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Por dentro do Sinovac, laboratório chinês parceiro do Butantan que está no centro da corrida pela vacina

O EL PAÍS visita a fábrica de Pequim que pretende comercializar imunização contra a covid-19 já no começo de 2021. No Brasil, instituto paulista pode ampliar testes para 13.000 voluntários

Funcionário do laboratório Sinovac, que desenvolve uma vacina contra a covid-19.
Funcionário do laboratório Sinovac, que desenvolve uma vacina contra a covid-19.Ng Han Guan (AP)
Macarena Vidal Liy
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El médico británico Jeremy Farrar, director del Wellcome Trust.
“Se vacinarmos 20% ou 30% da população de cada país poderemos voltar à normalidade”
Un voluntario recibe la semana pasada en São Paulo la segunda dosis en los ensayos clínicos de la vacuna del coronavirus de  desarrollada por la empresa china Sinovac.
laboratório mundial da corrida contra o coronavírus
BRA01. SÃO PAULO (BRASIL), 21/07/2020.- Fotografía cedida por el Gobierno de Sao Paulo que muestra la aplicación de una vacuna contra el nuevo coronavirus desarrollada por el laboratorio chino Sinovac, este lunes en una Clínica de Sao Paulo (Brasil). Las primeras dosis de la vacuna contra el nuevo coronavirus desarrollada por el laboratorio chino Sinovac empezaron a ser aplicadas este lunes a un grupo de voluntarios, todos ellos profesionales de la salud del Hospital de las Clínicas de Sao Paulo. EFE/ Cortesía Gobierno de Sao Paulo/SOLO USO EDITORIAL/NO VENTAS/NO ARCHIVO
Quem receberá as primeiras vacinas contra a covid-19?

As instalações do laboratório farmacêutico Sinovac na zona sul de Pequim são tão novas que ainda cheiram a tinta. Nas salas reservadas ao controle de qualidade, duplas de cientistas usando trajes de proteção enchem pipetas com gotas de um líquido transparente, para comprovar os níveis de pureza da substância e as suas concentrações de proteínas e de alumínio. Vários andares abaixo, técnicos em aventais azuis e protegidos por máscaras, luvas e toucas vigiam o processo pelo qual, em duas linhas de montagem, as ampolas de vidro transparente são etiquetadas e cuidadosamente agrupadas em caixas. Nas embalagens, letras pretas sobre um fundo laranja e branco proclamam o conteúdo: “Vacina SARS-CoV-2, Inativada”.

Na corrida mundial contra o relógio em busca de uma vacina confiável contra a covid-19, que envolve a disputa por prestígio científico, lucro econômico e influência geopolítica, a China participa com uma dezena de fórmulas. Quatro estão na chamada fase 3, a mais avançada no processo de testes: a desenvolvida pela empresa CanSino em colaboração com o Exército chinês, duas do laboratório Sinopharma e a do Sinovac. As três últimas já receberam autorização para uso emergencial no país e foram aplicadas em dezenas de milhares de trabalhadores considerados essenciais. Yin Weidong, executivo-chefe da Sinovac, diz que mais de 10.000 chineses foram imunizados com a fórmula do seu laboratório.

A vacina do Sinovac poderia começar a ser vendida maciçamente já no começo de 2021, com distribuição mundial, disse Yin durante uma visita de jornalistas ao laboratório. “Nossa meta é oferecer a vacina ao mundo, inclusive os Estados Unidos e a Europa”, afirma o executivo, ele próprio já vacinado. Inicialmente, a prioridade seria para os países que participam dos ensaios clínicos.

A fórmula está sendo testada em 24.000 voluntários —9.000 somente no Brasil, onde a parceria feita com o Instituto Butantan foi anunciada com pompa pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Nesta semana a Anvisa autorizou a ampliação de pessoas testadas para 13.060. Os estudos clínicos acontecem desde o dia 21 de julho em cinco Estados e no Distrito Federal, sem nenhum registro de reação adversa grave até agora. A ideia é que o Butantan fabrique suas próprias unidades a partir da tecnologia chinesa e as distribua a outros países da América Latina. “Esperamos que nos concedam o registro (de comercialização da fórmula) no maior número possível de países”, afirma Yin. Além disso, o instituto deve receber 46 milhões de doses vacina até dezembro, sendo seis milhões já prontas para aplicação, segundo o Governo paulista.

