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PSDB escolhe João Doria para ser seu candidato à presidência em 2022 e tentar lugar na terceira via

Partido deixa prévias marcadas por falhas técnicas e trocas de acusações com o desafio de aparar as arestas internas e se apresentar como alternativa viável apesar de desempenho baixo nas pesquisas

Os candidatos das prévias do PSDB Arthur Virgílio (AM), Joao Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) se cumprimentam antes do resultado.
Os candidatos das prévias do PSDB Arthur Virgílio (AM), Joao Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) se cumprimentam antes do resultado.ADRIANO MACHADO (Reuters)

O governador de São Paulo, João Doria, será o candidato do PSDB nas eleições de 2022 para presidente do Brasil. A decisão foi tomada neste sábado, 27 de novembro, após as tumultuadas eleições prévias do partido, que chegaram a ser adiadas por conta de falhas no aplicativo de votação, estendendo assim a troca de farpas e acusações entre o candidato e seu principal adversário, o governador gaúcho Eduardo Leite.

Doria recebeu 53,99% dos votos, contra 44,66% de Leite e 1,35% do ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, coadjuvante na disputa. Diferentemente do que ocorreu no domingo passado, o sistema contratado funcionou sem registro de problemas técnicos. Estavam aptos a votar 44.700 filiados ao PSDB, incluindo deputados federais e estaduais, senadores, governadores, prefeitos e vereadores.

Doria, 63 anos, foi eleito em 2018 para o Governo de São Paulo, deixando o cargo de prefeito da capital paulista, para o qual foi escolhido em 2016. Ele agora terá a missão de ganhar espaço entre outros pré-candidatos da chamada terceira via, atraindo eleitores que rechaçam votar em Lula (PT) ou no presidente Jair Bolsonaro. As pesquisas, porém, confirmam a desidratação do partido desde o pleito de 2018.

Em seu discurso após a vitória nas prévias, Doria se colocou como representante de um “centro democrático liberal social” e fez ataques a Lula e a Bolsonaro, aos quais acusou de populismo. Criticou a gestão do presidente na pandemia de covid-19 no Brasil, que provocou mais de 600.000 mortes. “E nós fomos buscar a vacina”, declarou, trazendo o tema que é a sua principal frente de batalha com o Governo federal, que atrasou a negociação de imunizantes enquanto São Paulo, por meio do Instituto Butantan, fechou parceria com o laboratório chinês Sinovac para a produção do imunizante CoronaVac. “Jair Bolsonaro vendeu um sonho e entregou um pesadelo”, declarou.

O tucano levantou a bandeira das investigações da Lava Jato para fazer frente a Lula. “Os Governos Lula e Dilma representam a captura do Estado no maior esquema de corrupção do qual se tem notícia. Eu não esqueço isso”, declarou. O tema da corrupção tende a ganhar força nos debates eleitorais do próximo ano com a eventual candidatura do ex-juiz Sergio Moro (Podemos), que teve uma série de sentenças contra o petista anuladas sob acusação de parcialidade. Ao atacar Lula, Doria também marca distância de seu padrinho político, Geraldo Alckmin (PSDB), aventado como opção de vice do petista caso concretize sua migração para o PSD. “Lula, se prepare para o debate. Eu vou cobrar isso de você. Você não terá em mim alguém complacente”, disse.

O PSDB sai das prévias rachado após a disputa entre Doria e Leite, marcada por ataques entre os grupos ligados a eles. Em declarações neste sábado, antes do encerramento da votação, tanto Doria quanto Leite minimizaram o desgaste e afirmaram que divergências fazem parte do processo democrático, destacando que outros grandes partidos não realizam prévias para definir seus candidatos. “É verdade que nós tivemos discussões mais tensas e acirradas, mas só nós tivemos debates”, afirmou o gaúcho. “Fazer democracia no Brasil não é fácil, mas é o melhor caminho”, disse Doria, que classificou o adversário de “jovem, eficiente e dedicado homem público”.

Uma dos momentos de maior tensão ocorreu na semana passada, quando militantes ligados a Doria vazaram um diálogo entre ele o governador do Rio Grande do Sul no início do ano. Nele, Leite teria pedido para que seu colega adiasse o início da vacinação contra covid-19 em São Paulo, para que fosse possível seguir um plano nacional. Na ocasião, Leite atendia a um pedido do então ministro da Secretaria de Governo, o general Luiz Eduardo Ramos.

Doria, que usa a produção da vacina pelo Butantan como bandeira de campanha, ignorou o pedido. Segundo relatou ao jornal O Globo, ele teria respondido a Leite que iniciaria a vacinação assim que a Coronavac tivesse autorização da Anvisa, o que de fato ocorreu, em 17 de janeiro. O governador do Rio Grande do Sul alega, por sua vez, que só relatou ao seu colega o pedido feito pelo ministro Ramos.

A notícia caiu mal para Leite, que, assim como Doria, apoiou o presidente Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018. Ambos se apresentam hoje como oposição ao mandatário, mas Doria é visto como sendo mais firme que Leite. O gaúcho foi apoiado pelo deputado federal Aécio Neves, que vem empurrando o PSDB para o colo de Bolsonaro e do Centrão —mesmo quando a orientação do partido é votar contra as pautas do Governo, como no caso da PEC dos Precatórios.

Vencedor das prévias, Doria também tem o desafio de lidar com um PSDB corroído pelo bolsonarismo e se fortalecer na disputa. De acordo com a última pesquisa Ipespe (antigo Ibope), tanto Doria como Leite não passam dos 2% das intenções de voto. Conforme contou o EL PAÍS, o partido é o terceiro que mais apoia as pautas do presidente no Congresso e está em vias de sofrer uma debandada de seus parlamentares em abril do próximo ano, quando 13 de seus 33 deputados federais podem deixar a legenda. O principal motivo é que, sem um palanque presidencial de peso, os tucanos temem dificuldade para se reeleger. Buscam, assim, legendas de partidos do Centrão, como o PL (que deve receber Bolsonaro nos próximos dias), PP ou PRB.

A empresa BeeVoter foi a responsável pela tecnologia do pleito deste sábado. Ela foi contratada após falhas que impediram, no último domingo, muitos membros do partido de concluírem seus votos pelo aplicativo desenvolvido pela fundação gaúcha FAURGS, ligada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em nota, a entidade disse considerar “plausível” a ocorrência de um ataque de hackers. A hipótese é referendada pelo presidente da sigla, Bruno Araújo.

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