Marina Helou: “Sempre gostei de política, mas me faltava representatividade. E por que não eu?”
Em entrevista ao EL PAÍS, a candidata à prefeitura de São Paulo da Rede promete direcionar recursos para as periferias, focando em planos locais para cada distrito, e combater as desigualdades
Uma cidade voltada para o indivíduo e os problemas locais de cada distrito, antirracista e com igualdade de oportunidades. Esses são os principais compromissos firmados pela deputada estadual Marina Helou, candidata à prefeitura de São Paulo pela Rede Sustentabilidade. Aos 33 anos, ela é a mais jovem entre os candidatos. Com formação em Administração Pública, em 2015 ela deixou de lado uma bem-sucedida carreira no setor privado para se engajar em projetos de construção coletiva. “Sempre gostei de política, mas nunca tinha pensado em entrar porque me faltava representatividade. E por que não eu?”, questionou em entrevista ao vivo para o EL PAÍS nesta terça-feira.
Um dos pilares de seu plano de Governo é a descentralização da gestão municipal, transformando as subprefeituras em coprefeituras que dialogam com a população e identificam as prioridades de cada região. “O que Parelheiros precisa não é o mesmo que Cidade Tiradentes ou a Mooca precisam”. O investimento público, defende a candidata, deve ser direcionado para os bairros periféricos da cidade. “Nosso problema é como levar a cidade e as oportunidades das cidades para todas as pessoas”, argumentou.
Isso significa que um plano de recuperação econômica pós-pandemia da covid-19 para a capital passa necessariamente por levar mais emprego e renda para as periferias, estimulando empresas a contratar nesses territórios a partir de incentivos fiscais e créditos para pequenos e médios empreendedores, universalização do acesso à internet e programas de capacitação pensados para o mundo digital e os empregos do futuro. Em resumo, São Paulo precisa ser “uma cidade boa para se viver”, sem que as pessoas fiquem “presas durante duas ou três no trânsito”. Para Helou, elas “precisam ter o que precisam para viver onde moram”. Isso também significa, por exemplo, garantir “participação popular” na revisão do plano diretor, previsto para o ano que vem, e contemplar “os desafios que estão nas periferias”. O foco, insiste, deve ser no combate à pobreza e às desigualdades.
Outro desafio mais imediato é o planejamento da volta às aulas, suspensas desde o início da pandemia as escolas da capital paulista poderão abrir as portas para receber alunos em atividades presenciais a partir desta quarta-feira (7), mas apenas para atividades extracurriculares, como aulas de idiomas, de música e de esportes.“Tivemos tempo suficiente para planejar a retomada das aulas com segurança, pensando em grupos [de alunos] menores, protocolos de higienização... Não tem como voltar bar, show e restaurante sem ter clareza de como volta a escola com segurança”, argumentou.
Para a candidata da Rede, o prefeito Bruno Covas acertou em um primeiro momento da pandemia, ao preparar o sistema de saúde local para atender a demanda e evitar o colapso. “Mas ele poderia ter sido muito mais enfático nas medidas de isolamento social no começo da pandemia, para que a gente pudesse ter tido um controle do vírus mais rápido para ter uma retomada mais rápida”, opinou Helou, para quem a retomada das atividades vem sendo muito confusa. “Que mensagem a gente passa ao falar que está tudo bem e que pode ir para o bar, mas que ainda está muito perigoso e não pode ir para a escola?”, questionou.
Seus planos para a educação incluem não só abrir vagas em creches como também garantir uma boa qualidade nas que já existem, assim como fazer com que cerca de 50% das escolas municipais tenham ensino integral e foquem no período da alfabetização.
Para atender as 30.000 pessoas que moram nas ruas da capital, ela defende uma abordagem focada nas necessidades de cada indivíduo. Também promete recuperar a área de assistência social, “que tem um papel estratégico em articular políticas públicas e que sofreu com o descaso na última gestão e teve seu orçamento reduzido”. Sobre a cracolândia, ela critica os planos “que mudam a cada dois anos” e não oferecem continuidade. E defende a abordagem do programa Braços Abertos, da gestão Fernando Haddad. “O programa tem um bom princípio de olhar o problema a partir da perspectiva do indivíduo e para a construção de vínculos com emprego e renda, habitação, família, e uma politica de redução de danos para que saia de uma situação de abuso de drogas e retome sua autonomia”.
Helou conta ter escolhido a Rede Sustentabilidade por acreditar que “o grande desafio de nossa geração é pensar um novo modelo de desenvolvimento sustentável” que supere os paradigmas do século passado e “de fato combata a pobreza e gere prosperidade, criando valor a partir do meio ambiente para um novo ciclo de vida”. Ela mantém em seu site de campanha uma plataforma de colaboração para que os eleitores façam sugestões de plano de governo. E garante que sua equipe vai responder a cada um deles e que vai abarcar as ideias em seu programa. “Não sou de um partido grande, não tenho muito dinheiro, não sou muito conhecida, não lacro na internet... Mas o fato de não ser uma candidata provável não me torna menos importante nesse momento em que temos que mudar nosso imaginário sobre o que é política”, acrescentou.
A candidata ainda prometeu que, caso eleita, terá um secretariado que tenha 50% de mulheres e 50% de pessoas negras. Ela participou do programa RenovaBR e ajudou, em 2018, a fundar o movimento Vote Nelas de ampliação da participação feminina na política. Quase sem tempo de TV, a legenda aposta na campanha na Internet e nas ruas, apesar das limitações da pandemia. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde exerce seu primeiro mandato desde 2019, Marina apresentou 10 projetos de lei e assinou coautoria de outros cinco, que focam especialmente na sustentabilidade ambiental e na redução de desigualdades.
Pesquisa Ibope de intenções de voto divulgada na última sexta-feira, 2 de outubro, mostra que o candidato Celso Russomano (Republicanos) aparece em primeiro lugar, com 26% dos votos. Em segundo lugar, vem o atual prefeito da cidade, Bruno Covas (PSDB), com 21%, e o terceiro colocado é Guilherme Bolous (PSOL), com 8%, seguido de Márcio França (PSB), com 7%. Marina Helou tem 1% dos votos.
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