Primeiro encontro de Trump e Putin sob a sombra da trama russa
Trump abriu o encontro, durante a cúpula do G20, dizendo que é "uma honra" estar com o presidente russo
Os líderes dos principais países industrializados e emergente que compõem o G20 se reúnem nesta sexta-feira e sábado, em Hamburgo (Alemanha), com o desafio de fortalecer sua cooperação multilateral, particularmente em relação a assuntos climáticos e comerciais, apesar de ser um momento marcado por tensões com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Trump e o presidente russo Vladimir Putin se encontraram pela primeira vez nesta sexta-feira. O americano abriu a conversa de maneira muito amistosa: "Nós tivemos conversas muito, muito boas e estamos prestes a ter uma agora. Esperamos que ocorram muitas coisas positivas para a Rússia, os Estados Unidos e para todos os envolvidos. E é uma honra estar com você". O Russo, respondeu com a mesma cordialidade: "Estou muito feliz em conhecê-lo pessoalmente".
O encontro era esperadíssimo, já que ocorre sob a longa sombra das suspeitas de interferência russa nas eleições que levaram o magnata norte-americano ao poder, no ano passado. Por trás desse assunto espinhoso há uma série de chamativas coincidências ideológicas e de interesses entre os dois líderes, o que não impede, porém, que divergências estratégicas persistam. A seguir, uma reflexão sobre alguns dos principais pontos da relação entre os dois líderes.
CONVERGÊNCIAS
Visão nacionalista
O mantra com o qual Trump conquistou a Casa Branca é a síntese de uma visão nacionalista da política que coincide completamente com a linha seguida por Putin em seu longo período à frente da Rússia. O chefe do Kremlin apela constantemente ao orgulho patriótico e aos valores tradicionais da sociedade russa, construindo cuidadosamente para si a imagem de defensor implacável dos seus interesses. Trump percorre um caminho política semelhante.
Pouca simpatia pela UE
Por motivos diferentes, os presidentes dos EUA e da Rússia não têm nenhum interesse em uma União Europeia fortalecida. Putin deseja que o bloco europeu se fragmente para que ele adquira uma maior capacidade de negociação frente a interlocutores divididos. Trump, por sua vez, desconfia da UE como estandarte político de valores dos quais não compartilha; livre comércio, combate à poluição atmosférica, mesmo que à custa de sacrifícios na estrutura industrial, e cessão de competências nacionais a instituições supranacionais.
Relação conflituosa com a imprensa
Assim que chegou ao poder, Putin iniciou um meticuloso processo destinado a tolher vozes midiáticas críticas às suas políticas. Em circunstâncias muito diferentes, devido à solidez da democracia liberal e do Estado de direito nos EUA, Trump também trava uma batalha própria contra a imprensa independente.
DIVERGÊNCIAS
Oriente Médio
No tabuleiro do Oriente Médio, os dois líderes mantêm posições confrontadas. Trump se alinhou com o eixo sunita capitaneado pela Arábia Saudita. Putin, por sua vez, trabalha ombro a ombro com a potência xiita, o Irã, na defesa do seu aliado comum na Síria, o regime de Bashar al Assad.
Coreia do Norte
Frente à atitude beligerante da Administração Trump na crise norte-coreana, o Kremlin se mantém alinhado à posição da China, o grande protetor de Pyongyang. Ainda nesta semana, Moscou e Pequim emitiram um comunicado conjunto onde pediam aos EUA e à Coreia do Norte que tomassem medidas para reduzir a intensidade da crise, numa significativa demonstração de equidistância.
Ucrânia
Nesta quinta-feira, em Varsóvia, Trump quis pela primeira vez pressionar publicamente a Rússia a respeito do conflito na Ucrânia. O mandatário norte-americano exigiu a Moscou que deixe de implementar “políticas de desestabilização” nesse país e em outros da região. É improvável que essa declaração seja seguida por fatos substanciais, mas sem dúvida ela representa um ponto de inflexão.
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