Traição, declínio e prisão, a última década de Ronaldinho à sombra do irmão
Com a imagem gerida por Assis, craque viveu um fim de carreira sem glamour e acumulou negócios frustrados até ser detido no escândalo do Paraguai
Desde sua última temporada na Europa, com o Milan, em 2010, Ronaldinho Gaúcho experimentou o ocaso da carreira, mas nunca havia perdido a aura de ídolo que o circundou inclusive ao ser preso por suspeita de adulteração de passaportes no Paraguai, onde foi tietado por fãs, autoridades e policiais. A detenção é o episódio mais melancólico em uma década de altos e baixos na agitada vida social do craque que marcou época no Barcelona.
Quando anunciou que voltaria a jogar no Brasil, em 2011, a sensação quase unânime indicava como destino o clube que o revelou. “Eu gosto tanto do Grêmio que, se fosse sempre assim, com estádio cheio e torcida apoiando, eu jogava de graça. O que vale é o amor à camisa”, prometeu logo após sagrar-se campeão gaúcho em 1999. Porém, as declarações de amor eterno se converteram em sentimento de traição para os torcedores gremistas depois que o ídolo foi parar no Flamengo, mesmo com acordo encaminhado em Porto Alegre. A torcida que o viu nascer para o futebol jamais o perdoou. Até hoje, ele e seu irmão, Roberto de Assis Moreira, que também jogou no Grêmio, são tratados como “mercenários” pelo clube tricolor.
Assis, além do laço familiar, assumiu a função de empresário do irmão mais novo logo que parou de jogar. Sempre desempenhou um papel paternal na trajetória de Ronaldinho, que tinha oito anos quando perdeu o pai. Foi ele quem preteriu o Grêmio e escolheu o Flamengo para o retorno do craque ao Brasil. A passagem pelo Rio de Janeiro ficou marcada por um título do Campeonato Carioca e, sobretudo, pelas festas recorrentes que promovia em sua mansão. Irritado pelos atrasos de salário, Assis rompeu contrato do Flamengo com o irmão, que acabou negociado ao Atlético Mineiro. No Galo, se tornou ídolo ao reger o time no vice-campeonato brasileiro e na inédita conquista da Copa Libertadores, em 2013, ano em que disputou sua última partida pela seleção brasileira.
Já em declínio físico, Ronaldinho rescindiu com o Atlético e decidiu aceitar proposta do desconhecido Querétaro. A aventura pelo México durou apenas uma temporada. Em 2015, estava de volta ao futebol brasileiro, dessa vez para defender o Fluminense. À essa altura, reserva e incomodado com vaias da torcida, não sentia mais prazer de jogar. Com a camisa do tricolor carioca, fez apenas nove exibições e não marcou nenhum gol. Depois de dois anos sem atuar profissionalmente, sua aposentadoria dos gramados foi anunciada sem pompas pelo irmão. “Convites não faltam, mas ele resolveu que não quer mais”, disse Assis, que resistiu em anunciar o fim da carreira de Ronaldinho na tentativa de demovê-lo da ideia.
A partir de então, as aparições do ícone, apelidadas de “rolês aleatórios” pelos fãs brasileiros, se tornaram tão folclóricas quanto inusitadas. Passou a participar de jogos festivos, como torneios de futsal na Índia, e a estrelar os mais diversos tipos de eventos publicitários, de um reality show nos Emirados Árabes a filme com Mike Tyson. Também se arriscou na carreira de músico. Entre seu vasto repertório de gravações, constam Professor da malandragem, que interpreta ao lado de Wesley Safadão, e Garra, uma canção de protesto contra a corrupção em dueto com Jorge Vercillo.
Tocados por Assis, negócios malsucedidos do ex-jogador começaram a render dor de cabeça à família. Em 2015, ele e o irmão foram condenados a pagar multa de 8,5 milhões de reais por construções irregulares em áreas de preservação ambiental. Sem êxito na tentativa de cobrar o pagamento pelas infrações, a Justiça determinou a apreensão dos passaportes da dupla no fim de 2018, o que comprometeu a agenda de compromissos no exterior. Em fevereiro, Ronaldinho virou réu em outro processo, acusado de integrar um esquema de pirâmide financeira envolvendo criptomoedas.
No mesmo ano em que teve o passaporte apreendido, Ronaldinho se filiou a um partido conservador (Republicanos) e manifestou apoio à candidatura do presidente Jair Bolsonaro. Assis sempre negou, entretanto, a intenção de introduzir o ex-craque na política. Em 2019, foi nomeado embaixador do turismo pelo Governo Bolsonaro. No próximo dia 21, o astro completa 40 anos. Dependendo do andamento das investigações em Assunção, pode ter de passar o aniversário atrás das grades. Mas, ainda assim, acompanhado do irmão responsável por guiar seus caminhos dentro e fora dos campos.
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