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De olho na variante Delta, Brasil vai revacinar idosos e adiantar segunda dose de Pfizer e AstraZeneca

País aplicará reforço em maiores de 70 anos imunizados há seis meses. Pacientes imunossuprimidos também serão contemplados 28 dias após segunda dose. Especialistas elogiam e recomendam prudência

Profissional prepara uma dose da vacina contra a covid-19 no Rio de Janeiro.
Profissional prepara uma dose da vacina contra a covid-19 no Rio de Janeiro.ANDRE COELHO (EFE)
Beatriz Jucá

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(FILES) In this file photo a syringe is filled with a first dose of the Pfizer Covid-19 vaccine at a mobile vaccination clinic at the Weingart East Los Angeles YMCA in Los Angeles, California on August 7, 2021. - The US Food and Drug Administration on August 23, 2021 fully approved Pfizer's Covid-19 vaccine for people aged 16 and older, a move expected to trigger a new wave of vaccine mandates as the Delta variant batters the country. "The FDA's approval of this vaccine is a milestone as we continue to battle the COVID-19 pandemic," acting FDA Commissioner Janet Woodcock said in a statement. (Photo by Patrick T. FALLON / AFP)
Vacina contra a covid-19 da Pfizer recebe aprovação definitiva nos EUA

Mesmo com a redução progressiva no número de mortes na pandemia, o Governo decidiu reforçar a vacinação contra o coronavírus. Diante do aumento de casos de covid-19 em idosos e da circulação de variantes mais transmissíveis ou com potencial resistência às vacinas, como respectivamente Delta e Lambda, o Brasil voltará a imunizar grupos vulneráveis que já haviam completado o esquema vacinal. Pessoas com 70 anos ou mais e pacientes imunocomprometidos ―como transplantados e portadores de HIV― deverão receber uma dose de reforço do imunizante da Pfizer independentemente da vacina que tenham tomado. A nova injeção será aplicada a partir da segunda quinzena de setembro, quando o Ministério da Saúde espera distribuir a primeira dose para toda a população adulta.

Vacinas da Janssen ou AstraZeneca também poderão ser usadas como alternativa na nova estratégia, que visa a aumentar a proteção dos grupos mais vulneráveis à doença. “Com isso, nós vamos buscar uma proteção maior contra sobretudo esta variante Delta”, justificou o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. “Nos países onde esta variante tem transmissão comunitária, tem havido maior problema nos idosos e na população não vacinada”, argumentaou durante entrevista coletiva. De olho na Delta, o país também reduzirá o intervalo entre as duas doses da Pfizer e da AstraZeneca.

O Brasil vem apresentando queda na média móvel de mortes por covid-19 e menor pressão no sistema de saúde à medida que avança a campanha de imunização —a primeira dose já foi aplicada em 71% dos adultos. Em contrapartida, um boletim da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado nesta quarta (25) alerta que há uma estagnação proporcional na melhora dos indicadores da pandemia para algumas faixas etárias, especialmente a dos idosos. Cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, já observam maior incidência de covid-19 neste grupo, no qual as vacinas em geral têm capacidade menor de gerar resposta imune, e cuja duração também costuma cair mais rápido, conforme os especialistas.

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Por isso, o Brasil decidiu que pessoas com mais de 70 anos deverão receber uma nova dose seis meses após completarem seu esquema vacinal. Já nos imunossuprimidos o reforço será aplicado no prazo de 28 dias. “Já vimos que aplicar duas doses não foi capaz de gerar uma resposta imune boa neste grupo, especialmente com as novas variantes. E tem estudos que mostram que, com a terceira, melhorou. Faz sentido dar a dose de reforço agora nos idosos e nos imunossuprimidos”, aponta a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Institute, nos Estados Unidos.

Até o momento, a utilização de vacinas diferentes estava autorizada no país apenas em gestantes que haviam tomado a primeira dose de Astrazeneca, devido aos eventuais riscos de trombose. Segundo o ministro Queiroga, a Pfizer foi escolhida para a estratégia da dose extra por já ter sido testada em regimes de intercambialidade e pela maior disponibilidade dentre as aquisições feitas pelo Brasil. Garrett considera a decisão de “misturar” plataformas em idosos acertada, já que as vacinas de vírus inativado, como é a Coronavac ―a primeira a ser usada no país e aplicada na maioria desta população― provocam uma resposta imune menor neste grupo etário. Ela pondera que isso não significa que a vacina não funcione, e destaca que cada tipo de imunizante tem suas características e a ciência ainda estuda as melhores estratégias para sanar a pandemia.

