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A esperança das vacinas chega à América Latina com o Natal

No mesmo dia em que México, Chile e Costa Rica iniciaram a imunização contra o coronavírus com doses da Pfizer, a Argentina recebeu seu primeiro lote da russa Sputnik V

A enfermeira chilena Zulema Riquelme recebe a vacina contra a covid-19.
A enfermeira chilena Zulema Riquelme recebe a vacina contra a covid-19.Presidencia de Chile (EFE)

Duas enfermeiras, a mexicana María Irene Ramírez e a chilena Zulema Riquelme, e uma mulher costarriquenha de 91 anos, María Elizabeth Castillo, tornaram-se nesta quinta-feira as três primeiras pessoas da América Latina a receber vacinas contra o coronavírus em seus respectivos países, enviando uma mensagem de esperança na véspera do Natal a uma região onde a pandemia deixou quase meio milhão de mortos. O primeiro dia de vacinação latino-americana priorizou os profissionais de saúde, que atuam na linha de frente contra a covid-19, e os idosos, que passaram o último ano escutando que eram o grupo de maior risco de uma doença para a qual ainda não existe cura. No Brasil, São Paulo espera começar a vacinação em 25 de janeiro e o Ministério da Saúde estima que o melhor cenário para iniciar a estratégia nacional é no dia 20 de janeiro, mas tudo depende da chegada das vacinas e da aprovação delas pela Anvisa.

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Maria Irene Ramirez receives the first injection with a dose of the Pfizer/BioNtech COVID-19 vaccine at General Hospital, as the coronavirus disease (COVID-19) outbreak continues, in Mexico City, Mexico December 24, 2020. REUTERS/Edgard Garrido
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COLOGNE, GERMANY - DECEMBER 15: General view of the waiting area inside the completed coronavirus vaccination center in a hall at the Koelnmesse trade fair complex during the center's presentation to the media on December 15, 2020 in Cologne, Germany. The center is among hundreds of trade fair halls, gymnasiums, concert arenas and other venues that authorities are converting into vaccination centers for administering the new vaccine against Covid-19. While the first centers are reaching completion this week, inoculations will not begin before the end of December at the earliest, as European health authorities are still to approve the new vaccine. (Photo by Lukas Schulze/Getty Images)
O dilema que ameaça os ensaios clínicos da vacina contra a covid-19

Com a chegada da imunização, a possibilidade de combater o vírus parece mais real, mas os especialistas em saúde lembram que não se pode baixar a guarda e que é preciso continuar com as medidas de prevenção até que a vacinação tenha amplo alcance, sobretudo numa região onde se prevê que o processo será longo e desigual pela falta de recursos para ter acesso às doses e à infraestrutura necessária à manutenção e à distribuição. “A verdade é que este é o melhor presente que eu poderia ter recebido em 2020”, disse, após receber sua dose, a enfermeira mexicana María Irene Ramírez, quando o secretário de Saúde do México, Hugo López Gatell, lhe perguntou como se sentia. “Isso me estimula a seguir com mais segurança e mais vigor nesta guerra contra um inimigo invisível”, acrescentou a funcionária do Hospital Rubén Leñero.

A vacinação, que foi transmitida ao vivo na TV nacional numa pausa da coletiva matutina do presidente Andrés Manuel López Obrador, ocorreu um dia após o México receber as primeiras 3.000 doses da vacina da Pfizer, que serão aplicadas inicialmente nos profissionais de saúde da capital e do Estado do México e Querétaro. Segundo as autoridades, o plano é imunizar até 34 milhões de pessoas em 2021 em várias etapas, nas quais as pessoas idosas e com doenças crônicas terão prioridade.

Pouco depois de a enfermeira mexicana de 59 anos receber sua dose, na outra ponta do continente uma de suas colegas, a chilena Zulema Riquelme, de 46 anos, recebia entre aplausos, e fazendo o símbolo da vitória com os dedos, uma dose da vacina da Pfizer no Hospital Metropolitano de Santiago. O Chile é o primeiro país a implantar a vacinação contra a covid-19 na América do Sul, nove meses e 21 dias depois do início de uma pandemia que causou 16.228 mortes no país. As primeiras 10.000 doses da multinacional norte-americana chegaram na manhã da própria quinta-feira, como anunciou na véspera o presidente Sebastián Piñera, e antes do meio-dia o processo de imunização já havia começado.

Juntamente com Riquelme, os primeiros a receber a vacina foram outros quatro funcionários do serviço público de saúde. “Cada um deles representa um grupo daqueles que trabalham diariamente nas UTIs de diversos hospitais públicos, formando a primeira linha de defesa contra o vírus”, informou a Presidência. Funcionários de três hospitais de Santiago receberam a vacina nesta quinta e, a partir de sexta, será a vez de equipes sanitárias de outras três regiões do sul do país ―Biobío, La Araucanía e Magallanes―, onde atualmente se registra uma alta quantidade de contágios. Outras 10.000 doses da Pfizer chegarão na próxima semana ao Chile. Segundo o ministro da Saúde, Enrique París, entre janeiro e fevereiro o país espera receber cinco carregamentos adicionais de vacinas do laboratório Sinovac, com quase 10 milhões de doses.

