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São Paulo volta à fase mais restrita da quarentena após internar uma pessoa a cada dois minutos

Após recorde de mortes e internações por covid-19, Doria anunciou nesta quarta-feira que apenas as atividades essenciais estarão liberadas a partir de 0h do próximo sábado

João Doria
NELSON ALMEIDA (AFP)
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Depois de semanas de decisões mais brandas para conter a pandemia de coronavírus, o governador de São Paulo, João Doria, anunciou em entrevista coletiva nesta quarta-feira (3) que todo o Estado de São Paulo voltará à fase vermelha, a mais restrita da quarentena, a partir de 0h (horário de Brasília) do próximo sábado (6). Na prática, a mudança prevê que apenas setores essenciais da economia, como farmácias, supermercados e transportes coletivos funcionem, como aconteceu no ano passado, no início da quarentena no Estado. Por causa de uma mudança feita no início desta semana, igrejas também estão autorizadas a funcionar. Escolas também permanecerão abertas, com redução de fluxo prevista em 80% pelo Governo. A previsão é que essa etapa da quarentena dure duas semanas, quando a situação deve ser reavaliada.

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O recrudescimento do lockdown paulista acontece após São Paulo registrar o recorde de mortes por dia nesta terça-feira: 468, segundo números divulgados pela Secretaria da Saúde. As 1.641 mortes pelo novo coronavírus registradas pelo Ministério da Saúde em âmbito nacional, divulgadas nesta terça, também constituem o maior número de óbitos registrados em 24h desde o início da pandemia no país. Segundo o Governador, a central de regulação de leitos do Estado recebeu apenas nesta terça-feira (02) 901 pedidos para internação em leitos de UTI e enfermaria. “Uma média de um paciente a cada dois minutos”, ressaltou. Nesta quarta-feira, foram mais 367 mortes, que totalizam 60.381 óbitos desde o início. “As próximas duas semanas serão as duas piores da pandemia”, afirmou Doria.

As UTIs estão com 75,3% de lotação no Estado e com 76,7% na Grande SP. A taxa de ocupação de leitos é um dos principais critérios para a mudança de fases no Plano São Paulo —acima de 75% as regiões do Estado entram na fase vermelha. Segundo o Governo, desde o início da crise houve um aumento de 152,5% no número de leitos SUS no Estado —passou de 3.500, em 31 de março, para os atuais 8.839, já contabilizando 339 leitos de unidades de terapia intensiva que serão adicionados a partir da próxima segunda-feira.

As escolas permanecem abertas, com uma frequência diária limitada em até 35%. “A escola estará aberta para quem precisa”, afirmou Rossieli Soares, secretário da Educação, que orientou que crianças que consigam acompanhar as aulas de casa não sejam levadas para as aulas.

Medidas mais restritivas para conter o avanço da pandemia em São Paulo já eram esperadas do governador há uma semana, quando o Estado chegou a marca de 6.657 pessoas internadas em UTIs públicas e privadas com covid-19, um recorde desde o início da pandemia de coronavírus. No entanto, Doria optou por anunciar naquela quarta-feira (24) apenas a restrição de circulação entre 23h e 5h em todos os municípios paulistas. A medida, válida entre 26 de fevereiro e 14 de março, era uma tentativa de “reduzir aglomerações e encontros que possam ocorrer sobretudo no período noturno”, nas palavras Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contingência, em entrevista coletiva ao lado do governador.

Essas aglomerações já estavam proibidas pelo Plano São Paulo, o programa adotado pelo Governo paulista que controla a abertura de diferentes regiões do Estado durante a pandemia. A capital paulista, por exemplo, se encontrava na fase amarela, que proibia a abertura de bares após às 20h e restaurantes depois das 22h. O novo toque de recolher, segundo o Governo, buscava aumentar a fiscalização de festas noturnas e multar organizadores clandestinos. A equipe de Doria deixou claro que não multaria trabalhadores noturnos, nem fecharia o transporte público ou qualquer serviço essencial. “Não vamos penalizar quem está trabalhando ou cumprindo protocolos”, garantiu Patrícia Ellen, secretária de Desenvolvimento Econômico. “Vamos ter uma fiscalização mais concentrada em verificar aglomerações e agrupamentos de pessoas. Não somente estabelecimentos comerciais, mas em todas as regiões”.

Uma semana depois, a ocupação dos leitos de UTI prova que, na prática, o decreto não foi eficiente. São Paulo tem hoje 7.415 pessoas com covid-19, 1.000 a mais que há 10 dias. Mesmo hospitais particulares da capital, como Albert Eistein e Sírio Libanês, registram quase 100% de ocupação. Depois de ignorar o apelo por restrições mais duras feitas pelo grupo de epidemiologistas que o assessora, Doria cedeu com a piora da pandemia. A partir de sábado, shoppings, comércios de rua e academias, por exemplo, estarão proibidas de funcionamento. Serão permitidos apenas setores essenciais: farmácias, supermercados, padarias, agências dos correios, petshops, clínicas veterinárias, postos de combustível e transportes coletivos, como ônibus, trens e metrô, além das igrejas. Estas não estavam permitidas até esta segunda-feira (1), quando o governador assinou um decreto que define a igreja como ativididade essencial.

No interior paulista, alguns municípios se adiantaram ao Governo estadual e adotaram as medidas da fase vermelha. Foram os exemplos de Campinas e Araraquara, que adotaram o lockdown mais restritivo diante de quase 100% de ocupação em seus leitos. Mesmo alguns serviços essenciais, como de supermercados, funcionam através de delivery. Outros, no entanto, registraram manifestações contrárias à quarentena e boicotaram as medidas anteriores de João Doria, mesmo se encontrando na fase vermelha do Plano — como Bauru, a cidade mais populosa do centro-oeste do Estado.

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