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Espanha confirma primeiro caso de coronavírus

Paciente, que não apresenta sintomas, é um turista que viajou às ilhas Canárias após ter tido contato com doente na Alemanha

Homem usa máscara na sacada de hospital em La Gomera, na Espanha, onde um caso de coronavírus foi confirmado.
Homem usa máscara na sacada de hospital em La Gomera, na Espanha, onde um caso de coronavírus foi confirmado.BORJA SUAREZ (Reuters)
Pablo Linde

A Espanha confirmou o seu primeiro caso confirmado do coronavírus de Wuhan, que já deixou 259 mortos e mais de 11.000 contaminados em todo o mundo. O Ministério de Saúde espanhol informou que se trata de uma das cinco amostras que haviam sido recebidas de La Gomera, uma das Ilhas Canárias, cerca de 1.800 quilômetros a sudoeste de Madri. O protocolo foi ativado depois de um alerta do ministério para que fossem localizados na área dois turistas que tinham estado em contato na Alemanha com um paciente diagnosticado de infecção pelo coronavírus 2019-nCoV. Uma vez localizados, o alerta se estendeu a outras três pessoas com as quais vinham convivendo na ilha.

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O paciente está internado e isolado no Hospital Nuestra Señora de Guadalupe, na mesma ilha, e não apresenta sintomas. Segundo o Governo, ele foi infectado por outra pessoa que tinha sinais da enfermidade, o que torna pequena a hipótese de que o vírus possa ser transmitido por pacientes assintomáticos.

Segundo fontes do ministério, a confirmação não significa um alerta maior no país, e o risco de que a epidemia se estenda pela Espanha continua sendo muito baixo. Desde que a doença foi detectada na China, no fim de dezembro, começou a saltar para outras regiões, chegando a 20 países. A grande maioria dos casos e as mortes (90%) localizam-se na província de Hubei, cuja capital, Wuhan, é o epicentro do surto e foi colocada sob quarentena. Mais tarde, em 13 de janeiro, o vírus foi detectado na Tailândia, o primeiro caso no exterior. A partir daí, detectaram-se positivos em Taiwan, Malásia, Cingapura, Coréia do Sul, Japão, Vietnã, Nepal, Sri Lanka, Camboja, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, Índia, Austrália, Estados Unidos, Canadá, França, Finlândia, Alemanha, Itália e, agora, Espanha.

A rápida ascensão do número de casos —em pouco mais de um mês superou os números da síndrome respiratório aguda grave (SARS, na sigla em inglês), o antecedente mais similar— e os primeiros contágios fora da China levaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar emergência sanitária internacional na quinta-feira. Essa medida permite ao organismo coordenar ações e fazer recomendações aos países, embora por enquanto o protocolo não tenha mudado substancialmente com relação a antes do alarme global. Descartou-se aconselhar os países a restringirem o comércio ou as viagens para a China.

A grande maioria dos contágios na China resulta em enfermidades leves. Só 20% das que chegam aos hospitais —é mais que provável que haja outras tão tênues que nem sejam detectadas— se agravam. Se tudo correr bem, como acontece por enquanto no caso das Canárias, o paciente simplesmente terá que esperar que a doença passe, sem cuidados muito especiais, já que não existe um tratamento contra o vírus. Podem ser quatro a seis dias de febre, e não muito depois receberia alta, segundo Arribas.

O problema surge quando a função respiratória se vê afetada. “Nesse momento necessitamos capacidade de oxigenar o paciente e conectá-lo a uma máquina que o ajude a respirar”, explica o especialista. Este é um dos problemas com os quais se deparou na China, já que, embora a taxa de mortalidade do 2019-nCoV seja baixa (cerca de 2%, e caindo à medida que a crise avança, enquanto para a SARS superava 10%), acaba sendo um número alto de pacientes que necessitam desse suporte.

Os detalhes conhecidos dos mais de 200 mortos registados até agora apontam majoritariamente para pessoas idosas, que além disso tinham patologias pré-existentes. Essas são as situações mais delicadas. O cuidado para todos os casos graves passa por monitorar o paciente por completo, como em qualquer outra doença que exija monitoramento intensivo de pressão arterial, frequência cardíaca, saturação de oxigênio e outras constantes que os especialistas em cuidados intensivos vigiam para tratar de salvar os casos que se complicam. Nessas circunstâncias, é necessário um esquema de UTI com um médico e um enfermeiro por turno, explica Arribas, mas “não é diferente do cuidado de qualquer [paciente] crítico, não há nada especial no caso do coronavírus”.

O primeiro caso positivo dessa doença na Espanha coincidiu com a volta ao país dos 21 espanhóis retidos em Wuhan, que aterrissaram nesta sexta-feira por volta de 18h40 (14h40 em Brasília) no aeroporto de Torrejón de Ardoz, em Madri. Todos eles chegaram na mesma noite em um ônibus ao hospital militar Gómez Ulla, na capital, onde permanecerão durante 14 dias isolados no 17º andar. Os agentes de saúde receberam um curso específico para atendê-los.

Como foi detectado

Para detectar o caso de La Gomera, aplicou-se o protocolo prévio que existe para localizar possíveis doentes. São aqueles que estiveram na zona de contágio ou em contato com alguma pessoa com a doença e, uma vez na Espanha, desenvolveram certos sintomas. Os centros de saúde e hospitais remetem suas suspeitas à Saúde Pública, que analisa o caso e decide se cabe investigá-lo. Para analisá-lo é necessário tomar uma amostra de saliva, que é enviada ao Centro Nacional de Microbiologia de Madri. Ali, faz-se um teste de reação em cadeia da polimerase, um método habitual para detectar doenças infecciosas. Uma máquina identifica o RNA do agente patogênico e determina se a amostra apresenta o coronavírus, como aconteceu em La Gomera.

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