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Os melhores momentos de um Brasileirão que quebrou tabus e preconceitos

Gabigol brilhando em libras, jogo parado contra a homofobia, discurso antirracista de Roger: o top 10 de atitudes que também valeriam um troféu

Gabigol, Edina Alves e Roger Machado: destaques do Campeonato Brasileiro.
Gabigol, Edina Alves e Roger Machado: destaques do Campeonato Brasileiro.

A edição 2019 do Campeonato Brasileiro ficou marcada pelo predomínio do Flamengo, que faturou o título com quatro rodadas de antecedência e pontuação recorde, e o inédito rebaixamento do Cruzeiro. Por outro lado, outros clubes e craques merecem ser lembrados por ações afirmativas, solidariedade e o combate à discriminação, especialmente fora do campo. O EL PAÍS lista 10 grandes momentos do Brasileirão em que o futebol acabou em segundo plano diante da postura de seus protagonistas.

10. Teve gol (e que golaço) do Gabigol

O artilheiro do campeonato também marcou gols além das quatro linhas. Para driblar a censura à sua original comemoração com o cartaz “hoje tem gol do Gabigol”, o craque rubro-negro celebrou o tento anotado contra o Cruzeiro mandando a mesma mensagem em libras, a língua brasileira de sinais. Depois, o técnico Jorge Jesus recorreu à linguagem utilizada pelas pessoas surdas em homenagem ao Dia Nacional dos Surdos (26 de setembro).

9. Futebol para o povo

Na contramão da elitização nos estádios, três clubes colheram bons resultados ao contemplar seus torcedores de baixa renda. O Vasco se tornou o time com mais sócios do país depois de lançar promoção com planos a partir de 4 reais. No Nordeste, com modalidades populares de associação, Bahia e Fortaleza estiveram entre as seis equipes que mais levaram torcida às arquibancadas. A média do time cearense, que teve o menor preço médio de ingresso da Série A (12 reais), só não contabilizou público maior que Flamengo, Corinthians e Palmeiras ao longo do ano.

8. Gandulas cadeirantes

Em jogo contra o Avaí, pelo segundo turno, o São Paulo substituiu seus gandulas habituais por pessoas cadeirantes ou com próteses. A ação, que envolveu 10 atletas paralímpicos, buscava chamar a atenção para a importância de se discutir acessibilidade e inclusão por meio do esporte.

7. Camisa manchada de óleo

Os jogadores do Bahia entraram em campo diante do Ceará com camisas salpicadas por manchas escuras, um protesto do clube contra o vazamento de óleo que atingiu as praias de todo o litoral do Nordeste. O uniforme “manchado” foi leiloado pela equipe baiana, com renda revertida para os trabalhos voluntários de limpeza dos lugares afetados por resíduos de petróleo no Estado.

6. Representatividade feminina

Depois de 14 anos, o Brasileirão voltou a ter uma mulher no apito. A paranaense Edina Alves, de 39 anos, foi a única mulher a apitar na Série A, algo que não acontecia desde Sílvia Regina de Oliveira, em 2005. Além da competição nacional, ela também trabalhou na Copa do Mundo feminina e foi eleita, em novembro, a quarta melhor árbitra do mundo.

5. Torcedor racista não é bem-vindo

Jogadores do Ceará relataram insultos racistas e xenófobos por parte de torcedores santistas durante jogo na Vila Belmiro. No dia seguinte, o clube praiano divulgou um manifesto: “Se você é racista, preconceituoso ou xenófobo, por favor, não compareça aos jogos do Santos, não seja Sócio Rei e não use nossos produtos oficiais. Melhor ainda: deixe de torcer para o Santos. Você não merece esse clube e não bem-vindo em nossa casa.” A equipe ainda lançou uma camisa especial para reverenciar ídolos negros de sua história.

4. Timão contra a discriminação

Em parceria com o Memorial do Holocausto, o Corinthians voltou a estampar uma estrela em sua camisa para lembrar as vítimas da perseguição aos judeus iniciada em 9 de novembro de 1938, no episódio que ficou conhecido como “Noite dos Cristais”. Em seu último jogo na Arena, neste domingo, o time paulista homenageou Juarez Xavier, professor que sofreu racismo no Dia da Consciência Negra.

3. Virando o jogo a favor da diversidade

Os cruzeirenses Warley e Yuri foram hostilizados depois que imagens de ambos abraçados no Mineirão começaram a circular pelas redes sociais como deboche clubista. Porém, o casal de namorados resolveu utilizar o episódio para rebater a homofobia. “Obrigado ao homofóbico que gravou esse vídeo, agora ele é uma declaração de amor eterna”, disse Yuri. Em Porto Alegre, Nicolli foi surpreendida pela namorada Juliana em plena Arena do Grêmio. Tratou-se do primeiro pedido de casamento gay da história do estádio, aplaudido de pé pela torcida gremista.

2. Com homofobia, a bola não rola

Pela primeira vez no Brasil, um jogo de futebol foi paralisado por causa de cânticos homofóbicos. O árbitro Anderson Daronco interrompeu o duelo entre Vasco e São Paulo, quando parte da torcida vascaína cantava “time de viado” nas arquibancadas de São Januário para provocar os rivais. Após serem notificados, jogadores e o técnico Vanderlei Luxemburgo acenaram do campo para que os torcedores não entoassem mais os gritos ofensivos.

1. Um discurso para a história

Em outubro, Fluminense e Bahia se enfrentaram no Maracanã. De um lado, Marcão. Do outro, Roger Machado. Os dois únicos técnicos negros, até então, do Campeonato Brasileiro. Após a partida, o técnico do time baiano proferiu um discurso antológico ao usar o futebol para refletir sobre o racismo estrutural. “Se não há preconceito no Brasil, por que os negros têm o nível de escolaridade menor que o dos brancos? Negar e silenciar é confirmar o racismo”, disse Roger em entrevista coletiva. Na última sexta, ele foi homenageado com a medalha Zumbi dos Palmares pela Câmara de Salvador.

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