Jesus cura Flamengo e leva time à final da Libertadores pela primeira vez desde Zico
Time rubro-negro goleou o Grêmio pela semifinal, acabou com a sequência de 13 eliminações seguidas no torneio e voltou à decisão continental 38 anos após único título


"Jogamos juntos", "pela Copa" e "até o fim" foram os três mosaicos montados pela torcida do Flamengo durante os jogos de mata-mata da Libertadores que, juntos, contam a história rubro-negra nesta edição do torneio sul-americano. Por três vezes, o time de Jorge Jesus, Everton Ribeiro, Gabigol e companhia contou com o apoio do Maracanã lotado para superar os traumas recentes na competição em grande estilo. Na última delas, na noite desta quarta-feira, o Flamengo confirmou a volta à final continental após 38 anos passando por cima do Grêmio, o último brasileiro a ganhar a Libertadores, com uma sonora goleada: 5 a 0.
A superioridade flamenguista já havia ficado clara no jogo de ida, em Porto Alegre, quando empatou por 1 a 1. Naquele jogo, o Flamengo pressionou o adversário, teve um gol polêmico anulado com auxílio do VAR, abriu o placar com Bruno Henrique e viu Pepê igualar a dois minutos do fim. No primeiro tempo do Maracanã, a sensação foi de mais equilíbrio. O Grêmio, apesar de chutar somente duas vezes no gol, não sofreu pressão dos donos da casa e equilibrou a decisão até os 42 minutos, quando Gabigol escapou em arrancada e teve o chute espalmado para trás pelo goleiro Paulo Victor. No rebote, sozinho, Bruno Henrique empurrou para as redes e abriu 1 a 0.
A pressão massacrante e inesperada veio no segundo tempo, quando a expectativa era de reação gremista. Com um minuto, Gabriel aproveitou a sobra de escanteio para ampliar o placar com um chute forte no ângulo de Paulo Victor. Dez minutos depois, Bruno Henrique invadiu a área e foi derrubado por Geromel – pênalti, convertido por Gabigol. O 3 a 0 trouxe a imagem do treinador Renato Gaúcho perplexo que, na beira do gramado, tentou responder com as entradas dos atacantes Pepê e Tardelli. Nada feito. Pouco tempo depois, Pablo Marí fez de cabeça o quarto em cobrança de escanteio, da mesma forma que Rodrigo Caio fechou o placar antes mesmo dos 30 minutos. "Pedi para eles não fazerem graça para que a gente não perdesse a cabeça", revelou o meia gremista Alisson, que teve uma conversa ao pé do ouvido com o capitão do Flamengo, Everton Ribeiro, antes do quinto gol.
Se hoje a qualidade do elenco rubro-negro é apontada como diferencial para a equipe liderar o campeonato brasileiro e chegar à final continental, é importante lembrar que a realidade não era exatamente essa antes da chegada de Jorge Jesus. Entre as contratações feitas nesse ano, Gabigol chegou como artilheiro do Brasil, Filipe Luís veio campeão da Copa América e Rafinha voltou ao país com a bagagem de sete anos no Bayern de Munique , ainda que esses últimos dois, com mais de 30 anos, não encontraram opções relevantes de renovação com clubes europeus. Arrascaeta foi a contratação mais cara entre clubes brasileiros, mas passava mais tempo na reserva que em campo com Abel Braga, o treinador anterior. Fora esses, Rodrigo Caio veio quando era reserva no São Paulo; Pablo Marí foi encontrado na segunda divisão espanhola; Gerson amargava a reserva da Fiorentina; e Bruno Henrique marcou apenas dois gols em 32 jogos que fez pelo Santos em 2018 – todos em baixa quando contratados.
Há ainda os casos de Diego Alves e Willian Arão, que melhoraram substancialmente sob o comando do português. Arão, que enfrentou durante toda a passagem pelo Flamengo críticas pelos erros de marcação, se tornou o volante mais defensivo do time titular. A Influência de Jorge Jesus no sucesso rubro-negro fica ainda mais clara quando se leva em conta a campanha do Flamengo na primeira fase, quando ainda era treinado por Abel Braga e penou para se classificar no grupo com LDU, Peñarol e San José. Para além dos méritos do português, se destacou também o departamento médico e físico do clube, que recuperou Arrascaeta para a semifinal 19 dias após o jogador passar por uma cirurgia no joelho e o lateral Rafinha apenas 10 dias depois de uma operação no rosto do atleta, que jogou com um capacete encomendado sob medida da Europa.

Histórico de traumas e eliminações
Ao voltar para a final da Libertadores 38 anos após a única participação na decisão de sua história, o Flamengo deixou para trás uma série de traumas em torneios sul-americanos que assombrou o clube nas últimas décadas. Foram 13 eliminações seguidas em 37 anos, sendo que desde 2002 perdeu para Universidad Católica, Defensor, América do México, Universidad de Chile, Emelec, León, San Lorenzo e Cruzeiro. Para o América, levando um 3 a 0 dentro do Maracanã. Para Católica, Emelec, León e San Lorenzo na fase de grupos, com vexames dentro de casa.
Nas oitavas de final da edição deste ano, quando o Emelec abriu 2 a 0 no confronto jogado no Equador, o péssimo histórico do Flamengo veio à tona. Na volta, o "jogaremos juntos" do Maracanã empurrou o time para empatar o confronto e levar a vaga nos pênaltis. Pelas quartas, fase que não frequentava desde 2010, o "pela Copa" motivou a equipe para abrir 2 a 0 no Maracanã já na partida de ida contra o Internacional, com quem empatou por 1 a 1 na volta em Porto Alegre. Nesta quarta, jogando uma semifinal pela primeira vez em 35 anos, o "até o fim" sustentado por 69.981 presentes transformou a vantagem do empate fora de casa em goleada ante o Grêmio.
"Quando entramos e vimos a festa que a festa que a torcida fez, foi inimaginável. Falamos dentro de campo que o mosaico ficou marcado. Íamos até o fim, porque essa festa foi feita para nós", afirmou o capitão Everton Ribeiro após a goleada. Ir até o fim significa vencer a final continental, contra o atual campeão River Plate, no jogo único marcado para Santiago no dia 23 de novembro, e se sagrar bicampeão 38 anos depois. Ao menos pela campanha, o time já demonstrou que pode igualar o feito que só o lendário Flamengo de Zico conseguiu.