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COLUNA
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Investir em educação é investir em qualidade de vida

É preciso criar um mecanismo internacional para conseguir que o investimento global em educação passe de 1,2 trilhões de dólares para 3 trilhões em 2030

Estudantes colombianos.
Estudantes colombianos.REPRODUÇÃO

Enfrentamos grandes desafios. A população mundial aumentará em mais de 2 bilhões de pessoas até o ano 2050 e devemos ser capazes de garantir melhores condições de vida para mais pessoas, especialmente nos países em desenvolvimento. Se torna urgente proporcionar uma educação adequada para que as novas gerações possam se integrar a mercados em vertiginosa transformação. Além disso, a automatização e as mudanças tecnológicas podem dificultar ainda mais encontrar emprego para aqueles trabalhadores pouco qualificados.

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No entanto, ao nível global, os recursos destinados à educação são insuficientes: há países na América Latina e África que estão investindo menos de 3% do PIB em educação pública, enquanto a média em países de renda alta é ao redor de 5%. Mesmo quando há vontade de investir em educação, estes investimentos têm sido, em muitos casos, mal direcionados e ineficientes. Isto se deve a que as políticas educativas têm falido em identificar com clareza quais são os resultados desejados e dar os passos adequados para chegar até eles. Por exemplo, com frequência tem-se priorizado a expansão da cobertura educacional às custas da própria aprendizagem.

Na América Latina em particular, das 111 milhões de crianças e adolescentes em idade escolar, 14 milhões não assistiam à escola, de acordo com dados de 2014. Além disso, há crianças e jovens que, ainda que assistam à escola, não aprendem a ler adequadamente ou a realizar operações matemáticas básicas, limitando severamente suas oportunidades.

Porém, devemos reconhecer o esforço que estamos fazendo e os avanços concretos que a América Latina tem conseguido nas últimas décadas. De acordo com a Unesco, em 2014 em nossa região investimos em média 5% do PIB regional em educação, um aumento de 25% respeito ao que se investia no ano 2000. Esta percentagem nos coloca, como região, à par de vários países industrializados. Além disso, atualmente, 8 de cada 10 crianças na América Latina e Caribe têm acesso à pré-escola e a maioria das crianças estão cadastradas no ensino fundamental.

Em vários países da região, há políticas públicas que podem servir de exemplo para outros países em desenvolvimento ao redor do mundo. No Brasil — um dois países com resultados importantes em temas de educação na América Latina — há evidência de que as meninas de baixos recursos que participaram de programas comunitários de educação infantil têm o dobro de probabilidade de alcançar o quinto ano do ensino fundamental e três vezes mais probabilidades de alcançar o oitavo ano em relação a seus pares que não participaram desses programas. No México, os investimentos no ensino superior de baixo custo têm criado oportunidades educacionais para jovens, aumentando a permanência na escola; em paralelo, têm favorecido uma maior disponibilidade de engenheiros e técnicos, impulsando a competitividade de indústrias como a do automóvel. Além disso, com o programa social Oportunidades conseguimos fechar as brechas de gênero nos ensinos fundamental e médio. Mais recentemente, deve-se destacar o importante esforço das diferentes forças políticas no México para melhorar a qualidade da educação.

Se quisermos garantir o direito à educação para todas nossas crianças, este é o momento de colocar o pé no acelerador; América Latina poderia ser quem mostre o caminho na direção correta. Nossos países — junto com a comunidade internacional — se comprometeram a alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) Educação Inclusiva e Equitativa de Qualidade para Todos, promovido pela ONU, para o 2030. Se os países latino-americanos se unirem ao esforço comum para alcançar uma educação inclusiva e de qualidade para todos, estaríamos contribuindo diretamente ao avanço em todos os outros Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, tanto em nossa região quando ao nível global.

Um relatório recente da Comissão Internacional para o Financiamento de Oportunidades Educativas Globais, da qual tenho a honra de ser membro, nos mostra que temos uma grande oportunidade à nossa frente: se todos os países conseguirem acelerar as taxas de avanços educacionais – em termos de cobertura e aprendizado de habilidades básicas, nos níveis de educação infantil, ensino fundamental e médio — chegando aos níveis alcançados pelo 25% dos países que estão avançando mais rapidamente, conseguiremos que todas as crianças dos países em desenvolvimento tenham acesso à educação de qualidade até 2030.

Com este objetivo, a Comissão apresentou um plano para aumentar gradualmente os investimentos globais em educação, com a meta de ir de um total global de 1,2 trilhões de dólares atualmente a 3 trilhões de dólares por ano até 2030. Em princípio, os governos dos países em desenvolvimento deverão se comprometer a aumentar o financiamento da educação e a empreender reformas para fazer com que o gasto educacional seja mais eficiente. Estas reformas promoverão que as políticas educacionais estejam focadas a obter os resultados adequados, promover a inclusão dos grupos mais desfavorecidos e inovar para melhorar a qualidade da educação.

Em troca, a Comissão propõe um acordo para desencadear o apoio da comunidade internacional direcionado a aqueles que assumam o compromisso mencionado anteriormente. Em termos concretos, isto vai ser alcançado a través de uma proposta transformadora: um Mecanismo Internacional de Financiamento da Educação, o qual nasceria a partir de uma aliança entre o Banco Mundial, bancos regionais de desenvolvimento e países doadores. Esta plataforma não só buscaria coordenar e harmonizar a ação dos bancos multilaterais, mas também tem o objetivo de atrair capital privado para incentivar a participação dos bancos de desenvolvimento.

A evidência está conosco: investir em educação é investir em melhores oportunidades para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Educar a uma menina é o caminho mais seguro para reduzir a mortalidade infantil. Em países em desenvolvimento, reduzir à metade o subsídio aos combustíveis fósseis e investir a metade do que é poupado em educação resultaria em um benefício neto de $3 bilhões de dólares para o 20% mais pobre de cada país. Da mesma forma, a criatividade e a inovação estimulam soluções sustentáveis para resolver problemas locais, como expandir o acesso à energia e à agua potável. A educação é uma das principais ferramentas para formar cidadãos comprometidos com as instituições de seus países e os valores democráticos que fundamentam a vida em sociedade.

E se não for suficiente, há evidência adicional sobre os benefícios econômicos de investir melhor em educação. O análise da Comissão indica que, em países em desenvolvimento, cada dólar investido em um ano adicional de escolaridade gera 10 dólares em benefícios. Expandir a cobertura e melhorar a qualidade da educação ajuda a desacelerar as pressões migratórias e a ativar o crescimento econômico.

Por isso, os membros da Comissão pedimos ao Grupo dos 20 — com o Brasil, a Argentina e o México como membros chave — que apoiem este plano. Neste momento em que os líderes se preparam para suas reuniões em Hamburgo,na Alemanha, pedimos que os países latino-americanos levem consigo as melhores práticas de nossa região, junto com o compromisso firme de melhorar nossos próprios padrões de acesso, qualidade e aprendizado.

Pôr em andamento o plano da Comissão nos aproximaria a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e ilustraria tudo o que pode ser atingido a través da cooperação internacional, em contraposição ás vozes que, irresponsavelmente, chamam ao isolacionismo.

Felipe Calderón foi presidente do México de 2006 a 2012.

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