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Crítica | Cinema
Crítica
Género de opinião que descreve, elogia ou censura, totalmente ou em parte, uma obra cultural ou de entretenimento. Deve sempre ser escrita por um expert na matéria

‘A Esposa’: A mulher do Nobel

Diretor joga com aspectos transcendentes da corrente bergmaniana, mas também com mise-em-scéne e estrutura de um academicismo vulgar

Christian Slater, Glenn Close e Jonathan Pryce, em ‘A Esposa'.
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Como se sente, como festeja, como um ganhador do Prêmio Nobel de Literatura recebe um telefonema de Estocolmo com a notícia da honraria e vive os dias de comemorações? Olhando para o presente, para o passado ou para o futuro? Para as pessoas chegadas ou para si mesmo? Com a paixão de um iniciante ou com a calma da maturidade profissional e pessoal?

A abordagem inicial de A Esposa, coprodução entre a Suécia e o Reino Unido dirigida por Björn Runge, tem o suficiente atrativo cultural, e até mesmo psicológico e emocional, para deixar entrever uma obra interessante que, a partir dessa essência, possa se abrir em muitas direções diferentes. A de Ingmar Bergman, por exemplo, com seus intelectuais rígidos, isolados, frios, egocêntricos e com a infeliz habilidade de humilhar suas mulheres, geralmente dóceis e submissas. Ou também a do melodrama mais convencional, aquele que se bifurca no passado para esclarecer o presente (mais do que interpretá-lo), por meio de flashbacks e explicações que não dão margem à dúvida. Especialmente em um caso como o deste filme, baseado em um romance de Meg Wolitzer, que, como o título já indica muito bem (The Good Wife, no original), vai colocar o foco não tanto no premiado, mas em sua fiel esposa, representante, copista, conselheira, voz da consciência, encarregada da limpeza, enfermeira e talvez muitas coisas mais.

Runge escolhe as duas vertentes ao mesmo tempo, com aspectos transcendentes da corrente bergmaniana, mas também com mise-em-scène e estrutura de um academicismo vulgar. E o resultado é um tanto desigual. Atraente em certas nuances, querendo fugir do lugar comum, especialmente nos motivos para a fidelidade da mulher, e, no entanto, caindo nos clichês com a tipologia do escritor (judeu, mulherengo, implacável, de aluna em aluna desde a primeira delas, a própria esposa) e o típico conflito com um filho que aspira a ser um escritor, ao qual costuma esmagar com seu desprezo e seus julgamentos.

Assim, dada a evidente irregularidade, com certo charme, do filme, dois aspectos incontestáveis permanecem: a expressão feminista da história, trazendo à memória casos tristemente semelhantes, e a interpretação formidável de Glenn Close (indicada ao Oscar 2019 de melhor atriz), de ampla gama e fincada no olhar para si mesma, na direção de um interior derrotado e orgulhoso, que no momento de seu clímax evoca sua histórica condessa de Merteuil na última cena de Ligações Perigosas.

A ESPOSA

Direção: Björn Runge.

Elenco: Glenn Close, Jonathan Pryce, Christian Slater, Max Irons.

Gênero: drama. Suécia / Reino Unido, 2017.

Duração: 100 minutos.

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