Os melhores filmes latino-americanos de 2016
Apresentamos uma lista das produções mais bem avaliadas pela crítica em oito países da região
EL ESPECTADOR, a revista de cinema latino-americano do EL PAÍS, escolheu os melhores filmes de 2016 na região. A lista, composta por longa-metragens de ficção e documentários, inclui obras-primas e produções de cineastas consagrados em seus países. Os oito filmes refletem temáticas bastante políticas retratadas de diferentes formas. De conflitos pela terra na Amazônia peruana, passando pelo drama dos desaparecidos na ditadura argentina até histórias de amor homossexual no Chile e México. A visão destes cineastas faz parte do impulso vital que vive o cinema latino-americano na atualidade.
ARGENTINA
A Longa Noite de Francisco Sanctis, de Andrea Testa e Francisco Márquez
Andrea Testa e Francisco Márquez se conheceram estudando direção na Escola Nacional de Experimentação e Realização Cinematográfica (Enerc). Tornaram-se companheiros, sócios e pais de Sofia, uma menina de 2 meses. Não é a única beleza que nasceu do binômio. Em 2016 estrearam A Longa Noite de Francisco Sanctis, o filme de baixo custo que melhores críticas recebeu na Argentina e que triunfou no festival de cinema independente de Buenos Aires (Bafici). Também foi convidado a participar da competição oficial de Cannes. O tal Francisco Sanctis (interpretado por Diego Velázquez) é um funcionário da área administrativa, de classe média, para quem a última ditadura militar (1976-1983) passa longe. Um dia recebe um telefonema de uma antiga colega de colégio e se encontram. Assim chega às suas mãos um papel com o nome de duas pessoas que irão ser presas e desaparecer nessa mesma noite. O conflito interno que se desencadeia em Sanctis é a trama desta história baseada no romance publicado por Humberto Costantini em 1982. O eixo do livro do escritor é fazer o que é certo, embora para isso tenha de enfrentar os poderosos. (Por Ramiro Barreiro)
BOLÍVIA
Viejo Calavera, de Kiro Russo
Agora que seu pai morreu, ninguém quer tomar conta de Elder Mamani. Só resta a mina, seu padrinho e a casa de sua avó. Esta é a história que nos conta Kiro Russo. Antes de sua estreia, o filme havia conseguido oito prêmios internacionais, entre os quais uma menção especial do júri no Festival de Locarno (Suíça) e outra menção em San Sebastián, Espanha. Viejo Calavera (Velho Caveira) é toda uma experiência cinematográfica onde a escuridão da mina se funde na sala graças à estupenda fotografia de Pablo Paniagua. Isto permite aos espectadores adentrarem não só as entranhas da montanha, como também os cantos mais obscuros do ser humano. Surgem então as cumplicidades, os medos, a ira, os demônios e o remédio para sanar as feridas da perdidão humana. A obra-prima de Russo é fruto de muito trabalho e talento e faz parte de uma nova geração de cineastas que deseja colocar a Bolívia na cena internacional. (Por Andrés Rodríguez)
BRASIL
Aquarius, de Kleber Mendonça Filho
Aquarius, o segundo longa-metragem do pernambucano Kleber Mendonça Filho, brilhou em 2016. Seu nome figurou em várias listas de melhor do ano e recebeu muitas críticas positivas. A boa trajetória da obra começou na sua estreia em Cannes, em maio, onde foi aplaudida e seu elenco realizou um protesto silencioso no tapete vermelho contra a destituição da presidenta Dilma Rousseff. O filme é protagonizado por Sonia Braga, que interpreta Clara, uma mulher que aos 65 anos vive sozinha em um edifício de frente para o mar, no Recife. O prédio corre o risco de ser derrubado para a construção de outro. Clara resiste pacificamente na medida do possível. A obra levou mais de 356.000 espectadores aos cinemas brasileiros, uma boa média para um título nacional, e foi distribuída para mais de 40 países. (Por Camila Moraes)
PERU
El Choque de dos Mundos, de Heidi Brandenburg y Mathew Orzel
