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‘Pokestop’, ‘Brexit’ e ‘pós-verdade’: as palavras de 2016

'Mansplaining', 'Intersexual'... os termos e assuntos que dominaram as conversas neste ano

O artista Kaya Mar carrega uma de suas obras, inspirada no 'Brexit'.
O artista Kaya Mar carrega uma de suas obras, inspirada no 'Brexit'. FACUNDO ARRIZABALAGA (EFE)
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Brexit

Em 2012, dois analistas do Citigroup inventaram o termo Grexit para se referirem à saída da Grécia da União Europeia. Depois disso, surgiu a palavra Brexit – e até mesmo a expressão Spexit, a possível saída da Espanha. Tudo era apenas falatório até que, em junho passado, foi realizado um referendo sobre o assunto e o povo britânico se fez ouvir. Um total de 52% votou pelo Brexit, e 48% pelo muito menos sonoro Bremain (junção de Britain e Remain, “permanecer”). Uma vez escolhido, o Brexit já não soava tão bem, e acabaram sendo criadas variações de baixa caloria, como o Soft Brexit. E até uma sequência: o Breturn (Britain e Return, “retornar”).

Jaime Villanueva

Pokestop

O que têm em comum a casa onde nasceu o ditador Francisco Franco, em Ferrol, na Espanha, o lago do Central Park, em Nova York, e o Museu de Engenharia Urbana da Cracóvia, na Polônia? Todos são Pokestops, lugares onde se podem encontrar pokémons, bolas, ovos ou poções. O videogame de realidade aumentada Pokémon Go consiste em caçar com o celular essas criaturas fantásticas – com nomes como Mewtwo, Dragonite e Mew – que aparecem no GPS nos lugares percorridos de verdade pelo jogador. Só ter que explicar como funciona o jogo já faz uma pessoa se sentir mais sábia.

Intersexual

E também: pansexual, fluido, demi, queer, assexual, poliamoroso, neutro... Este ano, houve uma orgia de rótulos sobre a diversidade: do intersexual – antes chamado de hermafrodita, que por fora nasce com características anatômicas de ambos os sexos e por dentro pode se sentir homem, mulher, os dois ou nenhum dos dois – ao assexual – que não experimenta atração sexual por outras pessoas, apesar de poder ter libido e se apaixonar. Há tantas sexualidades quanto há indivíduos e dar um nome a algo não significa que aquilo já não existia. Mas foi necessário esperar 2016 para um aluvião de reportagens sobre “o terceiro sexo” ou “a quarta orientação sexual”.

Pós-verdade

O dicionário Oxford a declarou palavra do ano e a definiu assim: “Circunstâncias pelas quais os fatos objetivos influenciam menos na formação da opinião pública do que os apelos à emoção e à crença pessoal”. Em setembro, a revista The Economist dedicou sua capa ao termo, com o subtítulo: “Os políticos sempre mentiram. É relevante se eles deixarem completamente a verdade para trás?”. As mudanças climáticas não existem. Todos os mexicanos são criminosos. Os muçulmanos, terroristas. O Papa pediu o voto para Trump. Permanecer na União Europeia é mais caro do que sair... Esses e outros boatos que chegaram a milhões de pessoas com aparência de fatos através do Facebook geraram uma intensa polêmica sobre a proliferação de notícias falsas. A pós-verdade afunda nos preconceitos, não tenta embelezar a realidade, diretamente inventa outra que devora o resto dos relatos. Este ano, deu duas mordidas: o Brexit e a vitória da alt right, a direita radical norte-americana.

Partidários do 'sim' colombiano incrédulos ante o 'não'.
Partidários do 'sim' colombiano incrédulos ante o 'não'.GUILLERMO LEGARIA (AFP)

O triunfo do Não e a surpresa das pesquisas

O não foi a palavra que saiu mais fortalecida de 2016. E em várias partes do mundo. No Reino Unido, os britânicos disseram não à permanência na União Europeia... O não venceu na Colômbia, que questionava a população sobre um acordo de paz com as FARC. O não dos italianos ao plano de Matteo Renzi para reformar a Constituição. O triunfo de um negacionista como Donald Trump... Não é não? No fim, talvez não. 

Trump e Farage, 'yes we won'.
Trump e Farage, 'yes we won'.

Em 2016 ainda descobrimos, estupefatos, algo que sempre soubemos: as pesquisas de opinião não são um oráculo. As sondagens (e os analistas, cientistas políticos e jornalistas que as explicam) não deram uma bola dentro. Houve várias surpresas no resultado das eleições municipais brasileiras, Brexit, a vitória de Trump nos EUA, “não” à paz na Colômbia... Assim, as pesquisas deram o que falar.

Tonga

Cordon Press

Oficialmente denominado Reino de Tonga, país da Oceania, integrado à Polinésia. Um de seus 100.000 habitantes o colocou dentro do mapa, e no Trending Topic mundial, durante a abertura dos Jogos Olímpicos. A cerimônia transcorria calmamente quando, de repente... O porta-bandeira do Tonga! O lutador de Tae Kwon Do Pita Taukatofua, de 32 anos, usava um ta’ovala, traje típico de seu país, o torso nu, musculoso e lambuzado de óleo de coco. Virou meme imediatamente.

