Márcio França: “Minha vitória em SP carimba uma derrota no Doria, que não seria mais candidato à Presidência”
Em entrevista ao EL PAÍS, candidato do PSB à prefeitura diz rejeitar a ideia de formular uma renda básica universal sem qualquer contrapartida
O candidato do PSB à Prefeitura de São Paulo, Márcio França, tenta escapar de rótulos e conflitos para angariar eleitores nas eleições municipais. Se nas eleições de 2018 França se colocou como um nome mais à esquerda do que João Doria (PSDB) e chegou a atrair o voto de parte do eleitorado petista, neste ano ele deu acenos a Jair Bolsonaro, elogiando algumas políticas do Governo Federal de olho no eleitorado conservador de São Paulo. Em entrevista ao vivo ao EL PAÍS, parte de uma série do jornal com os postulantes ao comando da maior cidade do país, França afirmou que não tem problemas em se relacionar com Bolsonaro. “Estou com preguicinha desse estilo que está na moda de ficar brigando com um e outro, porque respeito o processo eleitoral. O presidente goste ou não é o Bolsonaro”, afirmou nesta sexta-feira. O candidato disse, no entanto, que não tem afinidade com o presidente e que, se eleito, manterá um diálogo institucional republicano, mas não uma aliança.
Na percepção do candidato do PSB, caso vença as eleições municipais, seu mandato poderia mudar o tabuleiro da corrida presidencial de 2022. “Evidente que uma vitória minha em São Paulo carimba uma derrota no Doria. Penso que ele não seria mais candidato a presidente da República”, diz. O que, na avaliação de França, seria positivo já que o tucano cumpriria a promessa de concluir quatro anos de mandato. Ex-aliado do PSDB, França foi vice de Geraldo Alckmin e assumiu o Governo paulista por nove meses em 2018, após o tucano renunciar para disputar a presidência. Posteriormente, França foi derrotado por Doria quando buscou se firmar no Executivo estadual.
Na pesquisa Ibope divulgada nesta sexta-feira (2), França aparece com 7% das intenções de votos. Celso Russomanno (Republicanos) e Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) estão à sua frente, com 26%, 21% e 8%, respectivamente. A colocação do candidato do PSDB é a mesma que apresentou na pesquisa Datafolha, divulgada no dia 24 de setembro. Nela, França aparecia com a preferência de 8% dos eleitores (empatado tecnicamente com Guilherme Boulos, do PSOL, que tem 9%), e atrás de Covas (20%) e Russomanno (29%).
Ao contrário de algumas candidaturas, como a de Russomano e Boulos, França rejeita a ideia de formular uma renda básica universal sem qualquer contrapartida. “São Paulo tem 2,7 milhões de pessoas, dos 10 milhões de adultos, vivendo com 600 reais [mensais da renda básica emergencial]. A cidade não teria condição de manter esses 600 reais sem ter uma contrapartida”, explicou o candidato do PSB. Ele defende, contudo, que a prefeitura abra mão de terceirizados e coloque essas pessoas em situação de pobreza para fazer trabalhos remunerados de limpeza de praça, pintura de creche, entre outros serviços. “As pessoas querem trabalhar, querem ter orgulho de sua atividade”, acrescentou.
De todas as formas, ele pondera que a prefeitura terá que injetar dinheiro para que a economia paulistana saia da crise causada pela paralisação de suas atividades durante a pandemia do coronavírus. Ele prevê cerca de 2,5 bilhões de reais em vários programas. “Quando saímos da Segunda Guerra, a Europa precisou injetar 14 bilhões de dólares americanos lá dentro. Não há outra forma. Se o mundo mudou, a prefeitura tem que mudar também, não pode ser conduzida pelas atividades econômicas do Governo Federal”.
Ainda sobre as pessoas em maior condição de vulnerabilidade, ele afirma que a cracolândia e as pessoas que vivem nas ruas são os dois maiores símbolos “da incompetência” da prefeitura. Ele lembra que cerca de 30.000 pessoas estão morando nas ruas, em barracas de camping que refletem a nossa “incompetência coletiva”. “Não é verdade que todo mundo ali é drogado, bêbado, com problemas mentais. Muita gente foi despejada e ficou sem opção, mas são sãs e querem trabalhar”, explicou. Para encaminhar a questão, ele defende que sejam usados, por exemplo, pequenos hotéis ou pousadas que estão ociosos. “Só das quatro maiores centrais sindicais temos 30.000 vagas de leitos completos das colônias de férias deles. Não é possível não ter competência para juntar uma coisa com a outra. Uma diária para um casal custa 50, 60 reais, com café, almoço e janta. Mas precisa ter iniciativa”, diz.
Sobre a cracolândia, França criticou a violência empregada durante a gestão João Dória na prefeitura, que espalhou as pessoas da cracolândia em diversos pontos da cidade. O candidato do PSB defende um leque de soluções que contemple diferentes situações. “Temos os viciados, que precisam de tratamento terapêutico, médico, com internação voluntária ou compulsória. E há quem tenha condição de fazer redução de dano”, argumenta. “Todo dia a prefeitura vai la, lava a rua Helvétia, os policiais empurram todo mundo, gera conflito, aí eles lavam, aí depois eles liberam, e no final da tarde fazem a mesma coisa. Criou-se uma espécie de hábito, como se fosse um mal que não tem solução. Evidentemente que tem solução. Não tem tanta gente, você tem que gastar dinheiro e fazer o tratamento necessário”, defendeu. “Não podemos desistir de ninguém. Mas tem que ter pulso, não pode achar que vai continuar assim porque tudo é assim”.
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