Não há justiça se o juiz agir fora da lei
Caso comprove manobra ilegal da arbitragem para corrigir um erro a seu favor, Palmeiras tem todo o direito de exigir a anulação da partida contra o Corinthians
O último clássico entre Palmeiras e Corinthians, no Allianz Parque, que deu ao alvinegro mais um título paulista, foi marcado por uma trapalhada de arbitragem. O juiz Marcelo Aparecido de Souza assinalou pênalti de Ralf em Dudu no segundo tempo. Era a chance de o time alviverde empatar o duelo, resultado que lhe renderia a taça do Estadual depois de ter vencido o jogo de ida na casa do Corinthians. Mas o árbitro voltou atrás e anulou a marcação da penalidade, que, de fato, não existiu. Decisão correta, caso não ele tenha recorrido à ajuda de informações alheias ao gramado.
Interferência externa, quando alguém que tem acesso a análises de tira-teimas repassa ao árbitro conclusões com base nos replays da TV, não é permitida pela regra vigente do futebol. Nesta terça-feira, o Palmeiras divulgou imagens do circuito interno de seu estádio que sugerem ter ocorrido comunicação entre o diretor de árbitros da Federação Paulista de Futebol (FPF), Dionísio Roberto Domingos, e um assistente da partida. A presença do dirigente no entorno do campo não é recomendada em jogos oficiais, embora a FPF justifique que Domingos estivesse ali para avaliar o desempenho dos subordinados.
Após reclamações efusivas de jogadores do Corinthians, já que Ralf havia tocado a bola antes do contato físico com Dudu, o árbitro assistente chamou o árbitro principal como quem quisesse informar algo. Faz parte da função do assistente alertar o juiz sobre possíveis equívocos, desde que não haja interferência externa. Diante da confusão estabelecida, Marcelo Aparecido reuniu assistentes numa espécie de Suprema Corte emergencial. Um dos auxiliares delatou o toque na bola de Ralf. E, assim, o martelo foi batido. O procedimento, incomum em marcações controversas, demorou quase dez minutos.
Para o Palmeiras, a decisão de revogar o pênalti só aconteceu por intervenção do diretor de árbitros da FPF, de acordo com indícios corroborados pelas imagens do estádio. Marcelo Aparecido nega ter voltado atrás sob influência de informações externas. A Federação sustenta que nenhum de seus representantes interferiu no veredito da arbitragem. Por sua vez, corintianos alegam que a justiça foi feita, ainda que por linhas tortas, pois Ralf não cometera infração ao desarmar Dudu. Porém, se comprovada a interferência ilegal sobre a arbitragem, não há justiça que se legitime por manobras irregulares. O papel de um juiz jamais deve ser o de corrigir erros ou supostas injustiças à margem da lei. É o que difere sua atuação das arbitrariedades pregadas por justiceiros. Assim como equipes que administram uma vantagem no placar, os árbitros também têm de entrar em campo com o regulamento debaixo do braço.
É verdade que erros do apito já fizeram bons times perderem campeonatos injustamente. Da mesma forma, a proeza do Corinthians, que conseguiu dar o troco no Palmeiras e sagrar-se campeão com um elenco tecnicamente inferior ao do rival, não deveria ser ofuscada por uma presepada de arbitragem. No entanto, se conseguir provar que houve mesmo interferência externa, a diretoria palmeirense tem todo o direito de pedir a anulação da partida. Ainda que a impugnação do resultado seja improvável, é legítimo exigir o esclarecimento dos fatos e buscar a responsabilização dos atores que supostamente agiram à revelia do que preza o regulamento. Se a lei é para todos, deve se estender, sobretudo, a quem tem o papel de aplicá-la.
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