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Nova avaliação do FMI prevê impacto mais grave da pandemia e recuperação mais lenta

Economia mundial se contrairá este ano 4,9%, de acordo com o fundo, que em abril havia estimado retração de 3%, e crescerá 5,4% em 2021, quase meio ponto a menos do que a previsão anterior

Placa de loja fechada em Arlington, Virginia (EUA), durante isolamento contra o coronavírus, em 4 de maio.
Placa de loja fechada em Arlington, Virginia (EUA), durante isolamento contra o coronavírus, em 4 de maio.OLIVIER DOULIERY (AFP)
Pablo Guimón

O impacto econômico da pandemia de coronavírus, segundo o Fundo Monetário Internacional, será ainda maior do que o prognosticado há dois meses. Em seu relatório de previsões atualizado para junho, divulgado nesta terça-feira, o fundo prevê que a economia mundial se contrairá 4,9% em 2020, o que representa 1,9 ponto a mais do que o calculado em abril. O impacto da pandemia na atividade no primeiro semestre está sendo mais negativo do que o antecipado, e a recuperação também será mais gradual: em 2021, o FMI estima que a economia global crescerá 5,4% (comparado aos 5,8 % previstos em abril), ou seja, 6,5 pontos percentuais a menos do que o estimado em janeiro, antes do choque da crise da saúde. O impacto adverso é particularmente agudo nas famílias de baixa renda, alertam os economistas do fundo, “o que põe em perigo o progresso significativo feito na redução da pobreza em todo o mundo desde os anos 90”.

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“A pandemia da covid-19 levou as economias a uma Grande Reclusão, que ajudou a conter o vírus e salvou vidas, mas também provocou a pior recessão desde a Grande Depressão”, explica Gita Gopinath, economista-chefe do FMI. “Mais de 75% dos países estão agora reabrindo ao mesmo tempo em que a pandemia se intensifica em muitos mercados emergentes e economias em desenvolvimento. Vários países começaram a se recuperar. No entanto, na ausência de uma solução médica, a força da recuperação é altamente incerta e o impacto sobre setores e países é desigual.”

À frente dos países avançados mais afetados estão Itália e Espanha, para os quais o fundo espera uma contração de 12,8% em sua economia em 2020 e um crescimento de 6,3% em 2021. A França vem logo depois, com uma queda no 12,5% este ano, e um crescimento estimado de 7,3% no final do próximo ano. Ao todo, a economia da Zona do Euro cairá 10,2% este ano e crescerá 6% no próximo. Também são esperadas quedas de dois dígitos no México (10,5%) e no Reino Unido (10,2%), mas o crescimento do primeiro em 2021 é estimado em apenas 3,3%, enquanto a previsão de recuperação da economia britânica no próximo ano é de 6,3%. A economia argentina cairá 9,9% (crescimento de 3,9% em 2021) e a economia alemã, 7,8% (com expansão de 5,4% em 2021). Enquanto isso, o PIB dos Estados Unidos cairá 8%, segundo o fundo, e crescerá 4,5% no próximo ano. E a estimativa é que a China, que vinha de uma expansão de 6,1% em 2019, cresça 1% este ano e 8,2% em 2021.

A dramática paralisação da atividade atingiu catastroficamente os empregos. Embora o FMI exalte o fato de alguns países, sobretudo na Europa, terem contido os efeitos adversos adotando soluções eficazes de curto prazo, a Organização Internacional do Trabalho calcula que o declínio nas horas de trabalho do quarto trimestre de 2019 ao primeiro trimestre de 2020 seja equivalente à perda de 130 milhões de empregos de período integral. O impacto foi maior em trabalhadores pouco qualificados e também entre as mulheres.

Como em abril, o FMI alerta novamente para a incerteza “maior que o normal” nestas previsões. A projeção pressupõe que as medidas de distanciamento social persistirão durante a segunda metade do ano em economias com taxas de infecção decrescentes e que o fechamento será mais longo nas economias que ainda lutam para controlar o vírus. Mas há outro fator de incerteza, de natureza financeira. O prognóstico pressupõe que as condições financeiras continuarão, de modo geral, nos níveis atuais, mas o fundo adverte: “A extensão da recente recuperação no sentimento nos mercados financeiros parece desconectada dos movimentos nas perspectivas econômicas subjacentes, aumentando a possibilidade de que as condições financeiras se estreitem mais do que o assumido em nosso modelo-base”.

A economista-chefa do FMI, Gita Gopinath, em uma imagem de arquivo.
A economista-chefa do FMI, Gita Gopinath, em uma imagem de arquivo.OLIVIER DOULIERY (AFP)

Em meio a essa incerteza, alerta Gopinath, também existem fatores que podem melhorar as previsões. "Melhores notícias sobre vacinas e tratamentos e apoio adicional a políticas públicas poderão levar a uma retomada mais rápida das atividades", explica a economista indiana.

Gopinath comemora que “a recuperação esteja se beneficiando de um apoio excepcional das políticas públicas, particularmente nas economias avançadas”, menos limitadas do ponto de vista fiscal. “O apoio fiscal mundial agora chega a mais de 10 trilhões de dólares (53 trilhões de reais), e a política monetária foi dramaticamente aliviada por cortes nas taxas de juros, injeções de liquidez e compra de ativos”, argumenta a economista. “Em muitos países, essas medidas apoiaram com sucesso as famílias e impediram falências em larga escala, ajudando assim a reduzir as cicatrizes duradouras e contribuindo para a recuperação.”

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