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China aperta cerco contra o coronavírus, e moradores de Wuhan reclamam de perseguição

Governo procura quem deixou a cidade que é epicentro da doença antes da quarentena, enquanto Hong Kong e Macau limitam a entrada de cidadãos vindos da região

Policial mede a temperatura de motorista em Wuhan, epicentro do surto do coronavírus na China.
Policial mede a temperatura de motorista em Wuhan, epicentro do surto do coronavírus na China.HECTOR RETAMAL ((AFP))
Macarena Vidal Liy

“Atenção a todos os moradores! Aviso oficial! Tenha em mente que, se recentemente você viajou ou hospedou amigos, deve informar o seu comitê de bairro! Controlem suas temperaturas corporais durante duas semanas, e se tiverem febre e tosse seca dirijam-se a um hospital!”. Com algumas variações, esta é a mensagem que se repete nesta segunda-feira bairro a bairro, rua a rua e casa a casa por toda a China, distribuído aos gritos por alto-falantes, pessoalmente em visitas individuais, ou lido em cartazes grudados nas portas das casas.

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Colombo (Sri Lanka), 11/12/2019.- A group of Chinese tourists wear protective masks at the Fort railway station in Colombo, Sri Lanka, 27 January 2020. Sri Lankan health and immigration officials have taken action to screen those arriving at the island's premier airports and seaports by installing thermal monitors following the outbreak of the deadly Coronavirus from China. A Sri Lankan female student returning from China and a male Chinese tourist were admitted to the 'Infectious Diseases Hospital' on suspicion of being infected with the Coronavirus. Later in the night another Sri Lankan male and a Chinese female too were admitted, raising the total to four. The Medical Research Institute confirmed that the tests proved negative. Meanwhile, following a meeting at the Presidential Secretariat, President Gotabhaya Rajapaksa directed the Sri Lankan Foreign Secretary and the national carrier SriLankan Airlines to take necessary steps in cooperation of the missions of the two countries to bring back 150 Sri Lankan students currently studying at universities in Sichuan and Chengdu in China within 48 hours. EFE/EPA/CHAMILA KARUNARATHNE
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Gao Fu, director of China Center for Disease Control and Prevention addresses the media after a briefing at the State Council Information Office in Beijing, China, January 26, 2020.  REUTERS/Thomas Peter
China avisa que a capacidade de contágio do coronavírus se torna mais forte

O coronavírus de Wuhan já matou pelo menos 106 pessoas e contaminou mais de 4.515, e se prevê que o número ainda cresça muito mais. Com quase 7.000 casos suspeitos e 45.000 pessoas em observação, uma das prioridades das autoridades chinesas é localizar possíveis portadores para evitar a proliferação dos contágios. Sobretudo, os cinco milhões de residentes (de um total de 11 milhões) que, conforme admitiu o prefeito dessa cidade, Zhou Xianwang, saíram de Wuhan antes da imposição, na quarta-feira passada, de uma quarentena geral nessa metrópole industrial da China central, epicentro da epidemia.

Nos últimos dias, ser natural de Wuhan —ou simplesmente de Hubei, a província à qual ela pertence, e onde outros 15 municípios também estão sob isolamento— não é um bom cartão de visitas. Em Pequim, a Comissão Nacional de Saúde pediu aos deslocados de Hubei que se registrem nos comitês de bairro, como insistem os avisos. E que se tranquem em isolamento domiciliar durante duas semanas, o tempo máximo de incubação da doença.

Descumprir essas ordens não é necessariamente algo deliberado. Muitos desses moradores “desaparecidos” não estão realmente desaparecidos, apenas se encontravam em suas localidades de origem para desfrutar em família do Ano-Novo lunar e não pensaram em se cadastrar. “A conscientização é relativamente baixa” nas zonas rurais, admitia nesta segunda-feira um alto funcionário do Centro de Controle e Prevenção de Doenças em Pequim, He Qinghua.

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Guangzhou (China), 22/01/2020.- A passenger shows an illustration of the coronavirus on his mobile phone at Guangzhou airport in Guangzhou, Guangdong Province, China, 23 January 2020. The outbreak of coronavirus has so far claimed 17 lives and infected more than 550 others, according to media reports. Authorities in Wuhan announced on 23 January, a complete travel ban on residents of Wuhan in an effort to contain the spread of the virus. EFE/EPA/ALEX PLAVEVSKI
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E os comitês vicinais e outras organizações de base desempenham um papel importante: são os encarregados de conscientizarem, de alto-falante ou cartilha na mão, sobre a necessidade de se cadastrar e cumprir corretamente as quarentenas. Mas, com o aumento da conscientização sobre a doença, crescem também as reticências e os temores. A situação é agravada pelas dúvidas sobre a atuação das autoridades locais no começo da crise. O prefeito Zhou reconheceu nesta segunda-feira que houve demora em alertar sobre a gravidade da situação.

Desde que começou o surto de coronavírus em Wuhan, muitas partes da China, transeuntes ficam alarmados ao verem carros com placas de Hubei. Em alguns povoados de províncias próximas seu acesso está proibido. Já houve casos, segundo a revista econômica Caixin, em que informações pessoais desses indivíduos —incluindo seu número de celular, endereço e RG— foram divulgados em grupos de redes sociais.

A preocupação é tanta que, segundo a publicação, muitos alunos da Universidade de Wuhan que voltaram para casa para o Ano-Novo lunar decidiram copiar e colar a mesma mensagem em seus perfis: “Sou estudante de Wuhan. Prometo que cumprirei minha obrigação de guardar a quarentena. Por favor, me respeite, não me trate como um inimigo, e não divulgue meus dados pelas redes.”

As suspeitas não se limitam ao território da China continental. Hong Kong proibiu a partir desta segunda-feira a entrada em seu território de indivíduos oriundos de Hubei ou que tenham passado por lá na última quinzena. Segundo o jornal local South China Morning Post, 12 pessoas já foram devolvidas à China continental nas seis primeiras horas do veto. A vizinha Macau anunciou um bloqueio similar, mas admitirá moradores de Hubei que portem um atestado médico de boa saúde.

O próprio governo autônomo de Hong Kong, no entanto, reconheceu que a proibição “não será 100% eficaz”. Os documentos de identidade chineses incluem o endereço domiciliar, mas não é possível saber se alguém passou por Hubei se não houver uma declaração por conta própria no formulário de entrada. “Insistimos a quem entre em Hong Kong para que preencha sua declaração sinceramente”, afirmou a secretária de Saúde do território, Sophia Chan.

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