de Saúde (SUS) e traça um panorama duro sobre a capacidade brasileira para lidar com a fase mais aguda da epidemia neste momento: o país enfrenta carência de profissionais de saúde especializados, os leitos hospitalares ainda não chegaram a um número suficiente para uma fase aguda, não há fornecedores de testes para ampliar significativamente a capacidade de testagem nos próximos 15 dias e seriam necessárias pelo menos mais duas ou três semanas de estudos para conseguir alguma robustez e aplicar medicamentos como a cloroquina em larga escala para o tratamento da Covid-19.

Por isso, o Ministério da Saúde recomenda que os Estados e municípios mantenham suas determinações de distanciamento social pelo menos “até que o suprimento de equipamentos (leitos, EPI, respiradores e testes laboratoriais) e equipes de saúde (médicos, enfermeiros, demais profissionais de saúde e outros) estejam disponíveis em quantitativo suficiente”. A pasta aponta pela primeira vez que as medidas de isolamento estão funcionando no país. Cita como exemplo o caso de São Paulo, cuja taxa de transmissibilidade do vírus estava entre três e seis e caiu para um índice próximo de dois. “Após a adoção de medida de distanciamento social ampliado, essa taxa está próxima de R0=2 (em São Paulo)”, aponta o documento, citando o índice que calcula a capacidade de reprodução do vírus. O apoio do ministro Luiz Henrique Mandetta às medidas de distanciamento adotadas por São Paulo é o principal ponto de atrito dele com o presidente jair Bolsonaro, que defende a retomada das atividades econômicas no país, com o isolamento apenas de idosos e pessoas do grupo de risco. A polêmica desgastou a imagem do mandatário brasileiro e ampliou o apoio popular ao ministro.

Estrutura hospitalar

A avaliação que consta no boletim divulgado neste sábado foi feita pelas autoridades de saúde 37 dias depois de constatarem o primeiro caso de Covid-19 e começarem a dar respostas mais diretas à epidemia no país. No momento, o Brasil acumula um total de 9.056 casos e 359 óbitos, segundo dados de sexta-feira (03). Mas o próprio ministro Mandetta admite que o número está subestimado diante da limitação de testagem. A pasta tenta ampliar a capacidade de identificar um número mais real de infectados no país e chegou a anunciar o aumento de testes disponíveis para 22 milhões, mas os fornecedores desses insumos não têm estoque para os próximos 15 dias, afirmou ele.

Já sobre a capacidade de assistência para os casos mais graves da Covid-19 no Brasil, a situação também é dramática. Há carência de profissionais de saúde capacitados tanto para o manejo clínico de pacientes graves quanto dos profissionais treinados que atuam nos postos de saúde para orientar os casos leves de síndrome gripal. “Os leitos de UTI e de internação não estão devidamente estruturados e nem em número suficiente para a fase mais aguda da epidemia”, alerta a pasta no documento. E mesmo os medicamentos com indícios promissores para o tratamento ―como a associação da cloroquina e da azitromicina― necessitam ainda de pelo menos duas ou três semanas de estudos para serem aplicados com alguma segurança em larga escala.

O comportamento do vírus

O Ministério da Saúde chama a atenção para a alta transmissibilidade e letalidade do novo coronavírus, que já repercute nas hospitalizações por síndrome aguda respiratória grave no país e tem ocorrência superior aos demais vírus monitorados, como a Influenza. “O SARS-CoV-2 possui comportamento incomum e representa elevado risco para o Sistema Único de Saúde”, alerta a pasta. A epidemia passa por quatro fases: transmissão localizada (na qual se localiza o Brasil atualmente), aceleração descontrolada (na qual quatro Estados começam a entrar), desaceleração e controle.

Reiteradas vezes, o Ministério vem recomendando que as medidas de distanciamento social sejam respeitadas para que dê tempo para o sistema de saúde se expandir e criar condições de atender a um elevado número de doentes. Sem explicitar uma previsão exata, a pasta prevê que um período de maior ocorrência da doença “ocorrerá dentro de algumas semanas”. Diante da gravidade da situação e da insuficiência de insumos, o Ministério da Saúde passou a recomendar que a própria população passe a usar máscaras, ainda que sejam feitas com tecido em casa, como barreira social para tentar reduzir a propagação do vírus. “Esse fato, por si só, demonstra a gravidade da situação e a necessidade de manutenção das medidas de distanciamento social ampliada que foi adotada por diversos gestores estaduais e municipais. Esse é o único instrumento de controle da doença disponível no momento”, reforçou.

Informações sobre o coronavírus:

- Clique para seguir a cobertura em tempo real, minuto a minuto, da crise da Covid-19;

- O mapa do coronavírus no Brasil e no mundo: assim crescem os casos dia a dia, país por país;

- O que fazer para se proteger? Perguntas e respostas sobre o coronavírus;

- Guia para viver com uma pessoa infectada pelo coronavírus;

- Clique para assinar a newsletter e seguir a cobertura diária.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_