Na Costa Rica, após as 10h30 da manhã, duas pessoas idosas foram as primeiras a receber a imunização, um dia após a chegada ao país de um lote de quase 10.000 doses da vacina da Pfizer procedente da Bélgica. “Sou muito grata a Deus, porque pedi muito a Ele. Minha vida é muito importante para mim”, disse após ser vacinada Elizabeth Castillo, de 91 anos, que mora no Lar de Idosos Propam, em Tres Ríos de Cartago, segundo o jornal La Nación. Nesse mesmo centro, Jorge de Ford, 72, também recebeu uma dose. “Minha mensagem é simplesmente que todos sejam vacinados. Não doeu nada”, afirmou o aposentado.

Justamente os idosos e os profissionais de saúde, alguns deles vacinados nesta quinta-feira, terão prioridade na aplicação da vacina na Costa Rica, que na próxima semana receberá quase 12.000 doses adicionais. O país espera imunizar 80% da população até novembro de 2021.

Na véspera, o presidente da Costa Rica, Carlos Alvarado, declarou que a chegada das vacinas é uma boa notícia na batalha contra o coronavírus, mas lembrou que não se pode baixar a guarda enquanto não houver uma ampla imunização entre os habitantes. “As vacinas são um respiro na véspera do Natal. Nesta época, vamos dar de presente o mais importante: saúde, cuidando de nós mesmos e respeitando os protocolos sanitários”, escreveu Alvarado em sua conta do Twitter.

Vacina russa chega à Argentina

Por sua vez, a Argentina recebeu nesta quinta-feira as primeiras 300.000 doses da vacina russa Sputnik V, com as quais o país iniciará a imunização na próxima semana. Em meio a uma grande mobilização midiática, o ministro da Saúde, Ginés González García, e o chefe de Gabinete, Santiago Cafiero, receberam nesta quinta o avião procedente de Moscou no aeroporto de Ezeiza. “Serão 118.000 pessoas dedicadas à vacinação. É uma das maiores operações já realizadas na história”, disse Ginés na coletiva.

A distribuição da Sputnik V (que deve ser mantida a 18 graus negativos) em todo o amplo território argentino é um grande desafio logístico para o Governo nacional e os provinciais. Segundo o esquema previsto, em janeiro chegarão outras cinco milhões de doses da vacina russa e, em fevereiro, outras 14,7 milhões. Para alcançar uma eficácia de 95% contra a covid-19, cada pessoa deve receber duas doses com intervalo de 21 dias.

Os primeiros a serem imunizados na Argentina serão os profissionais de saúde com maior risco e nível de exposição ao vírus. Em seguida, virão os demais profissionais essenciais. O Governo diz que em breve o soro também poderá ser aplicado aos maiores de 60 anos, principal grupo de risco e uma das prioridades da campanha de vacinação. Até o momento, porém, essa faixa etária não foi autorizada por Moscou – o que gerou duas críticas por parte da oposição.

O executivo encabeçado por Alberto Fernández mantém conversas paralelas com outros fabricantes mundiais de vacinas. Parecia que a primeira a estar disponível seria a da Pfizer, como ocorreu com outros países americanos e europeus. Mas as negociações estão travadas, e Ginés reiterou nesta quinta que a multinacional farmacêutica tem “exigências que não podem ser cumpridas dentro da lei argentina”. Os laboratórios autorizados funcionam a todo vapor para fabricar todas as doses possíveis, mas as vacinas disponíveis ainda são insuficientes para a demanda, e existe um “déficit mundial”, segundo o ministro argentino da Saúde. Outro acordo que ainda não foi fechado é com a chinesa Sinopharm Group, responsável por outra das vacinas.

No Brasil, não há uma data fechada para começar a vacinação nacional contra a covid-19. O Governo Bolsonaro ―que abraçou uma batalha política e ideológica na corrida pelos imunizantes e atrasou o planejamento nacional― tem acordo fechado para aquisição e transferência de tecnologia da vacina da AstraZeneca. E negocia aquisições dos imunizantes da Pfizer e da Sinovac, esta última produzida em acordo com o Instituto Butantan, do Governo de São Paulo. Segundo o ministro Eduardo Pazuello, o melhor cenário é para começar a vacinação no dia 20 de janeiro, mas uma data só poderá ser definida após a Anvisa autorizar um imunizante e as doses chegarem aos estoques da pasta. Antes, a previsão do Governo era meados de fevereiro. O governador João Doria, por sua vez, espera iniciar a vacinação em São Paulo no dia 25 de janeiro com a vacina da Sinovac, mesmo que o Butantan tenha adiado a divulgação dos dados de eficácia da fase 3 do imunizante para então solicitar o aval da Anvisa. Autoridades de saúde dizem que há prazo viável para manter a data.

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