G20 começa com choques entre manifestantes e polícia em Hamburgo
Polícia tenta dispersar com gás lacrimogêneo e canhões de água milhares de manifestantes
“Bem-vindo ao inferno.” Este é o lema da manifestação com que os grupos antissistema recebem nesta quinta-feira o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e os demais líderes do G20, os países mais industrializados do planeta, que aterrissaram durante o dia em Hamburgo, na Alemanha. A cidade natal da chanceler (primeira-ministra), Angela Merkel, anfitriã da cúpula, está hoje fortificada, envolta em arame farpado e repleta de barricadas. O ministro da Fazenda do Brasil, Henrique Meirelles, foi um dos que desembarcaram no país, já o presidente Michel Temer também estava a caminho de Hamburgo nesta quinta à tarde para participar da reunião.
O clima na cidade, porém, era de tensão. Milhares de manifestantes procedentes de toda a Europa se reuniram no centro da cidade para protagonizar a passeata mais temida, batizada como "G20 Welcome to Hell". Muitos deles, vestidos de preto e de capuz, levaram um cubo de plástico gigante, também preto, em alusão ao movimento black bloc, de protestos antiglobalização.
Em torno das oito da noite (horário local) irromperam os confrontos com a polícia, que determinou reiteradamente aos manifestantes que retirassem as máscaras, sem sucesso. Alguns manifestantes lançaram garrafas e outros objetos contra os policiais, que tratou de dispersar a multidão com cassetetes, canhões de água e gás lacrimogêneo. Alguns encapuzados montaram depois barricadas com mobiliário urbano. Meia hora depois, a polícia decretou o fim da passeata e os organizadores deram por encerrado um protesto que reuniu cerca de 12.000 pessoas.
Hamburgo é um símbolo. É o coração da esquerda radical alemã e uma das grandes referências do movimento anticapitalista em toda a Europa. Além do mais, é a sede do mítico Rote Flora, um teatro ocupado há mais de 30 anos e sede indiscutível dos antissistema alemães. “A ideia é ressuscitar os protestos anticapitalistas e antiglobalização que triunfaram há anos”, explica um membro do movimento, morador em uma comunidade nos arredores de Berlim, que prefere ocultar sua identidade. Ele conta que estão há mais de um ano preparando estas manifestações.
No total estão previstas cerca de 30 manifestações contra os líderes que representam 80% da riqueza do planeta e três quartos do comércio mundial. A passeata desta quinta-feira era a mais temida. Merkel se propôs demonstrar a alguns de seus convidados, líderes de países em que a dissidência é reprimida e punida --Turquia, China, Rússia, Arábia Saudita–, que na Alemanha o protesto é possível, mas ao mesmo tempo terá de evitar a todo custo que a violência transborde, como ocorreu nos protestos antiglobalização em Gênova em 2001 ou Seattle, dois anos antes.
Hamburgo é um símbolo. É o coração da esquerda radical alemã e uma das grandes referências do movimento anticapitalista em toda a Europa
Cerca de 20.000 policiais a pé, a cavalo, em motos e helicóptero estão espalhados por Hamburgo, bloqueando o tráfego em torno do centro de convenções da cúpula G20 e nos arredores dos hotéis em que os mandatários se hospedam. Só é possível circular de bicicleta por uma cidade cercada por cordões de isolamento e cujas ruas ficaram meio desérticas. Os habitantes que puderam saíram de férias e fugiram de uma cúpula que se antecipa como histórica.
Na sexta-feira, 7 de julho, planejam bloquear os acessos ao encontro dos líderes do G20 e interromper o tráfego portuário de um dos centros comerciais marítimos mais importantes da Europa. Não está, porém, nada claro que consigam seus objetivos, levando-se em conta o impressionante contingente policial e a reputação das forças de segurança de Hamburgo, conhecidas no resto do país por sua dureza e caráter repressivo. Durante esta semana reprimiram manifestações com canhões de água e desmantelaram os acampamentos em que os manifestantes pretendiam dormir.
Cúpula alternativa
Milhares de ativistas de toda a Europa vêm realizando desde quarta-feira uma cúpula alternativa, na qual debatem os problemas mundiais, como o comércio e as mudanças climáticas, dos quais também se ocuparão os líderes do G20. No sábado haverá a grande manifestação que reunirá, segundo as previsões dos ativistas, 100.000 pessoas.
Ao norte de Hamburgo, no centro cultural Kampnage, mais de mil jovens e não tão jovens participavam de um dos painéis da contracúpula. Escrevem também em um enorme rolo de papel sua mensagem para os líderes. “Parem com as guerras”, “Pense globalmente, atue localmente”, “Fronteiras abertas”, lê-se. “Defendemos a justiça ambiental. Nós estamos arruinando o planeta com nossa industrialização e agora os que sofrem as mudanças climáticas são os mais pobres”, argumenta um dos organizadores da contracúpula e membro da Attac. “Reivindicamos direitos sociais globais. Pedimos direito à saúde e à educação para todos.”
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