Doria restringe aglomerações nas madrugadas em SP após recorde de internações por covid-19
Restrição valerá entre 23h e 5h a partir de sexta-feira, 26 de fevereiro, até pelo menos 14 de março. Nos últimos 10 dias, 660 pessoas foram internadas em UTIs públicas e privadas
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Depois de o Estado de São Paulo bater recorde de internações por covid-19, o Governo João Doria (PSDB) anunciou nesta quarta-feira restrição de circulação entre 23h e 5h em todos os municípios paulistas a partir da próxima sexta-feira, 26 de fevereiro. A medida, válida entre 26 de fevereiro e 14 de março, é uma nova tentativa de “reduzir aglomerações e encontros que possam ocorrer sobretudo no período noturno”, explicou Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contingência Covid-19, em entrevista coletiva ao lado do governador. As aglomerações clandestinas, já proibidas, são o grande foco da medida, que não deverá punir pessoas que estejam nas ruas no horário restrito, de acordo com Doria, que evitou usar a expressão “toque de recolher”. Desde o início do ano, o Governo de São Paulo tem ensaiado aumentar as restrições de circulação, mas por várias vezes cedeu, em seguida, à pressão dos setores comerciais. Em dez dias, 660 pessoas foram internadas em Unidades de Terapia Intensiva no Estado. Somente nesta semana houve um aumento de 9,1% em relação a semana anterior. Se as taxas continuarem a subir no ritmo atual, a previsão é que não haja mais leitos de UTI disponíveis em 22 dias, afirmou o Governo paulista. Atualmente, a taxa de isolamento social é de 40% no Estado e de 38% na capital, segundo o Governo.
As aglomerações já estavam proibidas pelo Plano São Paulo, a política adotada na pandemia pelo Governo paulista para determinar o nível de restrição em diferentes regiões. As principais mudanças de agora dizem respeito à fiscalização. O objetivo, enfatizou Doria, não é multar quem estiver trabalhando à noite, mas sim evitar aglomerações noturnas “inadequadas e inoportunas”. Ele afirmou que indivíduos que estiverem participando de festas não serão multados, mas sim advertidos. A multa, explicou o tucano, será para aqueles que estiverem promovendo as festas.
De acordo com a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen, o chamado “toque de restrições” também não significará o fechamento do transporte público ou de serviços essenciais, como mercados e farmácias, nem em multas para quem está circulando por motivos de trabalho. “Não vamos penalizar quem está trabalhando ou cumprindo protocolos”, garantiu. Ellen também explicou que até o momento as multas eram direcionadas a quem não usava máscaras. Agora, serão aplicadas para aqueles que não estão cumprindo as medidas do Plano São Paulo como um todo. “Vamos ter uma fiscalização mais concentrada em verificar aglomerações e agrupamentos de pessoas. Não somente estabelecimentos comerciais, mas em todas as regiões”.
O novo endurecimento das medidas já era esperado pelo menos desde segunda-feira, quando o Estado chegou a marca de 6.410 pessoas internadas em UTIs públicas e privadas com covid-19, um recorde desde o início da pandemia de coronavírus. Nesta quarta-feira, o número de internados foi a 6.657, mais um recorde. O Governo também registrou 100 novas internações diárias nos últimos três dias. A capital paulista, por sua vez, já superou o índice de 70% de leitos de UTI ocupados. De acordo com Menezes, o aumento de internações pode estar ligado tanto às aglomerações registradas no Carnaval como à disseminação das novas variantes do coronavírus.
O Governo também anunciou uma força-tarefa das vigilâncias sanitárias do Estado e dos municípios, da Polícia Militar e do Procon para fiscalizar se as medidas estão sendo cumpridas. Serão aplicadas multas em caso de descumprimento do Plano do São Paulo, enfatizou Menezes durante a entrevista coletiva. Já Doria destacou a necessidade de que outros municípios cooperem —no interior do Estado, prefeituras vem resistindo a adotar as medidas restritivas do Estado. “A cooperação das prefeituras e de suas vigilâncias sanitárias são essenciais para que possamos ter o cumprimento dessa orientação e desse período de restrição, explicou o governador.
O tucano também fez um apelo aos mais jovens. “Eu compreendo a necessidade e o ímpeto que possuem em se reunirem, em festejar. Mas são esses jovens que acabam se contaminando. Ao se contaminarem, contaminam também seus pais, seus avós, seus parentes”, enfatizou o governador. “Não apenas o Estado de São Paulo, mas outros Estados, outros municípios e outros países estão tomando medidas restritivas para proteger vidas, e não para prejudicar pessoas”, prosseguiu. Doria também ponderou que a maioria dos estabelecimentos vêm buscando seguir a orientação do Governo, mas fez um outro apelo para que “a população denuncie festas clandestinas, aglomerações impróprias, para que as vigilâncias sanitárias e a polícia militar possam agir”.
Preocupação no interior
Na última segunda-feira, o município de Araraquara decretou um rígido lockdown na cidade após o índice de ocupação de leitos chegar a quase 100%. No mesmo dia, São Bernardo do Campo também se adiantou ao Governo paulista e decretou toque de recolher na cidade. “Como entender que Araraquara e Jaú estejam em lockdown enquanto Bauru, a 55 km da última, faz passeatas pelo direito à aglomeração?”, questionaram na mesma segunda-feira um grupo de especialistas, a maioria deles assessores do Governo paulista, em artigo assinado na Folha de S. Paulo.
No texto, alertaram para a gravidade do momento. “Sejamos claros: em nenhum momento a Covid-19 assolou o Brasil como agora. Crescem as internações e mortes. Disseminam-se variantes virais, provavelmente mais transmissíveis e talvez causando doença mais grave. Pior: é possível que essas variantes escapem à imunidade conferida pelas vacinas”, escreveram. “Não conseguiremos vacinar a tempo. É possível que o vírus se antecipe à vacina, com suas mutações de escape. A transmissão do coronavírus gera oportunidades para surgimento de variantes. É urgente, pois, interrompê-la”.
O recorde de internações anterior era de julho do ano passado, pico da primeira onda da pandemia, quando foram registrados 6.257 pacientes internados com covid-19. O número de novas internações começou a crescer rapidamente a partir do fim do ano passado, com a segunda onda da doença. Essa segunda etapa da pandemia atingiu com mais força o interior do Estado, que assistiu em janeiro a uma disparada de novos casos e óbitos por covid-19 e uma taxa de ocupação dos leitos de enfermaria e de UTI cada vez maior —em alguns dos principais hospitais ela já chega a 100%.
“Na maior parte dos últimos 15 dias tivemos 100% de ocupação dos leitos de UTI para covid-19 em nosso hospital. Se nada for feito e a transmissão continua dessa maneira, vamos entrar em colapso em duas semanas”, alertou no final de janeiro o professor Carlos Magno, médico epidemiologista da Faculdade de Medicina da Unesp em Botucatu e um dos especialistas que assessoram Doria. Especialistas preveem que um colapso no interior —sobretudo em hospitais de médio porte que servem de anteparo nas regiões de Marília, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto ou Franca— ocasionará consequentemente uma procura ainda maior pelos leitos da capital paulista e uma pressão em seu sistema, o que pode gerar outro colapso.
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