Um líder da principal organização indígena da Amazônia enfrenta as pressões de transnacionais que querem expandir sua presença na floresta peruana. O Governo do presidente Alan García promulga decretos para facilitar a venda da terra para a extração de minérios e hidrocarbonetos, e as organizações indígenas convocam uma greve até que as normas inconstitucionais sejam revogadas. O documentário El Choque de dos Mundos (A Colisão de Dois Mundos), realizado durante seis anos, inclui imagens de arquivo e depoimentos exclusivos sobre esta história, que teve um desenlace trágico, com dezenas de indígenas mortos em junho de 2009. O valor do filme reside na qualidade visual, na investigação e nas revelações sobre um fato que comoveu o Peru. O longa-metragem estreou em Sundance, onde conseguiu o prêmio especial do júri de cinema mundial para obra-prima e obteve outros seis prêmios em festivais internacionais no ano. (Por Jacqueline Fowks)
CHILE
Rara, de Pepa San Martín
Esta obra-prima se converteu em uma surpresa chilena que deixou uma grande lembrança nos festivais internacionais. Apesar de ser o primeiro longa-metragem de Pepa San Martín, que antes de se dedicar ao cinema fez teatro, o filme mostra solidez no retrato de uma adolescente prestes a completar 13 anos. Sara vive as dúvidas normais de sua idade, entre elas, como se sentir em relação à companheira de sua mãe: outra mulher. Este relato no Chile conservador foi baseado na batalha legal da juíza Karen Atala para conservar a custódia de suas filhas, que lhe foram tiradas por causa de sua orientação sexual. Ao rodar o filme, a diretora se deu conta de que no Chile há muito mais casos como este. Rara (Estranha) conquistou o público jovem da Berlinale, o que lhe rendeu o prêmio Generation Kplus
COLÔMBIA
Todo Comenzó por el Fin, Luis Ospina.
Quando o mito se impôs sobre a realidade de um grupo de jovens que mudou a história do cinema na Colômbia, Luis Ospina, um de seus impulsionadores, decidiu assumir as rédeas. Todo Comenzó por el Fin é um documentário de três horas, lançado na Colômbia no início de abril, que relembra o grupo de Caliwwod e sua contribuição à cultura colombiana durante os anos setenta e oitenta. Ninguém no mercado cinematográfico acreditava que esta história de filmes, drogas e álcool conquistaria o público. A previsão era de exibição em dois fins de semana. Mas a engenhosidade de Andrés Caicedo, autor de Qué viva la música!, Carlos Mayolo e o próprio Ospina provocaram tal magnetismo geracional que o documentário teve de voltar às salas de cinema. (Por Ana Marcos)
EQUADOR
Sin Muertos no Hay Carnaval, de Sebastián Cordero
Embora Hollywood domine as salas comerciais no Equador, Sin Muertos no Hay Carnaval abriu caminho em 2016 nos cinemas locais. O filme não precisou de muita apresentação porque tem a assinatura de Sebastián Cordero, um dos cineastas mais conhecidos no país. Trouxe de volta o realismo social ao cinema equatoriano. Este, uma das marcas características na obra de Cordero, tem estado ausente nos filmes equatorianos, que este ano se atreveram até a enveredar pelo suspense. A coprodução entre Equador e México só atraiu pouco mais de 40.000 espectadores, uma cifra muito distante dos quase 300.000 de outros filmes locais há uma década, quando o cinema equatoriano era aplaudido. (Por Soraya Constante)
MÉXICO
Te Prometo Anarquia, de Julio Hernández Cordón
O quinto longa-metragem de Julio Hernández Cordón levou frescor às viciadas temáticas do cinema mexicano. A pouco convencional história de amor entre dois jovens patinadores é crua, terna, selvagem e doida. O filme deixou nos espectadores uma boa sensação por sua qualidade, que lembra o melhor do cine independente, retratando uma classe média marginal e urbana que tem sido esquecida por muitos dos cineastas mexicanos. Embora Te Prometo Anarquia toque também na inevitável violência que inundou dezenas de obras cinematográficas do país, prefere situar-se na relação entre dois rapazes com tempo livre de sobra, que vendem sangue para ganhar alguns trocados e se amam em um caminhão-pipa abandonado. O filme, protagonizado por atores amadores, foi o único representante do México na terceira edição dos Prêmios Fênix. No entanto, a produção voltou para casa com as mãos vazias. (Por Luis Pablo Beauregard)
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.