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Brasil registra recorde de 4.195 novas mortes por covid-19 e prenuncia abril “trágico”

Com dados represados por conta do fim de semana e da Semana Santa, país contabilizou 86.979 novos casos. De acordo com Margareth Dalcolmo, pneumologista da Fiocruz, “a taxa de transmissão segue extremamente alta e o ritmo de vacinação ainda está aquém do que seria desejável”

Trabalhadores do SAMU socorrem pessoas com covid-19 na madrugada de 4 de abril, em Salvador.
Trabalhadores do SAMU socorrem pessoas com covid-19 na madrugada de 4 de abril, em Salvador.Felipe Iruata (EFE)
Felipe Betim

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Mais um recorde. O Brasil registrou nesta terça-feira, 6 de abril, 4.195 novas mortes por covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando 336.947 óbitos pela doença desde o início da pandemia de coronavírus, segundo o boletim divulgado pelo Ministério da Saúde. É também a primeira vez que o país supera a marca de 4.000 óbitos contabilizados em um só dia. Por um lado, é resultado do represamento de dados do fim de semana e do feriado de Semana Santa, dias em que os laboratórios de diagnóstico fizeram menos análises. Por outro, prenuncia um mês abril com taxas ainda muito elevadas de óbitos.

“Podemos esperar um mês muito triste, muito grave, muito trágico para o Brasil. A taxa de transmissão segue extremamente alta e o ritmo de vacinação ainda está aquém do que seria desejável”, explicou por telefone a médica Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e uma das pneumologistas mais experientes do país. O Ministério da Saúde também contabilizou 86.979 novos casos de covid-19 e mais de 13 milhões de infecções desde o início da crise sanitária. “As novas variantes estão causando hoje a doença, o que significa que muita gente jovem, e não necessariamente com comorbidades, está adoecendo. Mudou o perfil de pessoas que demandam assistência e a pressão no sistema hospitalar segue muito alta”, acrescenta. Ela acredita ser possível que o país alcance a marca de 5.000 óbitos diários, caso a taxa de transmissão e a pressão no sistema de saúde não diminuam.

Em boletim divulgado nesta terça-feira pelo Observatório Covid-19 da Fiocruz, a instituição também “alerta que a pandemia pode permanecer em níveis críticos ao longo do mês de abril, prolongando a crise sanitária e colapso nos serviços e sistemas de saúde nos estados e capitais brasileiras”. Ainda de acordo com o documento, foi observado um novo aumento da taxa de letalidade, de 3,3 para 4,2%. Este indicador se encontrava em torno de 2,0% no final de 2020. Os pesquisadores acreditam esse crescimento pode ser consequência da “falta de capacidade de se diagnosticar, correta e oportunamente, os casos graves, somado à sobrecarga dos hospitais.”

Um novo recorde já era esperado desde o início do dia, uma vez que São Paulo, o Estado mais populoso e mais rico do Brasil, também registrou sua maior cifra de mortes desde o início da pandemia: 1.389 óbitos nas últimas 24 horas. Porém, o médico João Gabbardo, coordenador do Centro de Contingência da Covid-19, afirmou que a “aceleração de internações em UTI passou a ser negativa”, o que “significa que o número de novas internações é menor que o de altas” e a pressão no sistema de saúde começa a diminuir. Ainda assim, o especialista alertou que todo o cuidado é extremamente importante nos próximos dias. As taxas de ocupação de leitos de UTI seguem muito altas e superam os 89% tanto na capital paulista como em todo o Estado.

Para o neurocientista Miguel Nicolelis, os números desta terça-feira vão ao encontro a um alerta lançado na última sexta-feira por pesquisadores brasileiros da Universidade de Washington, em Seattle, nos Estados Unidos. “No melhor dos cenários, até julho o Brasil pode atingir meio milhão de óbitos. No pior dos cenários, 600.000 óbitos”, explica o especialista em seu podcast Diário do front, sua coluna em áudio que será publicada nesta quarta pelo EL PAÍS.

Para Dalcolmo, o trágico cenário no qual o Brasil se encontra só poderá ser superado se o país promover um lockdown de no mínimo duas semanas ao mesmo tempo que a campanha de vacinação ganhe um novo ritmo e se acelere. “Precisamos vacinar muita gente e muito rápido, para que consigamos realmente interferir nessa transmissão. Não adianta levar até o fim do ano para chegar a 70% da população brasileira vacinada. E não adianta dizer que basta vacinar 70 milhões de pessoas. Isso está errado”, afirma. “Temos que vacinar 150 milhões de pessoas no Brasil para que consigamos ter uma imunidade comunitária adequada. E nós precisamos fazer isso até a virada do semestre”, argumenta.

A pneumologista lembra que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem capacidade para vacinar mais duas milhões de pessoas por dia. Até o momento, não chegamos ao primeiro milhão. Está previsto que em abril os Estados comecem a vacinar a população na faixa dos 60 anos. Até o momento, pouco mais de 20 milhões de brasileiros receberam a primeira dose da vacina. Ou seja, cerca de 10% da população —muito atrás de países como Estados Unidos, Chile, Reino Unido ou Israel. “O ritmo está muito lento. É inadmissível que postos de saúde tenham fechado no feriado e que haja tanta restrição. Deveriam estar funcionando sábados, domingos, e vacinando sem parar”, argumenta a médica.

O Chile, aliás, foi de exemplo a caso de alerta. O país vive o pior momento da pandemia, com mais de 8.000 contágios diários nos últimos dias e um recorde de ocupação de leitos de UTI, apesar de 45% da população, 7 dos 19 milhões de habitantes, ter recebido pelo menos uma dose da vacina, segundo as autoridades sanitárias. Segundo especialistas, o Governo Sebastián Piñera não fez uma comunicação adequada sobre os efeitos da vacinação e quando a imunidade começa, de fato, a existir nos imunizados com duas doses. Além disso, houve uma reabertura precoce do país. A principal vacina usada no Chile é a Coronavac, também a coluna vertebral do programa de imunização brasileiro.

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