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Bolsonaro perde tração a pouco mais de um ano da disputa pela reeleição

Pesquisas reforçam tendência de queda de popularidade do presidente em semana de desgaste pelo caso Covaxin e de vitórias de Lula, seu maior desafiante em 2022. Mandatário reage com nova ‘motociata’

O presidente Jair Boisonaro lidera 'motociata' de apoiadores em Chapecó, Santa Catarina, neste sábado.
O presidente Jair Boisonaro lidera 'motociata' de apoiadores em Chapecó, Santa Catarina, neste sábado.Isac Nóbrega/PR
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Employee of the Ministry of Health, Luis Ricardo Fernandes Miranda and Brazilian Federal Deputy Luis Miranda attend a meeting of the Parliamentary Inquiry Committee (CPI) to investigate government actions and management during the coronavirus disease (COVID-19) pandemic, at the Federal Senate in Brasilia, Brazil June 25, 2021. REUTERS/Adriano Machado
Na CPI, deputado arrasta líder do Governo Bolsonaro para o escândalo da Covaxin
Employee of the Ministry of Health, Luis Ricardo Fernandes Miranda, Brazilian Federal Deputy  Luis Miranda and senator Omar Aziz attend a meeting of the Parliamentary Inquiry Committee (CPI) to investigate government actions and management during the coronavirus disease (COVID-19) pandemic, at the Federal Senate in Brasilia, Brazil June 25, 2021. REUTERS/Adriano Machado
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Gilmar Mendes, do STF, leva à estaca zero todos os processos contra Lula na Lava Jato em que Moro atuou

A eleição de outubro de 2022 ainda está distante. O cenário político pode e deve mudar muito até o início das campanhas, mas, há pouco mais de um ano do pleito, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vê seu capital político derreter à medida que o país conta mortes pela pandemia do novo coronavírus. Duas pesquisas do instituto IPEC, formado pelo grupo do extinto Ibope Inteligência, divulgadas nesta semana consolidaram um processo de desgaste do mandatário que vem sendo registrado desde janeiro, quando o pagamento do auxílio emergencial foi interrompido. A retomada dos pagamentos, em abril, amorteceu a queda de popularidade de Bolsonaro, mas ele só vê crescer a sombra do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu maior desafiante. Sua reação, neste sábado, após mais um dia de muito desgaste para o Governo na CPI da Pandemia, veio com uma nova motociata de apoiadores, desta vez em Santa Catarina.

A corrosão política de Bolsonaro parece acompanhar em proporção o fortalecimento da alternativa Lula para 2022. Na pesquisa divulgada nesta sexta-feira, em que considera cinco candidatos à presidência (além dos dois protagonistas, foram testados o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, o governador de São Paulo, João Doria, e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta), o IPEC indica que o petista poderia ganhar a eleição já no primeiro turno, com 49% das intenções de voto. Bolsonaro aparece apenas com 23%. O Datafolha havia apontado os mesmos 23% para Bolsonaro em maio, enquanto Lula teria 41% das intenções de voto. “Bolsonaro foi eleito com a esperança da mudança e hoje se encontra no seu pior patamar de avaliação, reflexo da atuação do Governo no enfrentamento dos vários problemas pelos quais o país passa”, analisa Márcia Cavallari, diretora-executiva do IPEC, em artigo publicado junto com a pesquisa, no jornal O Estado de S. Paulo.

Alvo de duas expressivas manifestações de rua nas últimas semanas, Bolsonaro se machuca agora pelas suspeitas de irregularidades na compra da vacina Covaxin, enquanto segue tratando a pandemia de forma frouxa em público. Na quinta-feira, tirou a máscara do rosto de uma criança durante agenda no Rio Grande do Norte. Neste sábado, mais uma vez provocou aglomeração na esperança de demonstrar força política, com a quarta motociata do ano, que reuniu apoiadores pelas rodovias de Santa Catarina. As manifestações de apoio rendem boas imagens para o presidente, mas o fato é que atualmente 49% dos brasileiros consideram a sua gestão ruim ou péssima e 66% desaprovam sua forma de governar, segundo o IPEC. Em fevereiro, os números eram 39% e 58%, respectivamente. Uma outra pesquisa divulgada recentemente, pelo PoderData, sugere que é direta a relação entre a popularidade de Bolsonaro e os números de mortes por covid-19 no Brasil ―quanto mais óbitos, pior sua avaliação. O mesmo instituto indicou nesta sexta que 52% dos brasileiros avaliam negativamente o trabalho de Bolsonaro no combate à pandemia, considerado bom ou ótimo por apenas 25% do país, e regular por 20%.

