Epicentro do coronavírus tem 242 mortes e 15.000 infectados em um dia após mudança no diagnóstico
Salto em números de Hubei, província chinesa foco da epidemia, ocorre depois que autoridades passaram a considerar exame clínico, e não só teste de laboratório, como forma de detectar doença
Após uma mudança de critério no diagnóstico do coronavírus (Covid-19), a província de Hubei, foco da epidemia, registrou o maior salto no número de afetados e mortos em um só dia desde o começo da crise, há dois meses. Nesta quinta-feira, as autoridades provinciais notificaram 14.840 novos casos de infecção, quase 10 vezes mais do que na véspera, e 242 mortes, mais que o dobro da quarta-feira. A soma total de mortos no continente ao longo do dia chegou a 254, segundo a agência Reuters.
Até a mudança na metodologia, só eram contados como contagiados os indivíduos que dessem positivo em um exame de ácido nucleico. Mas esse teste é demorado e faltam equipamentos e laboratórios para realizá-lo em todos os casos suspeitos, por isso agora é permitido que os médicos incluam também pacientes que apresentarem sinais de pneumonia em exames por tomografia.
O número de infectados na China já supera os 60.000, dos quais 1.363 morreram e outros 8.204 se encontram em estado grave. Os casos suspeitos são 16.067, e 5.910 pacientes já se recuperaram após desenvolver doenças associadas ao coronavírus.
Hubei reúne a grande maioria dos casos, com 48.206 infectados e 1.310 mortos. Wuhan, sua capital e lugar onde a epidemia surgiu, registrou a maioria das novas infecções notificadas nesta quinta-feira, 13.436.
A crise com a epidemia desatou importantes intervenções de Pequim entre os dirigentes locais de Hubei. Em um texto breve, a agência estatal de notícias Xinhua noticiou a substituição do principal líder de Hubei, o secretário-geral do Partido Comunista na província, Jiang Chaoliang, pelo até agora prefeito de Xangai, Ying Yong.
Também foi substituído Ma Guoqiang, secretário-geral do Partido em Wuhan. No seu lugar assumirá Wang Zhonglin, que até agora dirigia o Partido na cidade de Jinan, na província costeira de Shandong.
Os dois novos dirigentes à frente do Hubei e Wuhan são homens da completa confiança do presidente Xi Jinping. Também compartilham um amplo currículo em cargos relacionados à segurança interna, num indício da preocupação de Pequim com o possível impacto da epidemia sobre a estabilidade social na província e na China como um todo. Wang Zhonglin integrou durante duas décadas o Ministério de Segurança Pública, a polícia chinesa; Ying Yong foi um colaborador muito próximo de Xi durante os tempos do presidente como governador da província de Zhejiang.
O afastamento desses altos funcionários de Hubei já era tido como certo, pois Pequim havia deixado claro por diferentes vias o seu descontentamento com a evolução da crise na província. Na segunda-feira, o próprio Xi pediu medidas mais firmes a Wuhan, durante uma visita a um hospital e um centro comunitário para atender os infectados em Pequim.
Xi comandou nesta quarta-feira uma reunião do Comitê Permanente do Politburo do PC chinês, o máximo órgão de direção no país, para discutir a crise, e foi lá que supostamente se selaram as substituições. Foi a terceira reunião do Comitê Permanente em três semanas, algo extraordinário, pois em circunstâncias normais esse órgão só se reúne uma vez por ano, aproximadamente.
No sábado já havia sido anunciada a nomeação de Chen Yixi, outro colaborador de Xi Jinping, como parte do comitê de coordenação da luta contra a epidemia em Hubei. Nesta semana também foram divulgados os afastamentos dos responsáveis pela área de Saúde em Wuhan e na província.
Os hospitais de Hubei estão superlotados e carecem de suficientes máscaras e demais materiais de proteção, tanques de oxigênio e máquinas de ventilação, entre outros suprimentos, e continuam pedindo doações.
O Covid-19, termo que abrange as doenças provocadas pelo coronavírus 2019-nCoV, apresenta sintomas como febre alta, tosse seca, dor de cabeça e dificuldade para respirar. Seu período de incubação médio é de três a sete dias, com um máximo de 14, embora alguns cientistas chineses relatem que esse prazo poderia chegar a 24 dias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência sanitária internacional devido à epidemia.
Estrangeiros em quarentena
As autoridades vietnamitas puseram de quarentena nesta quinta-feira uma localidade de 10.000 habitantes a 40 quilômetros de Hanói, onde se concentram 7 dos 16 casos do coronavírus detectados no país. O isolamento da comarca de Son Loi, uma zona com várias aldeias de camponeses na província de Vin Phuc, é o primeiro desse tipo fora da China e terá duração de 20 dias, segundo o site do Ministério da Saúde. Sete dos contagiados em todo o país já tiveram alta —o último deles é um cidadão chinês de 66 anos, diabético, com problemas cardiovasculares e operado há dois anos de câncer no pulmão.
Já os espanhóis repatriados da cidade chinesa de Wuhan receberam alta nesta quinta-feira, após passarem duas semanas de quarentena no Hospital Gómez Ulla, em Madri, onde o diretor do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências, Fernando Simón, dará detalhes da situação na Espanha. São 21 pessoas, entre as quais está o enviado do EL PAÍS a Wuhan, Jaime Santirso, que relatou em reportagens o cotidiano no epicentro do surto.
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