Ronaldinho Gaúcho, detido por 17 horas por entrar com um passaporte falso no Paraguai
Ex-jogador e seu irmão denunciam à Promotoria o empresário brasileiro que lhes entregou os documentos
O ex-jogador Ronaldinho Gaúcho e seu irmão Roberto Assis passaram 17 horas sob custódia policial em Assunção, acusados de entrar no Paraguai com passaportes falsos. A polícia prendeu os irmãos em um luxuoso hotel da capital na noite de quarta-feira, após passarem sem problemas pelos controles de imigração no aeroporto. Junto com o ex-jogador do Barcelona, foi preso o empresário brasileiro Wilmondes Sousa Lira, parte da comitiva que viajou do Brasil e acusado de entregar-lhes os passaportes e documentos falsos ao chegarem à capital paraguaia. Após depor à Promotoria na quinta-feira, Ronaldinho e seu irmão foram liberados.
A detenção de Ronaldinho caiu como uma bomba em Assunção, onde sua chegada havia recebido a atenção de centenas de fãs. Antes de sua detenção em seu hotel havia sido nomeado cidadão ilustre da cidade e era esperado em um cassino na quinta-feira, com quem havia assinado uma campanha de promoção, e na fundação Angelical, que o havia contratado para que apoiasse seu trabalho com crianças de famílias pobres. A agenda não pôde ser cumprida. Por volta de meio-dia, Ronaldinho chegou à Promotoria para dar sua versão e depois ficou livre.
Resta agora decifrar os detalhes e motivos de uma manobra tão arriscada. Ronaldinho tem passaporte e identidade brasileiros em ordem e poderia entrar no Paraguai com esses documentos sem problemas. Como cidadão do Mercosul, pode passar na Imigração somente com sua identidade. Mas por algum motivo que é investigado, preferiu aceitar a oferta de seu patrocinador em Assunção e recebeu uma documentação em que aparece como nascido em Porto Alegre, Brasil, mas com “nacionalidade paraguaia naturalizada”.
“Mencionou o nome da pessoa que lhes entregou os passaportes e o que fez com eles. Tem documentos vigentes do Brasil para ir a qualquer parte do mundo e foi isso que o Ministério Público disse a ele”, afirmou seu advogado de defesa, Adolfo Marín, após o depoimento de seu cliente. De acordo com a versão do jogador, o empresário Wilmondes Sousa lhe deu a documentação há um mês, no Brasil. “Disse aos promotores que não pensava em usar esses documentos porque não precisa deles, mas que quando chegou ao aeroporto havia uma multidão e uma pessoa lhe pediu o passaporte. E ele deu o documento que havia recebido 30 dias atrás e aconteceu tudo o que aconteceu”, disse Marín.
Os papéis foram emitidos pelo Governo do Paraguai, mas os dados que estão neles são falsos. “Os números dos passaportes pertencem a outras pessoas. São passaportes originais, mas de conteúdo falso. Foram expedidos em janeiro de 2020 e foram entregues a eles ao chegar”, afirmou em entrevista coletiva o promotor Federico Delfino. “Tanto Ronaldinho como seu irmão disseram que receberam os documentos como um presente das pessoas que os trouxeram aqui ao Paraguai”, acrescentou.
Para a defesa, Ronaldinho e seu irmão foram vítimas e não criminosos. “Na verdade, foram vítimas na utilização desse documento, porque não precisavam deles de maneira nenhuma”, afirmou seu advogado. A justiça paraguaia escutou a versão do ex-jogador e o deixou livre. O ambiente em Assunção foi o melhor possível para Ronaldinho, considerado um ídolo no Paraguai. Pelas redes sociais circularam dezenas de fotos do ex-atleta do Barcelona sorridente ao lado dos policiais que o detiveram e mais tarde acompanhado pelos membros da Promotoria que tomaram sua declaração. No Brasil, por outro lado, maiores problemas o esperam.
Ronaldinho e seu irmão foram condenados em 2015 a pagar multas de 11 milhões de reais por construções irregulares em áreas de preservação ambiental nas margens do rio Guaíba, na cidade de Porto Alegre. Como nunca cumpriram a condenação, em dezembro de 2018 perderam seus passaportes e o direito a sair do país. Um recurso de seus advogados no Brasil lhes permitiu reverter a proibição de saída e em outubro os dois recuperaram seus documentos, mas agora estão à espera de uma sentença da Corte que pode piorar novamente sua situação, informa Breiller Pires em São Paulo. Nesse contexto de incerteza ocorre a detenção em Assunção por posse de passaportes falsos.
A Justiça paraguaia deverá agora determinar de onde saíram os passaportes que chegaram às mãos de Ronaldinho e seu irmão. A jogada colocou em evidência o que imprensa local acredita ser uma suposta máfia localizada dentro do Departamento de Identificações da Polícia Nacional, que entrega documentação original, mas com dados falsificados, em troca de dinheiro. A “nacionalidade paraguaia naturalizada”, além disso, permitia a Ronaldinho ter uma segunda opção no caso de as autoridades brasileiras reterem mais uma vez seus documentos e o impedirem de viajar.
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