_
_
_
_
_

67% veem crise na Amazônia, mas Brasil se divide sobre atribuir responsabilidade à Bolsonaro

Pesquisa do Atlas Político, exclusiva para o EL PAÍS, indica que 42% dos brasileiros consideram que o país mereceria sanções internacionais por conta do desmatamento e que 20% não acreditam no aquecimento global

Bombeiro atrás de chamas durante o combate aos incêndios na floresta amazônica, próximo de Porto Velho.
Bombeiro atrás de chamas durante o combate aos incêndios na floresta amazônica, próximo de Porto Velho.Joédson Alves (EFE)
Mais informações
Boicote por incêndios florestais no Brasil afeta o mercado financeiro e acende sinal de alerta
'Quando o G7 salvou a Amazônia', por Claudio Angelo

As queimadas dos últimos dias  na região da floresta amazônica puseram o Brasil e, em especial, o presidente do país, Jair Bolsonaro, no centro do debate global sobre preservação ambiental. A dimensão do impacto internacional causado pelas imagens de troncos pegando fogo ainda está por se medir — países como Noruega e Alemanha bloquearam repasses para programas de preservação e ao menos um banco já anunciou a suspensão de investimentos —, mas uma pesquisa do Atlas Político divulgada com exclusividade pelo EL PAÍS dá uma ideia do impacto político da questão amazônica para o Governo Bolsonaro. Enquanto 66,9% dos brasileiros acreditam que a Amazônia enfrenta uma crise ambiental por conta do desmatamento, 45,8% consideram que o Governo federal é o responsável pelo aumento de áreas desmatadas, enquanto 47,5% disseram que não.

A pesquisa, que ouviu 2.000 pessoas entre os dias 29 e 31 de agosto, mostra ainda que 51% dos brasileiros acreditam que outros países têm o direito de se posicionar em relação à gestão ambiental do Governo brasileiro na Amazônia. A questão foi levantada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que se referiu à floresta brasileira como "nossa casa" e levou a questão para debate na última reunião do G7. Além disso, 42,8% dos participantes da pesquisa acreditam que eventuais sanções comerciais contra o Brasil por conta do desmatamento seriam merecidas — contudo, 33,3% são a favor da adoção dessas medidas por outros países, enquanto outro terço, 33%, se disseram contra.

"Esperava ver um percentual maior de pessoas rejeitando a interferência estrangeira sobre a Amazônia e as possíveis sanções", diz o diretor do Atlas Político, Andrei Roman. "Esses números indicam que a crise na Amazônia virou realmente um assunto de muita relevância, já que defender sanções contra seu próprio país revela um nível bastante elevado de preocupação com a falta de atuação do Governo brasileiro", analisa.

Roman destaca, todavia, que "não existe um consenso formado em relação ao papel do Governo Bolsonaro". "Para boa parte dos apoiadores do presidente, a crise é real, mas não pode ser atribuída ao atual Governo, apesar da postura de flexibilização da fiscalização ambiental que ele vem adotando", completa.

De acordo com o levantamento, o país não se divide tanto ao avaliar o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ou em relação ao destino dos grileiros suspeitos de ter provocado alguns dos incêndios na Amazônia. Enquanto 42,9% dos pesquisados disseram desaprovar a atuação de Salles, apenas 22,1% endossaram sua gestão — outros 35% não souberam opinar. Os maiores consensos dizem respeito aos possíveis responsáveis pelas queimadas: 81% da população se posicionam contra o garimpo e o desmatamento nas reservas ambientais e indígenas da Amazônia; e 83,1% defendem a prisão dos grileiros de terras que venham a ser responsabilizados pelos incêndios.

Uma última questão, sobre o que seria o pano de fundo das queimadas não apenas na Amazônia, mas pelo mundo todo, pergunta se o entrevistado acredita no aquecimento global, . Para 72,8% dos entrevistados, a resposta é afirmativa, enquanto 22,6% disseram que não e 6,6% não souberam responder.  A pesquisa foi feita pela internet, via convites randomizados. A amostragem levou em conta cinco variáveis (região faixa etária gênero, faixa de renda e uso de redes sociais) para refletir o perfil geral da população brasileira adulta. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos e seu nível de confiança é 95%.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_