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Coronavírus de Wuhan tem primeiro caso ‘supercontagiante’ investigado pela China

Um paciente transmitiu a doença a pelo menos 16 profissionais da saúde. Episódios desse tipo foram decisivos na expansão de surtos como o da SARS

Um morador da cidade de Macau se protege do coronavírus.
Um morador da cidade de Macau se protege do coronavírus.Anthony Kwan (Getty Images)
Oriol Güell

As autoridades chinesas investigam o primeiro caso em Wuhan de um paciente supercontagiante —tradução da expressão inglesa usada em medicina, super spreader—, um doente que transmitiu o coronavírus a pelo menos 16 profissionais que o atenderam. Os supercontagiantes são pessoas cuja capacidade de transmitir o vírus, por razões às vezes desconhecidas, é muitas vezes superior à de pacientes comuns.

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“Se com a SARS [síndrome respiratória aguda grave] um paciente costumava contagiar de uma a quatro pessoas, com esses doentes essa cifra disparou para 36”, explica Natalia Rodríguez, médica do serviço de saúde internacional do Hospital Clínic de Barcelona e pesquisadora do ISGlobal.

A entrada em cena destes grandes disseminadores do coronavírus em Wuhan agrega um novo elemento de preocupação para as autoridades. “Identificá-los precocemente poderia ser útil para facilitar o controle do surto, mas por enquanto não se sabe como, e ainda é cedo para entender seu papel nesta epidemia”, disse José Miguel Cisneros, chefe de doenças infecciosas do Hospital Virgen del Rocío (Sevilha).

O papel desempenhado pelos supercontagiantes mais destacados das epidemias da SARS (em 2002/2003) e MERS (síndrome respiratória do Oriente Médio, que provocou uma epidemia em 2014/2015) já figuram nos anais da medicina por sua importância, além de servirem como referência em Wuhan por também terem sido causados por coronavírus. O médico Liu Jianlun é considerado a pessoa que involuntariamente fez a SARS deixar de ser um problema exclusivamente chinês para se tornar uma epidemia global. Esse profissional, que acabou morrendo por causa da doença, insistiu em ir a um casamento familiar em 2012, em Hong Kong, apesar de se encontrar indisposto e com alguns sintomas da doença após atender vários doentes. Hospedou-se no nono andar do Hotel Metrópole, onde contagiou outros 16 hóspedes que tinham quartos vizinhos. O vírus foi depois encontrado em áreas comuns, como o corredor e o saguão dos elevadores no térreo. Esses indivíduos contaminados no hotel, por sua vez, propagaram o vírus para o Canadá, Vietnã, Singapura e Taiwan.

No caso da MERS, um só paciente de um hospital de Seul contaminou 82 pessoas, entre pacientes, visitantes e outros profissionais, o que responde por quase metade dos 186 contaminados pelo surto que a Coreia do Sul sofreu em 2015.

O fato é que “não se conhecem muito bem todas as razões que levam uma pessoa a se tornar supercontagiante”, observa Natalia Rodríguez. Há alguns fatores comuns para todas as pessoas: “Quem está mais doente contagia mais do que quem está menos doente. Quem não está isolado, mais do que quem está”.

Mas há outros fatores próprios, inclusive genéticos. “Costumam ser pessoas incapazes de frear adequadamente a multiplicação do vírus em seu organismo e que mantêm uma alta carga viral nas vias respiratórias”, esclarece Pere Godoy, presidente da Sociedade Espanhola de Epidemiologia (SEE). Cisneros destaca a enorme variabilidade entre pessoas quanto à capacidade de transmitir infecções, porque “isto é o resultado da interação de três fatores: o micro-organismo, o paciente e a população exposta”.

A supercontagiante mais famosa da história é Mary Mallon, conhecida como Mary Tifoide, cozinheira, portadora assintomática da bactéria da febre tifoide, que foi isolada após deixar para trás um rio de novos casos nos EUA, no começo do século XX.

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