Bolsa em baixa mostra anticlímax para Bolsonaro, que aguarda as reações no mundo político
Entre aliados do presidente, manifestações em Brasília e São Paulo não entregaram o que ele desejava e discursos foram apenas para os já convertidos
O clima político no dia depois aos atos a favor do presidente Jair Bolsonaro não é dos mais festivos para ele. Um termômetro desse clima pode ser medido na Bolsa de Valores (B3) de São Paulo. A bolsa abriu em queda e por volta do meio dia operava em baixa de 2,60% —acabou fechando em queda de 3,78%, com o dólar subindo a 5,326 reais, em alta de 2,89%. A percepção em Brasília é que Bolsonaro falou apenas para seus convertidos. Assim, o dia 8 de setembro será como o dia 6: a inflação seguirá subindo, o gás e a gasolina se manterão com o preço nas alturas, o desemprego ainda ficará em torno de 14% e a crise energética sem perspectiva de terminar. Com um elemento extra no ar. O Congresso tem agora que incluir os cálculos para uma pauta que começa a crescer: a possibilidade do impeachment.
O anúncio do presidente de que não se submeteria a ordens do Supremo foi uma bomba para si mesmo. Se esse descumprimento ocorrer, de fato, estaria aí configurado mais um crime de responsabilidade do presidente, conforme previsto no artigo 85 da Constituição Federal. “São crimes de responsabilidade os atos do Presidente que atentem contra: (...) II o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do MP e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação / (...) VII o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Por ora, Bolsonaro se limitou a partilhar foto da manifestação deste dia 7, em loas ao evento. Mas, dois parlamentares com acesso ao Planalto disseram que o ato foi considerado pelo próprio Bolsonaro um anticlímax. O discurso também não motivou a militância. “A situação é muito difícil de se reverter. Esse era o tudo ou nada do nosso presidente. Mas só vieram ameaças que não vão dar em nada. Será sorte se ele conseguir se garantir no segundo turno de 2022 com tantas crises para resolver”, disse um dos congressistas sob a condição de não ter o seu nome publicado.
E as instituições costumeiramente atacadas pelo bolsonarismo, como ficam a partir de agora? Estarão funcionando como antes, conforme relatos de alguns de seus representantes colhidos pelo EL PAÍS. O STF e o Tribunal Superior Eleitoral não pretendem retroceder nos processos que fustigam Bolsonaro e sua claque, que tem espalhado desinformação e feito até ameaças de morte contra autoridades. Espera-se que o presidente da Corte, Luiz Fux, envie alguns recados ao presidente na abertura da sessão na tarde desta segunda.
O Senado cancelou sessões nesta quarta e quinta-feira. A medida gerou estranheza, mas foi vista como um reflexo da crise fomentada pelo presidente e seu discurso de afronta ao Judiciário. No mais, seguirá com sua pauta econômica, com a CPI da Pandemia e ainda indica que deve devolver a medida provisória assinada pelo presidente que trata do marco civil na internet —alteração essa que tinha como objetivo alimentar a militância extremista nas redes sociais ao dificultar a remoção de conteúdos falaciosos publicados na internet. A incógnita poderia vir da Câmara. A CPI cogita, inclusive, convocar a ex-mulher do presidente Ana Cristina Valle para falar da sua relação com o lobista Marconny Faria, que atuou pela Precisa Medicamentos.
O discurso radicalizado de Bolsonaro impactou um dos partidos do Centrão, o PSD, presidido pelo ex-ministro Gilberto Kassab, que já sinalizou que pode aderir a um pedido de impeachment que está sendo articulado pelo PSDB. O PSD tem 34 dos 513 deputados e ocupa o Ministério das Comunicações.
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Clique aquiAlém desse potencial desembarque, outro sinal que chama atenção é que, a interlocutores, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se disse assustado com a fala do presidente na Paulista, quando ele prometeu que não cumpriria qualquer decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes, e voltou defender o voto impresso. Bolsonaro havia se comprometido com o deputado a não mais debater o assunto publicamente.
Na manhã de terça, quando discursou em Brasília, Bolsonaro sinalizou que reuniria o Conselho da República, órgão de aconselhamento da Presidência que trata de temas como a intervenção federal, o estado de sítio ou o estado de defesa. Entre a mesma cúpula política, o ato foi visto como mais uma bravata aos seus militantes. Seis dos treze membros desse conselho relataram ao EL PAÍS que não receberam os convites para o encontro. São eles: o presidente da Câmara, o presidente do Senado, os líderes da Maioria e da Minoria da Câmara e do Senado. Outros quatro membros, que são indicados pelas duas casas do Congresso, nem foram nomeados e havia uma articulação para que fossem nomeados dois opositores de Bolsonaro, os senadores Randolfe Rodrigues (REDE-AP) e Omar Aziz (PSD-AM), além de outros dois deputados. Só estariam, então, na reunião, o próprio presidente, o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro da Justiça, Anderson Torres.
“O Conselho é um órgão de assessoramento da Presidência da República. Bolsonaro pode ou não seguir suas orientações. A minha seria: renuncie, presidente”, disse o líder da minoria no Senado, Jean Paul Prates (PT-RN), que tem assento no colegiado. A depender desse dia 7 de Setembro, a “nova independência do Brasil” não passou de uma gritaria de radicais.
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