Sorpasso

Por algum motivo, no ano eleitoral, começou a ser usado o termo italiano sorpasso, ultrapassagem, para ilustrar que o Podemos queria ou imaginava que ia bater o PSOE nas urnas. A inspiração era o sorpasso que durante muito tempo, sobretudo nos anos sessenta, o Partido Comunista Italiano esperou fazer em relação à Democracia Cristã, o que acabou não acontecendo. O partido sempre chegava muito perto, mas nunca conseguiu chegar na frente. Nesse sentido, se a expressão foi escolhida por alguém do próprio Podemos –que tem dirigentes bastante italianófilos--, não lhe ocorreu que ele poderia dar azar. Pois foi o que aconteceu: Podemos também não conseguiu o objetivo, pelo menos até agora.

Sororidade

A expressão tem sido usada há anos em círculos e publicações feministas, especialmente na América Latina, mas, em 30 de novembro passado, a Fundação Urgente do Espanhol admitiu seu uso em geral nos meios de comunicação para se referir à relação de solidariedade entre mulheres, em especial relacionada com a reivindicação de igualdade com os homens. O vocábulo, do latim soror, irmã, não é dos mais belos de se ouvir, mas foi incorporado com entusiasmo sobretudo pelas jovens feministas em um ano em que a permanência da desigualdade, a violência machista e as declarações sexistas pré-históricas de alguns líderes políticos voltaram a colocar na pauta a luta pela igualdade.

Burkini

©GTRESONLINE

Em uma das imagens do ano, feita durante os jogos do Rio, a jogadora de vôlei de praia egípcia Doaa Elghobashy, vestindo hiyab, agasalho e mangas compridas, tenta bloquear o ataque de sua adversária alemã, que está de biquíni. Na segunda imagem, feita em uma praia de Nice, quatro policiais obrigam uma mulher a tirar a mesma indumentária depois que cerca de trinta cidades francesas –a maioria na conservadora Côte d’Azur, vetar em suas praias o uso do biquíni-burka depois do atentado de Nice, por se tratar de “uma exibição ostensiva de adesão a uma religião em um momento em que a França sofre atentados terroristas”. A multa aplicada a cerca de quinze muçulmanas foi de 38 euros (135 reais). Ao final, o Conselho de Estado francês anulou a proibição por considerá-la contrária às liberdades fundamentais.

Mansplaining

“Olha, vou te explicar”. Está entendo, querida? O mansplaining (junção de man com explaining, algo assim como “machoexplicação”) ou o manterrupting (a junção de man com interrupting) consiste em uma elocução condescendente feita por um homem para uma mulher sobre algo que ela já sabe. Inclusive o feminismo. O termo foi lançado em 2008 pela escritora Rebeca Solnit no ensaio Os homens me explicam coisas. Em 2010, foi uma das palavras do ano do The New York Times e em 2014 entrou no Dicionário Oxford, até se tornar global em 2016, como se pode verificar neste gráfico sobre o interesse despertado pela palavra no Google.

Donald Trump ataca Hillary Clinton durante um debate.
Donald Trump ataca Hillary Clinton durante um debate.Reuters

O pico de maio corresponde com um vídeo explicativo que se tornou viral (40 milhões de visualizações). Em novembro, como parte de uma campanha de conscientização, a Suécia disponibilizou um número de telefone para que as pessoas denunciassem casos de mansplaining no trabalho. Ainda neste ano o termo atingiu o estatuto de mainstream quando sua definição apareceu após uma pergunta no mítico concurso televisivo Jeopardy. A resposta foi dada por um homem, que ganhou 600 dólares com ela. “Que fique claro que eu nunca faço isso”, disse ele. “Você não precisava nos explicar isso”, respondeu o apresentador. Aqui, mais uma vez, Donald Trump abusou do mansplaining e do manterrupting ao interagir nos debates eleitorais com sua adversária democrata, Hillary Clinton, durante a corrida pela Casa Branca.

...E o fim do Brangelina

Tempos felizes, a família Jolie-Pitt em 2011.
Tempos felizes, a família Jolie-Pitt em 2011.Gtres

Eles eram tão belos, tão chiques, tão bem-sucedidos, tão solidários, tão mais-que-perfeitos... E continuam sendo, mas agora em separado. Em 2016, vários mitos desabaram. Talvez o mais dolorido para o coração globalizado tenha sido o do casal perfeito que Brad Pitt e Angelina Jolie personificaram durante os seus 12 brilhantes anos de convivência. O mundo assistiu, atônito, às suas acusações recíprocas, suas altercações, seus pleitos pela guarda dos seis filhos de todas as cores. Ou seja, o de sempre. Mas acontece que ali eram eles, os mais belos, e o planeta chorou por uma ruptura tão banal como qualquer outra como se fosse o final de um conto de príncipes e princesas.

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