Seleção desfalca clubes e estreia nas Eliminatórias com estádio vazio e adversário desmantelado
Experimentando desprestígio por prejudicar grandes times, Brasil inicia caminhada pela vaga na Copa de 2022 com goleada sobre a Bolívia
O Palmeiras entrará em campo diante do São Paulo, neste sábado, sem seu goleiro titular Weverton e o volante Gabriel Menino. Já o Flamengo enfrenta o Vasco ressentindo-se das ausências do zagueiro Rodrigo Caio e do meia Everton Ribeiro. Os desfalques em clássicos impostos aos dois clubes mais ricos do país, que miram a liderança do Campeonato Brasileiro, evidenciam como a seleção tem deixado de ser motivo de orgulho e se tornou um estorno para muitos torcedores brasileiros. A equipe de Tite estreou nas Eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2022 nesta sexta-feira, sob olhares de desprezo e aversão por debilitar times locais, com goleada de 5 a 0 sobre a Bolívia.
Como o calendário nacional de competições não prevê paralisação em datas-FIFA, reservadas aos compromissos de seleções, os clubes pagam o preço por investir em bons jogadores e perdê-los em até três rodadas a cada convocação de Tite. Uma situação que acaba constrangendo o próprio treinador, obrigado a adotar critérios paralelos à escolha dos melhores para não prejudicar demais uma ou outra equipe. Some-se a essa irracionalidade o fato de iniciar um torneio continental em meio à pandemia de coronavírus que ainda castiga a América do Sul.
A partida desta sexta, antes prevista para março, desatou uma nova e desafiadora realidade para as seleções. Adversária do Brasil na estreia, a Bolívia vive situação caótica. O presidente da federação de futebol morreu por covid-19 em julho. Uma briga política pela sucessão no poder resultou em intervenção do Governo boliviano, que corre risco de terminar em exclusão do país das competições oficiais, e atrasou o retorno do futebol local. Como os clubes ainda não voltaram à ativa, o técnico César Farias reuniu os jogadores há quase dois meses para treinamentos com a seleção. Porém, sofreu baixas por boicotes de dirigentes dos times e enfrentou o Brasil colocando em campo uma equipe totalmente desmantelada, ainda desfalcada de suas referências que atuam no exterior.
Mais favorito do que nunca, pela fragilização de um adversário com amplo retrospecto desfavorável, o selecionado de Tite não teve o goleiro Alisson, lesionado, e contou com a plena recuperação de Neymar, que sentia dores nas costas. No último encontro com a Bolívia, vitória por 3 a 0 na estreia pela Copa América, no ano passado. Dessa vez, o jogo aconteceu na Arena do Corinthians, em Itaquera, mas sem público por causa das medidas restritivas em razão da pandemia. O que não modificou tanto a atmosfera das arquibancadas em comparação com o duelo passado, no Morumbi, quando o preço médio do ingresso esteve perto de bater 500 reais. Em alguns momentos da partida, tamanha a apatia da torcida, era possível escutar as instruções de Tite aos jogadores no gramado.
Os incômodos desfalques aos clubes não são exclusividade do Brasil. Palmeiras e Flamengo, por exemplo, também perderam jogadores para outras seleções, casos de Gustavo Gomez (Paraguai), Matias Viña e De Arrascaeta (Uruguai) e Isla (Chile). Entretanto, o fator seleção pode causar ainda mais problemas aos times até o fim da temporada, já que a seleção sub-20, apelando ao patriotismo e à honra de “defender o país”, também convocou atletas para um período de preparação visando o Sul-Americano da categoria. Mesmo sem a obrigação de liberar jogadores por não se tratar de data-FIFA, por enquanto, somente o Palmeiras manifestou intenção de não ceder seus convocados.
Com a cumplicidade dos clubes frequentemente prejudicados pela CBF, a seleção brasileira perde prestígio entre torcedores e, agora, sem público nos estádios, se vê ainda mais isolada em meio à concorrência por atenção com o inadiável campeonato nacional. Em uma sexta-feira à noite, mesmo diante das restrições de uma pandemia que está longe de acabar, o que não faltou ao torcedor era programa melhor que assistir a um jogo da seleção que se julga estar acima do seu time.
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