Bolsonaro mandou quatro espiões à Cúpula do Clima em Madri para vigiar ONGs
Críticas à política ambiental e seus efeitos econômicos preocupam o Governo brasileiro, que insiste em propor medidas polêmicas
A delegação enviada pelo Governo de Jair Bolsonaro à Cop25, a cúpula do clima realizada em Madri em dezembro, incluiu pelo menos quatro membros do serviço secreto brasileiro, segundo revelou o jornal O Estado de S. Paulo. Durante o encontro, os espiões vigiaram as ONGs, objeto constante de ataques do presidente, representantes brasileiros e de delegações estrangeiras. A política ambiental é o grande calcanhar de Aquiles da diplomacia brasileira desde que Bolsonaro é presidente. Isso não só leva a críticas, mas também a perdas financeiras.
A desconfiança de Bolsonaro em relação às ONGs vem de longa data. Ele as acusou reiteradamente em falso de fazerem parte dos problemas ecológicos da Amazônia, inclusive de promover as queimadas na maior floresta tropical do mundo. Mas o Governo também suspeita das atividades que a Igreja Católica desenvolve na Amazônia. Meses antes da cúpula na Espanha, o Governo mobilizou o serviço secreto para vigiar as reuniões promovidas pela Conferência Episcopal para preparar o sínodo sobre a Amazônia. Aos olhos do presidente Bolsonaro, a hierarquia católica do Brasil, grande defensora dos indígenas, está muito à esquerda.
O Governo brasileiro está preocupado com a imagem de vilão ambiental porque isso também tem efeitos econômicos. Bolsonaro não quer que o assunto arruíne a ratificação do acordo Mercosul-União Europeia. Outras consequências, no entanto, já são perceptíveis, como admitiu o presidente do Banco Central na terça-feira ao explicar que os investimentos não estão voltando ao Brasil com a mesma velocidade de outras economias emergentes por conta “dessa percepção em relação a tudo o que é uma agenda de sustentabilidade, hoje tão difundida em outros países”, disse Roberto Campos Neto à CNN Brasil.
Cerca de trinta grandes fundos internacionais que administram quase quatro trilhões de dólares (cerca de 22,22 trilhões de reais) manifestaram por carta em junho às autoridades brasileiras sua preocupação com a política ambiental. O desmatamento se acelerou e as queimadas aumentam enquanto os órgãos de fiscalização foram enfraquecidos com Bolsonaro à frente do Executivo.
Para além de ter mobilizado centenas de militares nos últimos meses para combater as queimadas na Amazônia, sua política em relação ao meio ambiente continua rodeada de polêmica. Nesta mesma terça-feira o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defendeu o aumento de cabeças de gado no Pantanal para que comam o mato que serve de combustível e agrava as queimadas. Esse rico ecossistema, localizado no sudeste da Amazônia, é a maior área úmida do mundo e perdeu um quarto de sua flora nas queimadas deste ano, as piores desde que existem registros.
O aumento das queimadas na Amazônia e, nesta temporada, principalmente no Pantanal, preocupa no exterior por seus efeitos sobre a mudança climática, questão que até a pandemia ocupava o primeiro lugar na agenda política europeia.
A cúpula do clima realizada em Madri depois da desistência de Brasil e Chile em sediá-la, foi o primeiro grande encontro ambiental internacional de que o Brasil participou depois das destrutiva queimadas do verão de 2019, que abriram uma notável crise diplomática com a França, entre outros países.
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