_
_
_
_
_

Médicos belgas estão contra pais que impõem veganismo aos filhos

Academia de medicina adverte que gera carências e problemas de crescimento

Um bebê come seguindo o método Baby Led Weaning (BLW).
Um bebê come seguindo o método Baby Led Weaning (BLW).GETTY
Álvaro Sánchez

A alimentação de um filho é uma das decisões mais pessoais que os pais devem tomar, mas nos últimos dias tornou-se um assunto de controvérsia pública na Bélgica. O tenso debate começou quando o responsável de direitos da criança da região francófona, Bernard De Vos, consultou a Academia Real de Medicina da Bélgica sobre os riscos potenciais de os pais escolherem uma dieta completamente vegana para os filhos. A resposta dos sete médicos belgas membros do comitê de especialistas foi taxativa: trata-se de “um regime restritivo que implica carências inevitáveis e exige o acompanhamento permanente das crianças para evitar atrasos irreversíveis no crescimento”. Sua opinião não coincide com a de outras instâncias médicas, que consideram a dieta vegana apropriada para todas as etapas da vida se for bem planejada.

Mais informações
A era do veganismo: o fim dos prazeres da carne
Não como carne e nunca comi carne, nasci vegano
Por que você não deve obrigar seu filho a comer

A resposta do órgão belga veio acompanhada por vários depoimentos de seus especialistas, que alertam inclusive para casos “gravíssimos” que levam à hospitalização da criança. Os médicos avaliam que, ao seguir a dieta vegana, as crianças não recebem vitaminas essenciais, como D e B12, cálcio, oligoelementos e outros nutrientes indispensáveis para o desenvolvimento adequado. “Falamos de atraso de crescimento, atraso psicomotor, desnutrição e anemias importante”, diz Isabelle Thiébaut, pediatra especialista em dietética que colaborou no alerta lançado pela academia.

A conclusão é clara: o veganismo deve ser proibido para crianças, adolescentes, mulheres grávidas e lactantes. No entanto, a tendência é contrária. Segundo os seus dados, 3% das crianças belgas seguem hoje essa dieta. “O pessoal de saúde enfrenta um verdadeiro dilema ético. Damos alguma liberdade, tentamos explicar aos pais os riscos dessa dieta, mas o que fazer quando acreditamos que mantêm uma atitude perigosa em relação à saúde do filho?”, pergunta o professor Georges Casimir, também pediatra.

Em 2017, a morte de um bebê que durante vários meses só foi alimentado com leites vegetais de milho, arroz, aveia e quinoa, e que ao morrer estava abaixo do peso recomendado, já gerou uma primeira polêmica no país sobre a maneira pela qual os pais aplicam dietas veganas aos filhos. “Certos desenvolvimentos devem ser feitos em um momento preciso da vida, e se não forem feitos, é irreversível”, lamentam.

Ao aumentar a ingestão de legumes, os médicos alertam para uma presença demasiado alta de potássio e fibras no corpo das crianças. “Quando você é criança, o corpo fabrica células cerebrais, o que implica em necessidades mais importantes de proteínas e ácidos graxos essenciais. O corpo não os produz, é preciso recorrer às proteínas animais”, insistem. Se isso não for feito, os médicos consideram imprescindível recorrer à suplementação e realizar exames de sangue frequentes.

Ao tornar sua opinião pública, desenvolvida em um relatório de nove páginas, os especialistas dizem querer chamar a atenção para a incongruência de ter de cuidar de crianças nascidas com boa saúde devido ao que consideram maus hábitos. E comemoram que, graças à rápida intervenção dos pediatras, foi possível deter o risco que os menores corriam em muitos casos.

Em 2016, a deputada italiana Elvira Savino apresentou um projeto de lei para punir, mesmo com prisão, pais que seguirem essa dieta com seus filhos, mas sua visão e a da academia belga se chocam com outras opiniões de especialistas. O maior grupo de nutricionistas do mundo, a Academia Americana de Nutrição e Dietética, sustenta que uma dieta sem produtos de origem animal é apropriada para qualquer etapa da vida, desde que seja feita com planejamento e informação. Uma revisão de estudos feita em 2017 sobre dietas vegetarianas em crianças não foi conclusiva em relação aos benefícios ou riscos potenciais.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_