Por enquanto, as vacinas usadas no mundo ainda são aquelas desenvolvidas para a variante original de Wuhan, até o momento eficazes inclusive contra as novas variantes. “Estamos aprendendo ainda. O vírus está mudando, evoluindo. Principalmente com a Delta, tivemos um impacto. Não precisamos refazer a vacina ainda, mas temos pessoas que estão adoecendo. Então precisamos revacinar os mais vulneráveis. Os mais idosos que se vacinaram em janeiro já não estão tão protegidos agora”, explica a epidemiologista Ethel Maciel.

Atualmente, muitos países no mundo discutem a aplicação de uma terceira dose da vacina em razão da disseminação da Delta, mais transmissível e motivo de problemas mesmo em países que alcançaram cobertura vacinal mais alta com duas doses, como Israel. Especialistas brasileiros celebram a estratégia da dose de reforço no país. Apesar de o Brasil só ter vacinado com duas doses pouco mais de 31% de sua população, acreditam que é necessário reforçar a proteção nos grupos mais vulneráveis e que, pelo tamanho destes grupos, não haverá maiores atrasos na imunização geral.

O Ministério da Saúde diz que ainda aguarda dados robustos para avaliar se será necessário uma nova dose nos profissionais de saúde, mas, até lá, a prioridade deverá ser revacinar idosos e imunossuprimidos e completar o esquema vacinal dos adultos —estudos mostram que apenas uma dose da vacina não induz uma resposta imune suficiente contra a Delta. Com mais de 40% da população só com uma dose, o país optou também por reduzir o intervalo da segunda injeção das vacinas da AstraZeneca e da Pfizer de 12 para oito semanas. O Ministério da Saúde diz que o atual cronograma de vacinas, se cumprido, será suficiente para estas mudanças.

Desarticulação do PNI

Tanto a antecipação da segunda dose quanto o reforço da imunização foram acordados em reunião com secretários estaduais e municipais de saúde. Horas depois do anúncio feito pelo Ministério da Saúde, o governador de São Paulo, João Dória, anunciou que iria aplicar a terceira dose em um público diferente e antes do prazo nacional: idosos com 60 anos ou mais começariam a recebê-la a partir de 6 de setembro. O Estado iniciou a campanha de imunização antes do país, no mesmo dia em que a Anvisa aprovou o uso da Coronavac. A Prefeitura de Niterói também adotou uma linha semelhante e anunciou, pelas redes sociais, que já iniciaria a terceira dose em idosos institucionalizados na próxima sexta-feira. Em entrevista coletiva, o ministro Marcelo Queiroga pediu que os Estados e municípios sigam o que foi acordado. “Se cada um quiser fazer seu próprio regime, não vai dar, porque não vamos conseguir entregar estas doses”, criticou, acrescentando que não adiantaria reclamar na Justiça. “O juiz não vai assegurar dose que não existe. O que nós queremos é que a nossa campanha siga de maneira equânime.”

A epidemiologista Ethel Maciel defende uma atuação coordenada, com um direcionamento único, inclusive para diminuir os ruídos e mal-entendidos com a população. “É muito ruim que a gente continue com este descompasso que vemos desde o início. Já é uma campanha tão confusa, cheia de fake news, e a gente corre o risco de que a população fique em descrédito”, aponta, lembrando que 8,5 milhões de pessoas já estão com a segunda dose atrasada e que uma mensagem única e uma estratégia nacional são fundamentais para completar essa imunização.

Enquanto a Delta começa a ganhar espaço no país, a variante Lambda já demanda atenção. Ela avança pela América do Sul e pode ser mais resistente à vacina (embora neste momento ainda não preocupe tanto). O Brasil ainda não passou pela onda que a Delta provocou em outros países. O tamanho dela, mais uma vez, dependerá do comportamento da sociedade, que já projeta seu novo normal animada com o descenso na curva de óbitos, apesar de uma média diária ainda ser superior a 700 mortes por dia. Estados começam a permitir eventos com capacidade cada vez maiores, governos anunciam passaporte da vacinação para o público de bares e restaurantes, e o comércio mantém o ritmo de reabertura.

“No Brasil, estamos tendo esta queda que acho ilusória. Há uma troca de variante, uma disputa da delta chegando com a Gama instalada. É normal ver uma queda neste período, pela própria epidemiologia da doença. Precisamos acelerar a vacinação e seguir com outras medidas não farmacológicas”, defende Garrett. Ela não se refere a um duro lockdown, mas ao uso de máscara, distanciamento social e restrições em atividades e eventos. “A imagem que os governantes têm que passar agora é de que não é o momento de relaxar, mas a imagem que está sendo passada no Brasil é de que já passou. Vamos viver a vida, mas em segurança”. O país registrou nesta quarta-feira mais 903 mortes e 30.671 casos de covid-19.

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