O presidente Jair Bolsonaro leva o prefeito de Chapecó, João Rodrigues, na garupa da moto durante a 'motociata' deste sábado, 26 de junho, pelas ruas de Santa Catarina.
O presidente Jair Bolsonaro leva o prefeito de Chapecó, João Rodrigues, na garupa da moto durante a 'motociata' deste sábado, 26 de junho, pelas ruas de Santa Catarina.Isac Nóbrega/PR

Os problemas do presidente se agravaram depois do retorno do ex-presidente Lula à arena política. Desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) começou, em março, a anular os processos da Lava Jato que levaram o petista à cadeia, a pressão sobre o presidente só aumenta. Bolsonaro passou a aparecer usando máscara em público depois de Lula discursar em São Bernardo do Campo ―nas últimas aparições públicas, como neste sábado, já retomou o hábito de não se proteger. Na quinta-feira, o ministro Gilmar Mendes anulou todos os processos contra Lula conduzidos pelo ex-juiz Sergio Moro, ao estender o efeito de decisão tomada pelo plenário do STF no caso do tríplex do Guarujá. A maioria dos ministros considerou Moro suspeito para julgar o ex-presidente. Enquanto o horizonte do pleiteante à reeleição se enche de nuvens, seu desafiante enxerga o céu se abrir a sua frente.

Confrontado com o crescimento do petista nas pesquisas, Bolsonaro se agarra ao voto impresso. “Eu não acredito em pesquisa eleitoral. Em 2018, o Datafolha disse que eu não iria para o segundo turno e que, se eu fosse, não ganharia de ninguém. Por isso que nós queremos o voto auditável”, disse o presidente nesta sexta-feira, durante agenda pública em Sorocaba (SP). Horas depois, já em Chapecó para o passeio de moto deste sábado, o presidente se defendeu dos ataques recebidos na CPI da Pandemia, em cuja sessão os irmãos Luis Miranda, deputado, e Luis Ricardo, servidor do Ministério da Saúde, implicaram o líder do Governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), no caso Covaxin. “Estão inventando agora na CPI uma corrupção virtual. Uma vacina que não foi comprada, não chegou uma ampola aqui, não foi gasto um real. E o Governo está envolvido em corrupção. É o desespero. Por Deus que está no céu, me policio o tempo todo. Só Deus me tira daqui. Tapetão por tapetão sou mais o meu”, disse o presidente a uma plateia de empresários, sem explicar o que quis dizer com “tapetão”.

Neste sábado, diante dos apoiadores, Bolsonaro voltou a disparar contra a comissão. “Temos uma CPI de sete pilantras, que não querem investigar quem recebeu dinheiro, só apenas quem mandou o dinheiro. Lamentavelmente o Supremo [Tribunal Federal] decidiu pela CPI. E decidiu também que governadores estão desobrigados de comparecer à mesma. Querem apurar o quê?”, questionou, repetindo que “no tapetão não vão levar”. Durante seu pronunciamento, o presidente voltou a mencionar o “voto auditável”, para prevenir fraudes, que, segundo ele, “deve acontecer, com certeza, a cada eleição”.

A retórica do voto impresso e os passeios de moto servem para manter a militância mobilizada, mas não neutralizam o impacto negativo dos protestos contra seu Governo ou das pesquisas que, uma após a outra, constatam a desidratação política progressiva do presidente. Negar os indícios de seu enfraquecimento político não deve ajudar Bolsonaro a reverter a tendência de queda em sua popularidade. A pesquisa IPEC mostrou um crescimento de 11 pontos percentuais no potencial de voto de Lula nos últimos quatro meses, e um recuo de oito pontos percentuais em sua rejeição. Já o presidente perdeu cinco pontos percentuais em potencial de voto e avançou seis na rejeição no mesmo período. Para recuperar o terreno perdido, Bolsonaro depende não apenas da melhora dos dados da pandemia de coronavírus no país, ligada diretamente à vacinação, mas da recuperação da economia nacional.

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O Governo apresentou nesta sexta-feira ao Congresso a segunda das quatro etapas da reforma tributária, fatiada para tentar facilitar sua tramitação. Na semana passada, o Planalto também conseguiu destravar, enfim, o processo de privatização da Eletrobras. O Banco Central prevê um crescimento de 4,6% da economia brasileira neste ano, enquanto o mercado financeiro espera 5%. A recuperação deve beneficiar o presidente eleitoralmente, e lhe garantirá um discurso em meio a tantas críticas pelo contestado enfrentamento da pandemia. Mas a alta da inflação (em 8,03%, bem acima do teto da meta, de 5,2%) e os índices de desemprego (14,7%) ameaçam conter o otimismo.

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