_
_
_
_

STF julga pedido de habeas corpus de Lula em meio a clima tenso entre ministros

Sessão desta quarta-feira foi marcada pelo bate-boca entre Roberto Barroso e Gilmar Mendes

Cármen Lúcia durante a sessão do STF, nesta quarta-feira.
Cármen Lúcia durante a sessão do STF, nesta quarta-feira.EVARISTO SA (AFP)

Todos os olhos se voltaram para o Supremo Tribunal Federal nesta quarta-feira, sob a expectativa de que o plenário passasse a analisar uma das ações declaratórias de constitucionalidade (ADCs) em que se questionava se era permitida o cumprimento de penas após uma condenação em segunda instância. A pauta polêmica, que pode vir a mudar o entendimento de que os réus sejam presos sem que o processo chegue ao Supremo (terceira instância), ganhava ainda mais importância diante do julgamento final do ex-presidente Lula, que pode vir a ser preso nesta segunda. O Tribunal Regional Federal 4 (TRF-4) no dia 26 os embargos de declaração (um instrumento jurídico em que se pede esclarecimentos em relação a algum ponto da sentença) apresentados pela defesa de Lula. Caso sejam negados, ele pode ser detido na sequência.

Mais informações
AO VIVO | STF julga nesta quinta recurso de Lula para evitar prisão
Supremo ameniza crise com Senado e abre caminho para ‘perdão’ a Aécio
Supremo salva Renan Calheiros e preserva pauta de Temer no Senado
STJ nega habeas corpus para evitar a prisão de Lula por unanimidade

Mas apesar da pressão exercida sobre a presidenta do STF, Cármen Lúcia, ela decidiu não pautar o processo. Em contrapartida, para amenizar as críticas de que estaria se abstendo de julgar casos de relevância para a política nacional, a presidenta definiu que um habeas corpus apresentado pelos advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja analisado na sessão desta quinta-feira. O pedido do habeas corpus visa impedir a prisão do petista após o julgamento no TRF-4.

Se concordarem com a tese da defesa do ex-presidente, os ministros tornarão o cumprimento da pena de Lula quase inócuo. O relator do caso é Edson Fachin, o mesmo que atua em toda a operação Lava Jato e costuma ser duro com os réus. Ao fim da sessão, Sepúlveda Pertence, um dos advogados de Lula e ex-ministro do STF, se mostrou aliviado com a decisão de Cármen Lúcia. “Rompeu-se esse impasse que estava se criando de não julgar o habeas corpus. (...) Espero que seja um julgamento justo”.

Na sessão desta quarta, a ministra Cármen Lúcia também precisou adiar outra pauta polêmica. Ela informou que o julgamento da ação que questionava o pagamento de auxílio moradia a juízes federais não seria mais analisada pela Corte. O caso será analisado por uma câmara de conciliação da Advocacia Geral da União. O pedido de migração de foro foi feito pelo relator do caso, o ministro Luiz Fux.

Barroso X Gilmar

Era para ser uma sessão simples de julgamento. Mas o clima de incertezas na Corte Suprema, aliado a uma antiga rixa entre dois dos onze ministros, transformou a reunião desta quarta-feira em uma espécie de ringue. Gilmar Mendes destilava uma série de críticas aos colegas, como costuma fazer, sem se prender ao que estava julgando – uma ação que visava impedir doações eleitorais ocultas. Roberto Barroso irritou-se então e disparou uma série de impropérios contra seu colega. Foi a segunda vez, em cinco meses, que Mendes e Barroso tiveram um entrevero durante uma sessão no plenário da mais alta instância judiciária brasileira.

A origem do embate foi quando Gilmar criticou a prática que a Corte tem adotado de alterar a jurisprudência se aproveitando de maioria eventuais. “Vamos legalizar o aborto, de preferência por 2 a 1”. Barroso, que relatou uma ação que tinha a legalização do aborto como tema, entendeu que havia sido provocado e iniciou seus ataques verbais. “Me deixa de fora desse seu mau sentimento. Você é uma pessoa horrível. É uma mistura do mau com o atraso e pitadas de psicopatia”.

Barroso ainda disse que Mendes envergonhava o Judiciário. “Vossa excelência é uma desonra para o tribunal. É uma desonra para todos nós. Um temperamento agressivo, grosseiro rude”.

Uma das respostas de Mendes: “Desonra se faz é aplicando Constituição que não existe. Estou absolutamente tranquilo em relação a isso. Eu não posso inventar uma Constituição. Podemos mudar de jurisprudência, mas é preciso dialogar com a doutrina”.

Em outro momento, ainda disse que Barroso deveria fechar sua banca de advogados (da qual já está afastado há quase cinco anos). “Vou recomendar que o ministro Barroso feche o seu escritório. Feche o seu escritório de advocacia”. Antes de ser nomeado pela ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) para o cargo de ministro do STF, no ano de 2013, Barroso era professor e sócio de um escritório de advocacia no Rio de Janeiro. Após o bate-boca, a sessão foi temporariamente suspensa.

Esse discurso de Gilmar Mendes é semelhante ao que tem sido adotado pelo governo Michel Temer (MDB) contra as ações criminais, em que o mandatário é alvo e são relatadas por Barroso. Há uma clara tentativa de pregar em Barroso a pecha de que ele é vinculado ao PT.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_