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Bolsonaro busca se colar ao Corinthians, mas clube e patrocinador reagem

Diretoria e BMG marcam distância de encontro entre ex-jogador Marcelinho Carioca e o presidente da República, presenteado com camisa do time alvinegro

Bolsonaro Marcelinho Corinthians
Bolsonaro e Marcelinho gravam vídeo durante encontro em Brasília.Reprodução

Em seu afã de surfar na popularidade do futebol, o presidente Jair Bolsonaro comemorou mais gol nesta quarta-feira. Ele se encontrou com o ex-meia Marcelinho Carioca e recebeu de presente uma camisa do Corinthians. Apesar de se dizer torcedor do Palmeiras, Bolsonaro fez questão de se exibir vestindo o uniforme rival em vídeo gravado pelo ídolo corintiano. “Nosso presidente, Jair Messias Bolsonaro, com a camisa do Coringão. Isso é democracia. É palmeirense, mas ele quer que todos os clubes tenham liberdade para trazer todos os nossos craques de volta para o país e abrilhantar o futebol”, declarou Marcelinho.

Torcedores corintianos se dividiram ao criticar ou exaltar o encontro. Porém, o clube não hesitou em se distanciar da associação de imagem ao presidente, destacando em nota que a deferência só aconteceu por iniciativa de Marcelinho, sem o conhecimento da diretoria alvinegra. “A entrega da camiseta nesta quarta, na Presidência da República, foi uma ação única e exclusiva do ex-atleta”, manifestou o Corinthians, em sintonia com o Banco BMG, seu principal patrocinador, que utiliza Marcelinho como garoto-propaganda, mas também rechaçou ter avalizado o encontro. “O vínculo com o ex-jogador foi formalizado tão somente para a participação dele em campanhas pontuais realizadas pelo banco. O encontro particular entre Marcelinho Carioca e o presidente Jair Bolsonaro não tem qualquer relação com a instituição.” No vídeo, o ex-atleta não afirma ter agido em nome do clube nem do patrocinador.

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Por sua vez, Bolsonaro não perdeu a oportunidade de capitalizar com o encontro. Em suas redes sociais, divulgou outro vídeo, em que ele e Marcelinho aparecem batendo bola, além de defenderem a MP do Futebol, uma cartada do presidente, em aliança com o Flamengo, para tentar enfraquecer a Globo na disputa pelos direitos de transmissão dos campeonatos. “É motivo de satisfação e honra receber o Marcelinho, falando tão bem dessa MP, que realmente é um trabalho de muitas mãos. Mas parte do Flamengo, tanto é que eu também botei a camisa deles. Isso nos dá liberdade, volta a alegria do futebol e dos craques. Os times vão deixar de ficar subordinados ao monopólio”, disse o presidente, em referência implícita à Globo. Um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, definiu que “essa é uma luta de todas as torcidas contra monopólio de transmissão global” ao comentar sobre o encontro.

Presidido por Andrés Sanchez, que foi deputado federal pelo PT, o Corinthians aderiu recentemente ao manifesto assinado por 16 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro em apoio à MP do Futebol, que ainda precisa ser ratificada pelo Congresso Nacional. “Os torcedores ganham com o fim dos apagões de jogos, com mais craques em campo e com um melhor espetáculo no Brasil. Os clubes ganham com mais liberdade e receitas. E o país ganha com os clubes mais sólidos financeiramente, maior geração de empregos e crescimento de impostos pagos aos governos”, argumentam na carta que pede a conversão imediata da medida provisória em lei.

Outro ex-jogador corintiano, o comentarista Walter Casagrande se pronunciou sobre o encontro entre Marcelinho e Bolsonaro, fazendo alusão ao período da Democracia Corinthiana, movimento encabeçado por ele, Sócrates e Wladimir que protestava contra o regime militar na década de 1980. “Em 1979, a torcida do Corinthians abriu uma faixa dizendo anistia, para os presos e exilados políticos”, lembrou Casagrande. “Em 82, 83 e até 85, essa camisa era da Democracia Corinthiana. Essa camisa representa liberdade e democracia. Nenhum ex-jogador tem direito de representar o clube politicamente, eu também não tenho. Isso aqui sempre foi democracia.”

Na nota publicada nesta quarta, a direção ainda ressaltou a vocação popular e democrática do clube paulista. “O Corinthians se mantém fiel às suas tradições, respeitando todas as correntes políticas e coerente com suas origens de clube de todos os brasileiros.” Já o presidente Andrés Sanchez, por meio de seu perfil no Twitter, acrescentou que “Marcelinho não é contratado nem funcionário do Corinthians. Como cidadão, faz o que bem entende.”

Depois de dizer “isso é democracia”, ao elogiar Bolsonaro por vestir a camisa do Corinthians mesmo sendo torcedor do Palmeiras —ele também já vestiu a do Santos, outro rival do time alviverde em São Paulo—, Marcelinho sugere que a MP editada pelo Governo é uma forma de valorizar o futebol feminino, embora o texto não inclua nenhuma medida específica direcionada à modalidade. Em maio, jogadoras de diversos clubes firmaram abaixo-assinado exigindo a extensão do auxílio emergencial a atletas, que havia sido vetada pelo presidente. O Senado analisa um projeto de lei aprovado pela Câmara que garante o benefício a profissionais do esporte. Para muitas jogadoras que ficaram desamparadas nos primeiros meses da pandemia, entretanto, o auxílio não deve chegar a tempo do reinício das atividades, já que a CBF prevê a retomada do Campeonato Brasileiro feminino para o fim de agosto.

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