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A Copa do Mundo dos zagueiros

Na defesa e no ataque, jogadores da posição se destacam neste Mundial em seleções que chegaram longe abdicando da posse de bola

Umtiti e Varane, zagueiros franceses, comemoram gol do camisa 4 contra o Uruguai.
Umtiti e Varane, zagueiros franceses, comemoram gol do camisa 4 contra o Uruguai.Franck Fife (AFP)
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A Copa do Mundo tem marcado inícios e encerramentos de ciclos no futebol em suas últimas edições. A Itália levou o Mundial de 2006 com uma equipe destacada pela sua defesa; Fabio Cannavaro, zagueiro, foi eleito o melhor daquele ano. Na Copa seguinte, em 2010, os italianos caíram na fase de grupos. Quem ganhou foi a Espanha, que priorizava a posse de bola, mesmo que pouco efetiva, no estilo conhecido como tiki-taka. Em 2014, foram os espanhóis que voltaram embora mais cedo, eliminados na primeira fase. A vencedora foi a Alemanha: uma seleção forte, alta e rápida, com físico e inteligência para pressionar seu adversário e não ser pressionada. Na Copa 2018, os alemães caíram na fase de grupos. E, se é possível determinar um estilo de jogo padrão na edição em que França e Croácia são as finalistas, ele é composto por uma forte defesa e agressivos lances com bola parada.

Três das cotadas como favoritas a levar o Mundial da Rússia eram Alemanha, Espanha e Argentina, que decepcionaram ao serem eliminadas precocemente ― enquanto a primeira caiu na fase de grupos, as duas outras saíram nas oitavas de final para donos da casa e França, respectivamente. As três foram, também, as seleções com maior média de posse de bola durante a competição: a Espanha teve 69%, chegando a 75% no último jogo; a Alemanha teve 67%; e a Argentina, 64% de média. Todas elas estiveram atrás do placar em mais de uma partida no torneio, o que automaticamente condiciona o estilo de jogo escolhido, mas a superioridade no controle da bola não se traduziu em vitórias. Pelo contrário: algumas seleções, como Uruguai, Japão, Suécia, Rússia e Dinamarca, alcançaram resultados expressivos na Copa mesmo com equipes inferiores por saberem se defender sem a bola e contra-atacar de forma eficiente.

Na primeira semifinal da Copa, na qual a França venceu a Bélgica por 1 a 0, os franceses tiveram 40% de posse de bola, mas chutaram 19 vezes (contra nove finalizações belgas). A equipe de Didier Deschamps deixou a bola com o adversário, mas contou com sua boa defesa para não ser ameaçada e ainda fez o goleiro Courtois trabalhar nos contra-ataques puxados por Mbappé e Griezmann. Após o jogo, o meia belga Hazard disse que prefere “perder com essa Bélgica do que ganhar com essa França”, exaltando o que seria o futebol mais bonito jogado por sua seleção. Nas quartas, porém, a situação foi contrária: a Bélgica teve 43% de posse de bola e viu o Brasil chutar 26 vezes (foram oito chutes belgas), mas venceu por 2 a 1. A boa atuação foi sustentada por um ataque que precisou acertar o gol de Alisson três vezes para abrir 2 a 0 e por um sistema defensivo que segurou o ímpeto brasileiro em busca do empate.

Dos 161 gols marcados até o fim das semifinais da Copa do Mundo 2018, 49 partiram de bolas paradas; 25 em escanteios, 15 em faltas cruzadas, sete em faltas diretas e dois em laterais. O índice representa mais de 30% dos gols, recorde desde 1966, ano que a base de dados das estatísticas em Mundiais começou. Em um torneio onde tantos jogos são decididos por cruzamentos, a exigência é por zagueiros seguros para afastar a bola na defesa e agressivos para fazer o gol no ataque. Nesse contexto, quatro duplas de defensores se destacaram na Rússia:

Godín e Giménez (Uruguai)

Com o entrosamento do Atlético de Madrid, a dupla uruguaia passou a primeira fase sem sofrer gols contra Egito, Arábia Saudita e Rússia. Giménez ainda deixou o seu, de cabeça, garantindo a vitória por 1 a 0 na estreia contra os egípcios. O nível de exigência aumentou no mata-mata, quando o Uruguai foi vazado por um gol de cabeça do zagueiro Pepe contra Portugal, um gol de cabeça do zagueiro Varane e um gol de Griezmann em falha do goleiro Muslera contra a França. A eliminação nas quartas não apaga o ótimo desempenho de Diego Godín, que não fez seu gol na Copa, mas se destacou anulando atacantes como Cristiano Ronaldo e Mbappé no mata-mata.

Thiago Silva e Miranda (Brasil)

Antes da Copa do Mundo, Marquinhos era o favorito para ser titular da zaga brasileira ao lado de Miranda. No entanto, Thiago Silva ganhou a vaga no último amistoso preparatório e mostrou, durante o Mundial, que é um dos melhores zagueiros do mundo. Thiago deixou seu gol contra a Sérvia e foi o principal responsável pela defesa brasileira ser a que menos sofreu chutes até as quartas de final. Seu companheiro, Miranda, não chegou ao mesmo nível, mas manteve desempenho muito bom nas partidas mais exigentes, contra México e Bélgica. Ainda é preciso destacar Casemiro, volante que protegeu a zaga durante o torneio e não enfrentou os belgas por suspensão.

Lindelof e Granqvist (Suécia)

Uma promessa do Manchester United e um veterano do Krasnodar, da Rússia, foram os dois melhores jogadores do sistema defensivo que levou a Suécia, 24 anos depois, às quartas de final da Copa. Um time tecnicamente inferior precisa de sua defesa para avançar, e o capitão Granqvist contou com a parceria do jovem Lindelof para ser um dos melhores da Rússia na posição, marcando duas vezes e assegurando um honroso sétimo lugar a sua seleção. A Suécia sofreu apenas dois gols da Alemanha e dois gols da Inglaterra na Copa.

Varane e Umtiti (França)

Se não contar com os três gols da Argentina, em um jogo no qual Lionel Messi tentou de tudo para resgatar sua seleção, a França foi vazada apenas uma vez na Copa da Rússia: um gol de pênalti marcado por Jedinak, da Austrália, na estreia do Grupo C. Os números são amostra de um sólido trabalho da zaga que reúne titulares de Real Madrid e Barcelona, que não foram vazados mesmo competindo contra nomes como Suárez, Lukaku e Hazard. Varane ainda deixou sua marca abrindo o placar contra o Uruguai, nas quartas, e Umtiti marcou o gol da vitória na semifinal contra a Bélgica ― ambos de bola parada.

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