H&M pega carona na campanha pela Amazônia e suspende compra de couro brasileiro
Decisão do gigante sueco, alvo de denúncias de trabalho escravo, atende a público cada vez mais engajado com o meio ambiente. Ainda que tenha pouco impacto econômico, ela serve como gesto poderoso num momento em que o país se transforma em vilão ambiental


Depois do dano pelos incêndios e das declarações do presidente brasileiro, um novo golpe na imagem internacional do Brasil. O gigante da moda H&M anunciou nesta quinta-feira que suspenderá imediatamente a compra de couro do Brasil “devido à conexão dos graves incêndios da Amazônia com a produção pecuarista”. A empresa sueca, que é a segunda maior varejista de moda do mundo depois da espanhola Inditex, dona da Zara, anunciou sua decisão justamente no dia em que o Governo do polêmico Jair Bolsonaro lançava uma campanha publicitária dentro e fora de suas fronteiras para reafirmar a soberania brasileira sobre essa região, crucial para frear a mudança climática.
A campanha publicitária reflete a preocupação do Governo com as consequência da indignação mundial pelos queimadas. Paralelamente, o Gabinete decidiu que um bilhão de reais do fundo da Lava Jato, proveniente de multas por corrupção que a Petrobras pagou nos EUA, sejam dedicadas a combater o desmatamento.
Os incêndios em agosto queimaram quatro vezes mais superfície do que no ano passado, segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais, o que equivale a 4,2 milhões de campos de futebol, segundo o WWF.
A H&M, proprietária de marcas como Other Things e Cos, explicou em nota que a suspensão estará em vigor “até que existam sistemas de controle confiáveis de que o couro não contribui para o dano ambiental na Amazônia”. Começa a ocorrer o que os exportadores do poderosíssimo setor agropecuário brasileiro mais temem: uma campanha de boicote aos seus produtos promovida por empresas europeias, com uma clientela cada vez mais preocupada com a mudança climática. A H&M se soma à firma VFcorp, proprietária da Timberland, Vans e The North Face, que na semana passada anunciou que deixaria de comprar couro brasileiro.
A decisão do gigante sueco, alvo de denúncias de trabalho escravo pelo mundo, atende a um público cada vez mais engajado com o meio ambiente. Ainda que tenha pouco impacto econômico, ela serve como um gesto poderoso num momento em que o Brasil se transformou em um vilão ambiental. A Suécia é justamente a pátria de Greta Thunberg, a mais recente catalisadora da preocupação ecológica dos europeus.
Nas últimas semanas mandatários estrangeiros, com o francês Emmanuel Macron à frente, vêm fazendo críticas a Bolsonaro por seu desprezo à preservação ambiental. Desde que chegou ao poder, em janeiro, o desmatamento aumentou e a fiscalização se enfraqueceu.
Se as consequências econômicas são limitadas, outra coisa são os reflexos em termos de reputação e políticos. As exportações de couro do Brasil somaram 1,44 bilhão de dólares (quase seis bilhões de reais) em 2018, dirigidas principalmente aos Estados Unidos, China e Itália, segundo a Associação Brasileira de Curtidos. E uma porta-voz da H&M disse à Reuters que só uma pequena parte do couro que a empresa usa vem do Brasil, porque a maioria procede da Europa.
A campanha governamental “Amazônia para o Brasil” reivindica essa região em termos patrióticos e gaba-se de ser “um exemplo mundial de preservação, conservação e sustentabilidade ambiental”. E recorda que mantém intacta 84% de sua flora na Amazônia, e 60% em todo o país. O Brasil foi considerado um líder ecológico nos últimos anos, mas os críticos de Bolsonaro, incluídos todos os ex-ministros de Meio Ambiente vivos, afirmam que este Governo está destruindo os alicerces desses avanços.