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Mesmo com mais de 105.000 mortos, Bolsonaro se blinda da pandemia e alcança sua melhor avaliação

Segundo pesquisa Datafolha, aprovação do presidente subiu para 37% e sua rejeição despencou 10 pontos, chegando a 34%. Auxílio emergencial e recolhimento após cerco a Queiroz são possíveis fatores

O presidente Jair Bolsonaro participa de evento de envio da missão brasileira ao Líbano, na quarta.
O presidente Jair Bolsonaro participa de evento de envio da missão brasileira ao Líbano, na quarta.AMANDA PEROBELLI (Reuters)
Daniela Mercier
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Brazil's President Jair Bolsonaro, who is infected with COVID-19, wears a protective face mask as he talks with supporters during a Brazilian flag retreat ceremony outside his official residence the Alvorada Palace, in Brasilia, Brazil, Friday, July 24, 2020. Bolsonaro has tested positive for the new coronavirus for the third time, following his July 7 announcement that he had COVID-19, the Brazilian government confirmed. (AP Photo/Eraldo Peres)
Brasil adoece enquanto Bolsonaro releva a pandemia e se mantém em eterno palanque eleitoral
Brazil's President Jair Bolsonaro looks on during a press statement at the Alvorada Palace in Brasilia, Brazil August 12, 2020. REUTERS/Adriano Machado
Bolsonaro encara dilema entre auxílio emergencial e o teto de Paulo Guedes
AME7854. BRASILIA (BRASIL), 12/08/2020.- El presidente brasileño Jair Bolsonaro (c), asiste a una conferencia de prensa junto al presidente de la Cámara Baja de Brasil, Rodrigo Maia (i) y el presidente del senado Davi Alcolumbre (d), hoy en el Palacio de la Alvorada en Brasilia (Brasil). El presidente de Brasil, Jair Bolsonaro, aseguró este miércoles que su Gobierno respetará el techo de gastos, que limita el aumento anual de los presupuestos públicos a la inflación del ejercicio anterior, y consideró que la economía del país "está reaccionando" pese a la pandemia del coronavirus. EFE/Andre Borges
Crise escancara mudança de rumo de Bolsonaro, disposto a rifar o que sobrou da agenda liberal

Enquanto o Brasil amarga a perda de mais de 105.000 vidas e a posição de segundo país com mais mortes e pessoas infectadas pelo novo coronavírus (3,2 milhões), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) alcança a melhor avaliação de seu mandato. Segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira, o número de brasileiros que consideram o Governo ótimo ou bom cresceu desde junho, passando de 32% para 37%. Mais acentuada, porém, foi a queda numérica entre os que consideram a gestão ruim ou péssima: passaram de 44% para 34% —patamar semelhante ao do início do mandato, considerando a margem de erro de dois pontos percentuais. O índice dos que avaliam a gestão como regular é de 27% (era 23% em junho).

O instituto ouviu 2.065 pessoas nos dias 11 e 12 de agosto, por telefone. Nos quase dois meses que separam a nova pesquisa da anterior, o país dobrou o número de mortes —eram cerca de 52.000 em 23 de junho, data do levantamento— e praticamente triplicou o de infectados —cerca de 1,15 milhão na época. Desde então, o presidente contraiu a doença —que contagiou até agora oito de seus ministros, infectou a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e levou a avó dela à morte —, mas não alterou o seu discurso negacionista, pelo qual no início da pandemia classificou o vírus como uma “gripezinha”, e não assumiu a responsabilidade sobre a crise sanitária, delegada por ele a governadores e prefeitos.

A gestão da pandemia já passa pelas mãos do terceiro ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, que, sem experiência na área, ocupa de forma interina, há três meses, o posto que foi dos médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. As acusações de omissão no controle da covid-19 motivaram denúncias contra Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional de Haia e a apresentação do 56º pedido de impeachment contra ele na Câmara dos Deputados.

Mas também foi ao longo desse período que cresceu o alcance do que é considerado o trunfo do Governo para manter a sua popularidade. O auxílio emergencial de 600 reais, destinado a trabalhadores informais, desempregados e beneficiários do Bolsa Família, foi prorrogado e chegou a metade das famílias brasileiras em junho, segundo o IBGE. De acordo com o Datafolha, entre quem fez e recebeu a ajuda, 42% consideram o Governo ótimo ou bom, acima da média geral, enquanto entre os que não recorreram ao auxílio a aprovação é de 36%.

A ajuda emergencial também parece ter efeito na imagem do presidente no Nordeste, tradicional reduto do PT e onde 45% da população recorreu ao programa (no país, o índice é de 40%, segundo a pesquisa). De acordo com o Datafolha, a rejeição a Bolsonaro caiu de forma mais acentuada na região, passando de 52% para 35%. O presidente que criticou as medidas de isolamento e a consequente paralisação das atividades econômicas para conter a pandemia tem a sua aprovação mais elevada entre empresários (58% classificam o Governo como ótimo ou bom), pessoas de 35 a 44 anos (45%), homens (42%) e moradores do Sul, Norte e Centro-Oeste (42%). Sua rejeição é maior entre estudantes (56% o classificam como ruim ou péssimo), pretos (48%), quem tem ensino superior (47%), quem ganha mais de 10 salários mínimos (47%) e mulheres (39%).

Em junho, quando a reprovação do presidente atingiu seu auge até agora, a pesquisa havia sido realizada poucos dias depois da prisão de Fabrício Queiroz, amigo de Bolsonaro há mais de 30 anos e ex-assessor de seu filho Flávio, hoje senador, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, acusado de gerir um esquema de rachadinha —desvio de dinheiro de servidores do gabinete. O policial aposentado obteve prisão domiciliar, que foi revogada na noite desta quinta-feira pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), e deve voltar para a cadeia.

O cerco ao antigo aliado e à mulher dele, Márcia Aguiar, que também teve a prisão decretada, a as notícias sobre novos repasses do casal à primeira-dama, fez com que o presidente atenuasse o tom das declarações nos últimos meses e intensificasse a aproximação com o Congresso. A aliança com o grupo de parlamentares conhecido como Centrão culminou nesta semana na troca da liderança do Governo na Câmara. Vitor Hugo (PSL-GO), aliado de primeira hora de Bolsonaro, foi substituído por Ricardo Barros (PP-PR), representante do bloco fisiológico. O movimento é uma tentativa de blindar a presidência dos pedidos de impeachment e liberar caminho para a aprovação de medidas que possam ajudar na sua popularidade.

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