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‘Irmão mais novo do PT’, PSOL chega como adulto às eleições municipais

Pleito deste domingo, o primeiro desde a vitória de Bolsonaro, também servirá para o partido de Lula medir forças com a sigla de seus dissidentes

Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, durante campanha na quarta.
Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, durante campanha na quarta.Toni Pires
Naiara Galarraga Gortázar

Os constantes apelos nas redes sociais para a necessidade de formar uma grande aliança política contra a direita radical bolsonarista para as eleições municipais deste domingo deram pouco resultado. Só em 3 das 27 capitais os partidos de esquerda conseguiram deixar de lado suas divergências para apresentar um candidato único. Não será fácil avaliar a força do presidente Jair Bolsonaro, porque ele está sem partido e seus aliados, dispersos por várias siglas. Mas este pleito servirá para medir o equilíbrio de forças na esquerda, onde ganha musculatura o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), que nasceu em 2004 de uma cisão do Partido dos Trabalhadores e foi crescendo depois dos escândalos de corrupção, em meio ao ódio visceral que a sigla de Luiz Inácio Lula da Silva ainda desperta. Sua principal figura é o ativista Guilherme Boulos, de 38 anos, que, como candidato a prefeito de São Paulo, tem possibilidades de passar para o segundo turno, de acordo com as pesquisas.

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Os brasileiros votam para escolher os prefeitos e vereadores de mais de 5.000 municípios, nas primeiras eleições desde a inesperada vitória de Bolsonaro em 2018. Em Macapá, que ficou sem luz devido a um incêndio e ainda sofre graves consequências, a votação foi adiada e deve ocorrer em 13 de dezembro —o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda precisa referendar a data sugerida pela Justiça Eleitoral local. As pesquisas indicam que as grandes vencedoras no país serão as siglas que proliferam no centro, repleto de candidatos unidos mais por interesses pessoais do que por questões ideológicas. Enquanto isso, candidatos apoiados por Bolsonaro patinam.

Dentro da esquerda, é evidente o impulso que o PSOL —da vereadora assassinada Marielle Franco— vem ganhando frente a um PT em declínio para o qual as pesquisa preveem maus resultados nas principais cidades. Um dos grandes paradoxos políticos é o fato de que, apesar disso, o PT continua sendo a máquina eleitoral mais azeitada do Brasil.

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Depois de um ato de campanha na quarta-feira em São Paulo, Boulos disse ao EL PAÍS que o PSOL apoia o PT em mais cidades do que vice-versa e criticou a falta de candidaturas unitárias. “Sou uma das pessoas que mais se esforçaram para haver unidade na esquerda, porque acredito que o maior desafio da esquerda nesta eleição é derrotar esse projeto do atraso, do ódio, que é o projeto de Bolsonaro. Infelizmente, às vezes alguns interesses locais impediram essa aliança”, afirmou. “Mas confio muito que em São Paulo iremos para o segundo turno e construiremos uma grande aliança de esquerda.” Seu lema —“A esperança vai vencer o ódio”— é inspirado em um conhecido slogan de Lula, e sua imagem de campanha, na de Barack Obama em sua bem-sucedida campanha do “Yes, we can” (“sim, podemos”).

Muitos que votaram no PT em seus anos de glória passaram para o PSOL. Boulos capitaliza essa transferência de votos esquerdistas, que ocorre mais na classe média do que entre os pobres. Alguns dos mais famosos simpatizantes petistas, como o cantor Chico Buarque, manifestaram publicamente seu apoio ao candidato do PSOL em São Paulo. Se as pesquisas acertarem e ele for para o segundo turno, será um feito que dará preciosos minutos diários na TV para esse morador da periferia, filho de médicos.

“Boulos é cativante, parece que se fortaleceu nas redes. Ele representa a esquerda e parte daqueles que não querem saber nada do PT, mas se a esquerda e a centro-esquerda quiserem buscar uma alternativa a Bolsonaro, têm de contar matematicamente com os eleitores do PT”, explica Carolina Botelho, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado de Rio de Janeiro. Ela lembra que o partido de Lula mantém quase um terço do eleitorado. “O PT é uma máquina de fazer política, mas seus líderes estão muito desgastados”, diz.

Um dos grandes problemas de Boulos é que ele é pouco conhecido do grande público, embora o fato de ter sido o candidato do PSOL à presidência em 2018 tenha lhe dado certa visibilidade. Foi seu primeiro trampolim político após muitos anos de batalha ativista em São Paulo como líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Boulos teve apenas 17 segundos por período de propaganda eleitoral gratuita na televisão. Se fazer campanha em uma cidade de 12 milhões de habitantes já é um desafio, com a pandemia é ainda mais difícil. Por isso, sua estratégia combina as redes com a rua, sempre com a máscara em que aparece seu número, o 50.

Botelho destaca que o aspecto-chave destas eleições em relação à luta na esquerda será “ver quanto o PT perde nas grandes cidades, que é onde há política de verdade, coalizões, alianças”. Mas ressalva que “isso não garante [o desempenho em] pleitos nacionais”.

Se eleito prefeito, o que projeções de segundo turno até agora descartam, Boulos afirma que sua primeira medida será estabelecer uma renda mínima para um milhão de moradores que ganham menos de 500 reais por mês. “Porque não aceito que na cidade mais rica da América Latina haja pessoas que não tenham o que comer, que vasculham o lixo e não têm um teto onde viver”, ressalta.

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