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Espanha pede a Bolsonaro compromissos contra o desmatamento para desbloquear o acordo UE-Mercosul

Ministra das Relações Exteriores se reúne com presidente durante visita oficial. Questão ambiental é um dos principais entraves para a ratificação

La ministra de Exteriores, Arancha González Laya, junto al presidente de Brasil, Jair Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro e a ministra das Relações Exteriores da Espanha, Arancha González Laya, nesta sexta.MINISTERIO DE EXTERIORES (Europa Press)
Naiara Galarraga Gortázar
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Spanish Primer Minister Pedro Sanchez is welcomed by European Commission President Ursula Von Der Leyen ahead of a meeting, in Brussels, Belgium September 23, 2020. Olivier Hoslet/Pool via REUTERS
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HANDOUT - 22 April 2021, Brazil, Brasilia: Brazilian President Jair Bolsonaro (2n L) attends the virtual Leaders Summit on Climate, called on by US President Joe Biden. Photo: Marcos Correa/Palácio do Planalto/dpa - ATTENTION: editorial use only and only if the credit mentioned above is referenced in full
Marcos Correa/Palácio do Planal / DPA
22/04/2021 ONLY FOR USE IN SPAIN
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MANAUS, BRAZIL JUNE 4: An overview of the dense canopy and deforestation in the Amazon rainforest on June 4, 2008 outside Manaus, Brazil. The Amazon represents half of the planets rainforests and clearing of the forest destroys forever the fragile equilibrium of water, mineral and organic matter. (Photo by Per-Anders Pettersson/Getty Images)
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O presidente Jair Bolsonaro recebeu na quinta-feira em Brasília a ministra das Relações Exteriores da Espanha, Arancha González Laya, durante cerca de quarenta minutos. Entre os assuntos abordados estiveram o meio ambiente e o acordo comercial UE-Mercosul. A chanceler afirmou nesta sexta-feira em declarações feitas à imprensa ao lado de seu homólogo brasileiro, Carlos França, que a Espanha é a favor da inclusão de um protocolo adicional no pacto que “contemple compromissos em matéria de desmatamento”. A Espanha acredita que essas garantias desbloquearão a ratificação do maior acordo comercial assinado pela UE, que enfrenta forte resistência da Áustria e da França.

A ratificação do acordo UE-Mercosul, concluído há dois anos depois de duas décadas de negociação, é uma prioridade para o Governo espanhol. O presidente Pedro Sánchez acaba de instar, por carta, a Comissão Europeia a destravar a questão. Também existem obstáculos dentro do Mercosul. Entre eles, o mais importante é provavelmente o desmatamento na Amazônia, que no último ano bateu o recorde dos últimos 12 anos e que, segundo os indícios, continua aumentando. A política ambiental de Bolsonaro suscita duras críticas internacionais entre as ONGs, mas também entre os parlamentares europeus.

González Laya destacou que o acordo UE-Mercosul tem o melhor capítulo de sustentabilidade entre os assinados pela UE. Mas “o capítulo de sustentabilidade não é suficiente. Precisamos aperfeiçoar esse acordo, criando um protocolo adicional, um compromisso recíproco do Mercosul e da UE com o Acordo de Paris (...) e compromissos em matéria de desmatamento”, insistiu González Laya. “Precisamos aperfeiçoar o acordo para avançar no processo de ratificação”, acrescentou em declarações feitas à imprensa sem perguntas dos repórteres.

A ministra quis saber em primeira mão a posição do Brasil e de outros parceiros do Mercosul. “Todos os países da UE querem compromissos mais claros na luta contra o desmatamento”, declarou depois a ministra a este jornal. “Temos a oportunidade de demonstrar que um acordo comercial pode servir para objetivos de sustentabilidade”. Esse protocolo adicional deveria contemplar, em sua opinião, “compromissos concretos, mecanismos de verificação e de financiamento”, um assunto que, enfatiza, compete à UE negociar e não à Espanha.

