Joice Hasselmann: “Sofri um estupro moral, justo eu que fui a mulher que mais ajudou Bolsonaro”
Em entrevista ao EL PAÍS, no entanto, candidata do PSL à Prefeitura de São Paulo corteja eleitor do presidente e afirma não ter traído ou rompido com o Governo: “Continuo trabalhando por ele”
A candidata do PSL à Prefeitura de São Paulo, Joice Hasselmann, afirmou ter sido alvo de um “estupro moral” por parte dos filhos do presidente Jair Bolsonaro. A ex-líder do Governo no Congresso Nacional se desentendeu principalmente com Carlos e Eduardo em 2019, e a partir daí foi alvo de uma campanha difamatória que incluiu ataques machistas e gordofóbicos que teriam tido origem no chamado “gabinete do ódio” do clã presidencial. “Fui traída, achincalhada, sofri um estupro moral, justo eu que fui a mulher que mais ajudou o presidente quando ele era rejeitado pelas mulheres e tinha 3% das intenções de voto”, disse em entrevista ao vivo para o EL PAÍS. A conversa com a deputada federal é parte de uma série multiplataforma do jornal com os postulantes ao comando da capital.
A situação da candidata nesta eleição municipal é delicada. Com apenas 2% das intenções de voto de acordo com pesquisas Ibope e Atlas divulgadas nas últimas semanas, ela sabe que não pode confrontar Bolsonaro —e consequentemente seu eleitor— sob risco de ficar sem parte dos mais de dois milhões de votos que a levaram à Câmara dos Deputados em 2018. Naquele pleito ela surfou na onda do bolsonarismo, do lavajatismo e do discurso antipetista. Agora, com o rival Celso Russomanno (Republicanos) alardeando ter o apoio do presidente, Joice tenta não se desvincular por completo da base bolsonarista. “Eu não rompi com o Bolsonaro (...) continuo trabalhando pelo Governo, relatando projetos do Governo. Eu rompi com os filhos dele”, afirmou, destacando seu papel de articulação política que ajudou na aprovação da reforma da Previdência.
Indagada sobre como irá conquistar os votos desta “onda bolsonarista” que varreu o país em 2018 e que agora podem migrar para outro candidato, ela se descreveu como uma das responsáveis por criar tal movimento. “Quando o presidente bateu na minha porta com 3% das intenções de voto, ele era ridicularizado, viam ele como uma caricatura. Eu, junto com algumas poucas figuras, pegamos ele pela mão e ajudamos a criar a onda Bolsonaro”. De acordo com ela, houve uma “retroalimentação” nesta relação, que beneficiou a ambos. Segundo a candidata, parte da base do presidente já está arrependida de tê-la atacado: “As pessoas já estão me procurando e dizendo, ‘Joice, eu errei, me perdoa”.
O próprio discurso de Joice tem elementos que dialogam com o eleitor de Bolsonaro mais radicalizado, atraído por uma retórica inflamada que se espalha como fogo em palha seca nas redes sociais: a candidata atacou praticamente todos os seus rivais deste pleito. De “gângster” a “criança bem intencionada”, Joice disparou contra os demais concorrentes à Prefeitura: “Meu discurso não é agressivo, é verdadeiro”, afirmou. Sobre o possível apadrinhado por Bolsonaro, ela afirmou que o “Russomano é contra o emprego, contra o comércio, contra a livre iniciativa, é o que tem de pior no Centrão [bloco de partidos que ajudam a garantir a governabilidade, que apoiam o Planalto]”. O prefeito Bruno Covas é, segundo ela, “a esquerda do PSDB, bem intencionado, mas incompetente”. E por fim, Boulos, do PSOL, seria “o candidato de esquerda com alguma chance, já que o candidato do PT [Tatto] é um zero à esquerda”. Ela afirmou ainda que caso eleita prenderia o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto caso realiza alguma ocupação. “O grande risco é termos um incendiário, um contraventor na Prefeitura de São Paulo”, disse ela, atacando Boulos.
Joice cortejou Arthur do Val (Patriotas) e Filipe Sabará (Novo), que segundo ela “têm boas ideias e são bem intencionados”, além de estarem mais “alinhados” com sua plataforma de Governo. “Quem dá conta de carregar esse piano sou eu, quero esses meninos juntos comigo no segundo turno”, afirmou, apesar de estar empatada com ambos nas pesquisas. A candidata também lançou mão da sua própria versão da já consagrada campanha do medo, usada por partidos de todo o espectro político para influenciar o voto, ao afirmar que “São Paulo, tem uma opção, é Joice pra organizar ou é o caos”.
A candidata do PSL abordou uma das questões que têm pautado as eleições paulistanas deste ano, a cracolândia. Enquanto países da Europa e América Latina lançam mão de políticas de redução de danos e acolhimento, ela defende a internação compulsória de usuários de droga da região central. Esta medida já foi tentada sem sucesso por diversos governos nos âmbitos estadual e municipal, e é considerada uma prática agressiva e muito criticada por quem trabalha com assistência social e atendimento a usuários de droga. Ela atribui a rejeição a esta proposta a “grupos mais progressistas”, enquanto “grupos técnicos” seriam favoráveis —na verdade a maior parte da comunidade médica e pesquisadores são contrários a esta medida. “Não há outra solução para quem já perdeu a batalha para as drogas”, disse, fazendo a ressalva de que a internação compulsória “não é para todos os casos, é preciso fazer uma peneira”.
Ainda sobre a região central, Joice afirmou ser necessário uma parceria com a iniciativa privada com o objetivo reformar imóveis ociosos, públicos e privados, para que possam servir de moradia popular e atrair também a classe média. “A população de rua aumentou muito na pandemia, as pessoas não tem mais dinheiro para pagar aluguel. Essa pessoa precisa da ajuda do município e do Governo Federal, com minha casa minha vida, para ter uma moradia digna”, disse. A candidata afirmou que caso eleita deve desapropriar imóveis abandonados que devem quantias “exorbitantes” de IPTU, e que são “utilizados pelo crime organizado”, para garantir habitação no Centro.
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