Na última quarta, Doria anunciou os resultados de uma pesquisa com 50.027 voluntários na China que demonstram que a vacina, que será comercializada com o nome Coronavac, é segura. Do total de voluntários, 94,7% não tiveram nenhuma reação adversa. Outros 5,36% sentiram efeitos adversos de grau baixo, como dor no local da aplicação, febre moderada e perda de apetite. “Esses resultados comprovam a manifestação feita pela Organização Mundial de Saúde há duas semanas indicando a Coronavac como uma das oito mais promissoras vacinas em desenvolvimento no seu estágio final em todo o mundo”, disse o governador. .

Além do Brasil, a Indonésia e a Turquia foram países escolhidos por sua grande população e seus níveis de incidência da doença. A eles se somarão Bangladesh e possivelmente o Chile. A empresa começou a pesquisar a vacina em janeiro, centrando-se inicialmente na China e especificamente Wuhan, o foco original da pandemia, mas a reduzida incidência atual do coronavírus na população chinesa não permite mais desenvolver testes confiáveis. Oficialmente, a China não detecta novos contágios locais há mais de um mês.

Na segunda-feira, a companhia começará os testes entre crianças e adolescentes de 3 a 18 anos nos países onde realiza as provas. Neste mês, o laboratório anunciou que os resultados das fases 1 e 2 dos ensaios clínicos tinham mostrado “bons níveis de segurança e geração de imunidade” em maiores de 60 anos saudáveis, depois de terem dado resultados positivos também em adultos de 18 a 59 anos.

Ainda neste ano os resultados dos testes clínicos da terceira fase começarão a ser analisados para que os cientistas decidam se a vacina é suficientemente eficaz a ponto de solicitar sua aprovação para uso geral. Fora da China, a empresa norte-americana Pfizer espera concluir em outubro se sua vacina dá resultado; a Moderna, por sua vez, pretende chegar às conclusões provisórias em novembro.

Doses da vacina do coronavírus fabricada pelo Sinovac.
Doses da vacina do coronavírus fabricada pelo Sinovac. Ng Han Guan (AP)

A Coronavac utiliza uma das técnicas mais tradicionais na produção de vacinas, os vírus inativos. É o mesmo método usado no desenvolvimento de medicamentos para doenças como a gripe aviária, a pólio e a gripe sazonal. O vírus inativo é inoculado no paciente para que seu organismo comece a gerar anticorpos. Segundo Yin, até agora os resultados foram muito animadores: nos testes em macacos, a fórmula se mostrou efetiva para as diferentes cepas conhecidas do coronavírus causador da covid-19.

Se tudo correr bem, o laboratório chinês teria condições de fabricar quase 300 milhões de doses anuais a partir de 2021 nestas instalações que começaram a ser construídas em março especialmente para o desenvolvimento da vacina, num terreno de 20.000 metros quadrados. A cada minuto, explica seu diretor de empacotamento, são produzidas dezenas de caixas no grande espaço branco de sua sala de embalagem, tão nova que ainda se vê o espaço vazio em alguma tomada que falta ser instalada.

China está fora de coalizão mundial

Em maio, o presidente chinês, Xi Jinping, dizia que a vacina que seu país viesse a desenvolver seria “um bem público global”, compartilhado com o resto do mundo. Mas até agora nem a China nem os Estados Unidos aderiram à iniciativa COVAX, respaldada pela Organização Mundial da Saúde com o objetivo de tornar a futura imunização contra a covid-19 amplamente acessível para todo o planeta.

Pequim, por intermédio da sua chancelaria, afirma apoiar a iniciativa, que já recebeu o respaldo de 156 países, e promete colaborar com o resto do mundo para encontrar a cura. Mas, embora tenha deixado a porta aberta a aderir futuramente, deu sinais de que essa cooperação ocorrerá fora do marco multilateral. Segundo Wang Wenbin, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, os planos chineses são “basicamente iguais aos da COVAX”.

A potência asiática prometeu acesso prioritário a países sócios, como os países da bacia do Mekong —Vietnã, Camboja, Tailândia, Laos e Mianmar, nações vizinhas e majoritariamente com sistemas hospitalares frágeis. Também serão beneficiados os participantes da chamada iniciativa da Rota da Seda e da Organização para a Cooperação de Xangai, uma aliança de segurança promovida por Pequim.

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