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Ataque atribuído a dissidentes das FARC mata vários civis e deixa dezenas de feridos

Confronto ocorre durante protesto de plantadores de coca, que culpam as forças de segurança

Francesco Manetto
Membros da dissidência das FARC.
Membros da dissidência das FARC.RAUL ARBOLEDA (AFP)

Vários civis morreram nesta quinta-feira durante um protesto de produtores de coca na localidade litorânea de Puerto Rico, na Colômbia, perto da fronteira com o Equador. As autoridades atribuíram o ataque, que deixou dezenas de feridos, a uma dissidência da extinta guerrilha FARC no departamento de Nariño, onde há extensas plantações da folha de coca, mantidos por grupos residuais da guerrilha e por quadrilhas locais. Algumas associações de camponeses culpam, por sua vez, as forças de segurança. Diferentes fontes afirmam que haveriam entre quatro e sete mortos.

A investigação preliminar aponta, segundo as autoridades, para um grupo armado liderado por um ex-combatente conhecido como Guacho, que assim como outros líderes dissidentes estaria enriquecendo com o narcotráfico. Segundo um comunicado do Ministério da Defesa, os agressores "lançaram pelo menos cinco cilindros-bomba contra os integrantes da força pública e contra a multidão que se encontrava no local, e depois atacaram os manifestantes e autoridades com fogo indiscriminado de fuzis e metralhadoras".

O incidente ocorreu por volta de 10h desta quinta (8h em Brasília), quando agentes da Polícia e membros do Exército escoltavam as equipes encarregadas de erradicar os cultivos da zona. A produção de coca na Colômbia aumentou 52% em 2016, segundo o Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODOC, na sigla em inglês). Ou seja, passou de 96.000 para 146.000 hectares, uma cifra muito semelhante à encontrada 15 anos atrás, e a expansão se concentrou em alguns territórios como Putumayo, Norte de Santander e Nariño.

O ataque mostra o risco representado por grupos dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), a guerrilha marxista que em agosto concluiu a entrega de armas e há um mês se transformou em um partido político, e as dificuldades de se fazer frente aos cultivos de coca que regem a economia rural em algumas regiões. As autoridades afirmam que mais de 115.000 famílias em 13 departamentos estão dispostas a se inscrever nos planos de substituição voluntária de aproximadamente 90.000 hectares de coca. Por enquanto, 21.902 núcleos familiares se envolveram no processo. No entanto, este programa não conseguiu frear o descontentamento de um setor importante da população, e muitos camponeses, alentados pelo crime organizado, combatem abertamente a erradicação da folha de coca.

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A Polícia e o Exército afirmam que, segundo informações da própria comunidade colhidas depois do ataque, "Guacho e seu bando não só levam forçadamente a população ao suposto protesto social como também disparam contra eles bombas, fuzis e metralhadoras de maneira indiscriminada". Seu objetivo consiste em evitar "a erradicação dos cultivos ilícitos extensivos que pertencem a esta organização criminosa". O procurador-geral da Colômbia, Néstor Humberto Martínez, calcula que os lucros deste grupo dissidente, que pertencia à frente Daniel Aldana das FARC, poderiam chegar a 25 milhões de dólares (78,8 milhões de reais) por semana.

A Associação de Juntas de Ação Comunitária da região, que representa as comunidades camponesas, afirma que o confronto ocorreu porque as forças de segurança atuaram com desproporção ao tentar dissolver o protesto. O Conselho Comunitário do Povo Negro Alto Mira e Fronteira responsabiliza diretamente as brigadas do Exército. O episódio demonstra, em todo caso, que a Colômbia, recém-saída de uma guerra de mais do meio século, ainda não resolveu o problema da violência, sobretudo nas zonas rurais.

O Governo de Juan Manuel Santos e o Exército de Liberação Nacional (ELN), outro grupo insurgente do país, iniciaram nesta semana um cessar-fogo que por enquanto se prolongará até janeiro e significa um passo decisivo. Pela primeira vez em décadas, os colombianos não sofrerão uma violência de origem política ou ideológica. Não obstante, a inatividade das guerrilhas abre caminho para que grupos criminosos e dissidências reais ou autoproclamadas assumam o controle dos negócios ilegais e subjuguem a população do campo, que, por sua vez, reclama uma maior atenção do Estado.

Uma visita feita há duas semanas a uma aldeia cocaleira do departamento do Guaviare (centro-sul) permitia comprovar que os camponeses que abandonaram esse cultivo agora pedem que o Governo não os abandone. Reivindicam alternativas produtivas, proteção e infraestrutura; em outras palavras, uma reinserção real na sociedade e um controle dessa transição iniciada quando o Governo assinou seu acordo de paz com as FARC.

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