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Extorsão a 14 enfermeiros na Cidade do México agrava a violência contra profissionais da saúde

Trabalhadores sanitários, a maioria do norte do país, passaram quase 20 horas sob ‘sequestro virtual’ em dois hotéis do centro da capital

Jacobo García
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), a Cruz Vermelha Mexicana (CRM) e o Instituto Mexicano de Seguridade Social (IMSS) ratificaram nesta terça-feira seu pedido de proteção ao pessoal de saúde após dezenas de ataques.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), a Cruz Vermelha Mexicana (CRM) e o Instituto Mexicano de Seguridade Social (IMSS) ratificaram nesta terça-feira seu pedido de proteção ao pessoal de saúde após dezenas de ataques.Jorge Núñez (EFE)

Eles chegaram à Cidade do México para ajudar durante a pandemia e acabaram voltando às lágrimas para o Estado de Nuevo León, no norte do país. A polícia antissequestro da capital e agentes da Guarda Civil resgataram na noite da terça-feira 14 enfermeiros do Instituto Mexicano de Seguridade Social (IMSS) que, recém-chegados de Monterrey, sofreram um sequestro virtual em dois hotéis de Tacubaya, um bairro popular no centro da Cidade do México. Esta modalidade de crime consiste em fazer a vítima acreditar que está em perigo e que deve seguir instruções recebidas por telefone. O pânico e o equívoco se encarregam do resto. Este é um novo exemplo das violências impostas no México a profissionais da saúde, que têm sido alvo de agressões verbais e físicas em alguns Estados desde o início da pandemia.

Os hotéis Ambos Mundos, na avenida Revolución, e o Bonn, a pouco mais de um quilômetro de lá, eram exemplos de solidariedade depois de um acordo entre as autoridades e os hoteleiros para que hospedem gratuitamente os profissionais deslocados para colaborar na emergência sanitária, que golpeia com dureza a capital, onde já foram registrados mais de 15.200 contágios e 1.209 mortes pela covid-19.

As primeiras investigações indicam que os telefonemas aos enfermeiros exigindo um resgate provinham de alguma penitenciária mexicana, confirmou Omar Cruz, porta-voz da Procuradoria da Cidade do México, ao EL PAÍS. Ele acrescentou que “se trata de um crime de extorsão, e não de sequestro”. Segundo o Ministério Público, os delinquentes, que se identificaram como membros do cartel União Tepito, uma das principais quadrilhas da capital, exigiram 300.000 pesos (73.700 reais) pela libertação do grupo, segundo o jornal El Universal.

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O IMSS informou na manhã desta quarta-feira que essas ameaças, sempre feitas através de chamadas de voz ou de vídeo, visavam a amedrontar os profissionais da saúde. "Os delinquentes lhes diziam que tinham o controle das câmeras do hotel onde se hospedavam e que se saíssem à rua atentariam contra suas vidas”, informou o instituto em um comunicado no qual qualifica o ocorrido como um sequestro virtual. Com a chegada dos agentes aos dois hotéis do bairro de Tacubaya, os 14 enfermeiros foram liberados sem violência e em bom estado de saúde. Ninguém foi detido.

“É lamentável, porque vínhamos com muita vontade de ajudar (...), e a maioria de nós retornaremos a Monterrey. Fico muito triste de ir embora sem poder fazer o que devíamos fazer”, disse à imprensa local, entre lágrimas, uma enfermeira que se identificou como Vianey, que passou 20 horas trancada no seu quarto, dominada pelo medo. Com déficit de pessoal, o IMSS havia feito um chamado público ao pessoal sanitário do país para poder aumentar o número de médicos e enfermeiros que enfrentam a pandemia. Isto levou muitos profissionais a se deslocarem de um Estado para outro. Alguns dos enfermeiros vítimas do sequestro virtual haviam começado dias antes a atender pacientes com coronavírus nos hospitais de campanha montados pelas autoridades locais, como o improvisado no Autódromo Hermanos Rodríguez, sede do Grande Prêmio de Fórmula 1.

Na manhã desta quarta-feira, os hotéis continuavam abertos, mas sem hóspedes. Na recepção, um funcionário do Ambos Mundos disse não poder dar nenhuma informação sobre o caso. A imprensa local afirma que funcionários dos hotéis são investigados como possíveis cúmplices da chantagem.

O sequestro virtual é uma modalidade de extorsão que consiste em fazer a vítima acreditar que se encontra em perigo e que deve seguir as instruções que lhe são passadas por telefone. As quadrilhas dedicadas a esse negócio utilizam essa espécie de jogo mental em que a sugestão da vítima faz o resto. Os chantagistas tentam manter a vítima na linha o maior tempo possível. Costumam pedir que se feche em casa ― ou, neste caso, no hotel ― e não fale com ninguém. No caso dos enfermeiros, os sequestradores disseram controlar as câmeras dos hotéis.

Durante esse intervalo contatam a família e exigem um resgate. Em geral não são grandes quantias de dinheiro, e pressionam para que a transação ocorra o antes possível, para que a fraude não possa ser descoberta. Por isso é importante para eles que o extorquido continue do outro lado da linha, pois assim não saberá que, simplesmente desligando o telefone, a mentira ficaria exposta.

Isabel Miranda de Wallace, presidenta da associação Alto al Secuestro, disse que esse “é um modus operandi muito na moda e, como não há violência na ação, a polícia não se preocupa muito. É difícil de investigar, a vítima não vê ninguém. Vá rastrear telefones com todos os casos que há aqui. Acabam arquivados”, disse Miranda ao EL PAÍS. Em 2013, a banda espanhola Delorean denunciou uma extorsão similar.

A expansão da pandemia no México obrigou o país a mobilizar e recrutar pessoal médico para reforçar o atendimento sanitário na capital, epicentro da pandemia. Nesta terça-feira, o México contabilizou 334 novas mortes pela covid-19, chegando a um total de 5.666, com 55.000 contágios detectados, sendo 2.713 só na terça-feira. A Cidade do México, o Estado do México e a Baixa Califórnia são as três unidades federativas que transbordaram o topo da escala, que é de 3.000 casos. Em dois terços dos Estados mexicanos, o número de casos confirmados não chega a 500, segundo as autoridades.

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