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Pesquisas sugerem “vitórias por exclusão” de partidos de centro nas eleições municipais

Apoiados por Jair Bolsonaro perdem pontos na reta final de campanha, enquanto os esquerdistas PT, PCdoB e PSOL lideram só em uma capital cada um

O candidato Celso Russomanno, que tem despencado nas pesquisas após apoio de Bolsonaro.
O candidato Celso Russomanno, que tem despencado nas pesquisas após apoio de Bolsonaro.B. Poletti (Folhapress)

No próximo domingo, dia 15, os brasileiros vão às urnas para eleger prefeitos, vice-prefeitos e vereadores de 5.569 cidades. A movimentação no tabuleiro político municipal é considerada uma espécie de antessala para eleição de deputados e senadores em 2022 e já dá para levantar algumas tendências a partir das pesquisas disponíveis em 96 cidades analisadas pelo EL PAÍS. Se em 2016 o MDB e o PSDB brilharam com a ressaca do PT, massacrado após as investigações da Lava Jato, neste ano a tendência é que o pleito fortaleça os partidos de centro-direita, como o PSD, o MDB, o DEM, o Podemos e o Progressistas. Na eleição passada, juntos esses partidos somavam 26 dessas 96 prefeituras. Agora, podem chegar a 42. Neste grupo estão cinco com chances de se elegerem ainda no primeiro turno, como Bruno Reis (DEM) em Salvador, Gean Loureiro (DEM) em Florianópolis, Rafael Grega (DEM), em Curitiba, Alexandre Kalil (PSD) em Belo Horizonte, Marquinhos Trad (PSD) em Campo Grande.

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Não que haja uma fuga de outras vertentes na política nacional, conforme analisa Alberto Bueno, da consultoria Concórdia. “Será uma vitória por exclusão. Isso porque o centro é uma espécie de saco gigante em que se enquadra qualquer um que não seja de esquerda ou de direita”, disse. Para Bueno, tudo é resultado de um cenário de fragmentação partidária, em que a maioria dos partidos brasileiros não tem coerência programática, não se importa com a fidelidade de seus quadros ou com o decoro e pouco se renova para as jovens lideranças.

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O presidente Jair Bolsonaro, por outro lado, tem sido visto como o primeiro derrotado da eleição de 2020, por seu papel como Midas às avessas. Quando demonstrou apoio explícito a algum candidato seu apadrinhado começa a perder votos. É o caso dos candidatos Marcelo Crivella, no Rio de Janeiro, e de Celso Russomano, em São Paulo, ambos são filiados ao Republicanos. No caso de Russomanno, ele despencou de 26%, quando era líder das pesquisas, para 12% da preferência eleitoral, chegando à terceira colocação numericamente atrás de Guilherme Boulos (PSOL), com 13%. Os dados são do Ibope.

“O presidente Bolsonaro foi aconselhado a não apoiar muita gente para não correr o risco de ter um novo Wilson Witzel. Também faltou a ele uma estratégia para se afirmar como uma liderança política que pensa em médio e longo prazo”, diz Alberto Bueno, da consultoria Concórdia. Ele se refere ao governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), que foi apoiado pelo presidente, rompeu com ele e está em vias de sofrer um impeachment por causa de suspeitas de corrupção. Em um relatório de análises prévias, a Concórdia conclui que o desempenho de Bolsonaro será avaliado mais pela vitória de seus oponentes do que por sua própria atuação na campanha.

Do outro lado, o principal líder da oposição, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também pouco tem acrescentado aos seus correligionários. Nas duas maiores cidades brasileiras, Rio e São Paulo, os petistas decidiram lançar candidaturas próprias que não atingem nem os 10% dos votos locais. Benedita da Silva, que disputa no Rio, tem 9% dos votos e está em quarto lugar. Enquanto que Jilmar Tatto, de São Paulo, chega aos 6%, amargando a quinta colocação, conforme o Ibope. Nessas cidades, os líderes são, respectivamente, Eduardo Paes (DEM) e Bruno Covas (PSDB), que disputa a reeleição.

Os petistas lideram a corrida em apenas uma capital: Vitória (ES), com João Coser. Têm chances, ainda que reduzidas, de chegar ao segundo turno em outras duas, Fortaleza, com Luiziane Lins, e Recife, com Marília Arraes. Neste caso, há uma disputa pela herança dos ex-governadores Miguel Arraes e Eduardo Campos. Marília está em segundo lugar na disputa que tem sido liderada por seu primo, João Campos (PSB). Em outras seis cidades do interior, dentre as 96 maiores do país, o PT tem chances de vencer no primeiro turno em Contagem (MG), com Marília Campos. Também pode ir ao segundo turno em outras sete: Anápolis (GO), Vitória da Conquista (BA) Diadema (SP), Guarulhos (SP), Osasco (SP), em Juiz de Fora (MG) e em Feira de Santana (BA).

O PSOL, outra legenda de esquerda aparece com chance de vitória em Belém (PA), o líder das pesquisas é Edmilson Rodrigues. A capital paraense e em Porto Alegre foram alguns dos poucos locais em que a maior parte da esquerda conseguiu se unificar em torno de candidaturas únicas.

As eleições municipais são um trampolim importante para os partidos. Vencer em médias e grandes cidades significa ampliar o raio de influência para outros municípios menores de uma mesma região. Se em 2016 o maior derrotado nas eleições municipais foi o PT, que elegeu apenas um prefeito nas 96 maiores cidades do Brasil — domicílio de 38% do eleitorado nacional — neste ano a maior perda proporcional deve ser do PSDB. Quatro anos atrás, o antigo antagonista dos petistas elegeu 29 prefeitos nessas cidades. Agora, os tucanos possuem candidaturas com chance de vitória em 18 delas, conforme pesquisas eleitorais analisadas pelo EL PAÍS. Os dados sugerem que o PSDB voltou a seu ninho de origem, São Paulo. O partido lidera com folga a corrida eleitoral na capital paulista com Bruno Covas e tem chance de vitória em outras 12 no Estado que a legenda governa há 25 anos.

Uma das cidades-chave que os tucanos apresentam um resultado fraco, até o momento, é Porto Alegre (RS), em que o candidato à reeleição Marchezan Júnior está embolado na segunda colocação com outros dois concorrentes, com apenas 13% dos votos. Quem lidera é Manuela D'Ávila (PCdoB), com 27%, segundo o Ibope. A exceção entre os tucanos é Álvaro Dias (homônimo do senador do Podemos pelo Paraná), que concorre à reeleição em Natal (RN), e ostenta 50% da preferência do eleitorado.

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