Bolsonaro emitiu recentemente sinais contraditórios em relação ao meio ambiente. Na recente cúpula organizada pelo presidente dos EUA, Joe Biden, reiterou a promessa de acabar com o desmatamento até 2030, prometeu atingir a neutralidade de carbono até 2050 e prometeu um reforço da fiscalização, mas no dia seguinte confirmou uma redução de 24% no orçamento da pasta.

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A chanceler inseriu esta viagem oficial na relação estratégica entre a Espanha e o Brasil, um país no qual muitas empresas espanholas estão estabelecidas e onde é o segundo país com maior estoque de investimentos, cerca de 80 bilhões de dólares (cerca de 419 bilhões de reais). A Espanha também é o oitavo destino das exportações brasileiras. González Laya, que na véspera se reuniu com diretores de empresas espanholas implantadas no gigante sul-americano, garantiu que elas “continuarão investindo no Brasil”. O Programa de Parcerias de Investimento do Brasil, o maior do mundo em infraestrutura, no valor de 70 bilhões de euros, é considerado uma oportunidade para as empresas espanholas.

Para dar continuidade às relações bilaterais, os ministros assinaram um memorando (MOU) que criará um mecanismo permanente de consultas e facilitará os contatos periódicos, em linha com a comissão binacional que já existe entre Espanha e México, segundo fontes diplomáticas espanholas, informa de Madri Miguel González.

A ministra se reuniu com o ministro da Economia, Paulo Guedes, na tarde desta quinta-feira antes de seguir para o Paraguai, segunda parada da viagem oficial. “Ele me transmitiu um compromisso muito claro de manter um ritmo de privatizações e de abertura da economia brasileira”, disse a ministra depois da reunião. González Laya insiste que a aposta de longo prazo das empresas espanholas no Brasil é sólida.

Em seu afã de promover uma política externa feminista, a ministra se reuniu durante a visita ao Brasil com empresárias, ativistas, políticas e parlamentares “em busca de promover o empoderamento de mulheres e meninas”, explicou. Entre as convidadas, as deputadas Tabata Amaral, Joênia Wapichana, Celina Leão e Paula Belmonte, uma procuradora, uma delegada de polícia e ativistas afro-brasileiras.

“Mulheres de todas as origens políticas, das mais à direita até as mais à esquerda, disseram-me que há um longo caminho a percorrer e nos pediram apoio” para enfrentar questões como a violência contra as mulheres, a violência política contra as mulheres. A ideia é que a Espanha compartilhe com elas os mecanismos que o Judiciário, os partidos e outras instituições encontraram para garantir uma maior presença da mulher.

Esta viagem de dois dias a Brasília é a primeira de um membro do Governo espanhol ao gigante sul-americano desde a que foi feita em 2017 pelo então presidente do Governo (primeiro-ministro) Mariano Rajoy.

A reunião entre a ministra e o presidente Bolsonaro foi realizada no Palácio do Planalto. Nas fotos divulgadas, todos os presentes estão distantes e sem máscaras.

A recepção a González Laya contrasta com a dispensada pelo presidente brasileiro ao ministro das Relações Exteriores francês, que Bolsonaro deixou de receber para ir ao barbeiro, chegando a divulgar um vídeo nas redes sociais cortando o cabelo.

A chegada de Bolsonaro ao poder resultou no crescente isolamento internacional de seu país. Abandonou a tradicional equidistância do Brasil em política externa para se aliar aos EUA de Donald Trump. Sua derrota em novembro o deixou sem seu aliado mais valioso. Nestes dois anos, o mandatário brasileiro foi anfitrião de uma cúpula dos BRICS, que teve a presença de Xi Jinping, Vladimir Putin, Narendra Modi e Cyril Ramaphosa, e recebeu em Brasília os presidentes dos vizinhos Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai.

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