_
_
_
_

Cuidar das florestas para viver delas

Ambientalistas e representantes do agronegócio se unem para levar sustentabilidade à agricultura

Mulheres trabalham na recuperação de bosques no interior de São Paulo.
Mulheres trabalham na recuperação de bosques no interior de São Paulo.Mariana Ceratti (Banco Mundial)

Em todo o mundo, entidades de conservação das florestas e representantes do agronegócio parecem dois grupos absolutamente separados e inconciliáveis. Nos últimos 25 anos, o planeta perdeu 1,3 milhão de km2 de florestas, área superior à da África do Sul, grande parte transformada em campos de cultivo.

Mais informações
O modo como cozinhamos pode esquentar o planeta
Os jovens que criam peixes para alimentar seus sonhos
A riqueza das frutas que vão para o lixo
Se você compra comida orgânica, isto é o que você precisa saber
Contra a pobreza, uma rampa para cadeiras de rodas

É possível aproveitar a riqueza das florestas e, ao mesmo tempo, promover a conservação diante da necessidade de cultivar alimentos para uma população que chegará a 9 bilhões em 2050?

Alguns passos já estão sendo dados nessa direção. A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que já une cerca de 120 participantes (entre grandes empresas, academia e ONGs) é um deles. A iniciativa brasileira se propôs a juntar ambientalistas e entidades do agronegócio à mesa para promover maneiras de conservar e recuperar as matas mesmo na agricultura de larga escala.

O biólogo Roberto Waack, um dos fundadores da Coalizão e presidente da empresa Amata (de manejo sustentável de florestas) explica que técnicas e tecnologias modernas tornam possível aliar conservação e produção. Para ele, poucos países têm condições de fazer isso melhor do que o Brasil.

“Os países que conseguirem conciliar produção de alimentos, energia e outros bens com a atividade florestal terão uma vantagem comparativa muito grande neste novo cenário que está se descortinando, de produção de matérias-primas de baixo carbono”, comentou Waack.

Agricultura de baixo carbono

A convivência entre bosques e cultivos pode ser feita de duas formas. “Uma delas é aliar a renda da produção de grãos ou pecuária com a renda vinda de uma floresta bem gerenciada. Adiciona-se ao que acontece dentro da fazenda um novo portfólio de produtos (madeira de manejo sustentável, por exemplo)”, explicou.

Existem também as agroflorestas, em que produtos como café, cacau e frutas são plantados à sombra das árvores. Isso permite obter produtos de melhor qualidade e com características mais desejáveis pelos consumidores, como sabor e concentração de princípios ativos.

Fundada em dezembro de 2014, a Coalizão passou o primeiro ano se organizando para as discussões da COP 21, em Paris, e em 2016 partirá para ações mais práticas.

As entidades participantes se dividem em grupos de trabalho sobre temas como o Código Florestal Brasileiro, economia das florestas tropicais, agricultura com baixa emissão de carbono e mecanismos de valoração de carbono, entre outros. Quando cabível, os próprios integrantes se encarregarão de implementar as atividades decididas pelos grupos.

Povos indígenas

Esta semana, no evento “Pense nas Florestas: Por que Investir em Florestas é a Grande Tendência”, do Banco Mundial, também se destacou o papel das florestas para a superação da pobreza, já que 1,3 bilhão de pessoas dependem diretamente de seus recursos. Muitas são de comunidades indígenas, consideradas essenciais para a preservação e a gestão sustentável das florestas.

A líder indígena e médica nicaraguense Myrna Kay Cunningham lembrou que, em todo o mundo, a pressão feita por ONGs e nações indígenas nas últimas décadas possibilitou aumentar em cerca de 50% a área florestal reconhecida como propriedade das comunidades.

“A América Latina e o Caribe, onde os indígenas controlam 40% das florestas, é a região com maiores avanços”, comentou ela, acrescentando que ainda há muitos obstáculos a superar. Entre eles, o fato de os povos indígenas não receberem a participação nos benefícios resultantes da exploração de recursos em seus territórios.

Para Myrna Kay, acordos (como o da COP 21) para conter o aquecimento global e programas de redução de emissões provenientes de desmatamento e degradação florestal (mais conhecidos como REDD+) ajudam o mundo a reconhecer que a segurança jurídica do território indígena é importante para evitar conflitos, reduzir o desmatamento e enfrentar as crises alimentares e climáticas. “Esses acordos precisam ser feitos de forma participativa com todos os atores, garantindo os direitos e fortalecendo processos descentralizados de gestão florestal”, enfatizou.

Trabalhar com os povos indígenas e as pequenas comunidades, por sinal, é mais uma das inovações trazidas pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura a um país em que são frequentes os conflitos entre esses grupos e o agronegócio.

“Eles são uma parte muito importante do nosso sonho. A ideia de que é possível alguém fazer o que quiser na fazenda e ignorar o que está acontecendo no entorno não deveria mais existir”, disse Roberto Waack, também participante do evento em Washington.

Mariana Kaipper Ceratti é produtora online do Banco Mundial

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_