Onde está Queiroz, o ex-assessor que perturba a família Bolsonaro?
‘Desaparecido’, ex-assessor de Flávio Bolsonaro falta a depoimento no MP. Ele teria movimentado mais de um milhão de reais em sua conta, valor não compatível com seu salário
Pivô da primeira crise importante envolvendo o futuro Governo Bolsonaro, o motorista Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro que entrou na mira do Ministério Público por ter realizado “movimentação financeira suspeita” em sua conta corrente, não apareceu para depor nesta quarta-feira no Rio de Janeiro. Ele seria ouvido em sessão marcada para às 14h, mas “não veio depor”, afirmou Eduardo Gussem, procurador-geral de Justiça do Estado. Posteriormente, o MP divulgou nota informando que a defesa alegou "inesperada crise de saúde" por parte de Queiroz, e solicitou o adiamento.
O motorista foi citado em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) que identificou saques e depósitos bancários feitos em sua conta que superavam 1,2 milhão de reais no período de um ano entre 2016 e 2017. Os valores não seriam compatíveis com seu salário, que girava em torno de 23.000 reais. Desde que o caso foi divulgado o ex-assessor não deu declaração alguma. A investigação corre no âmbito da Operação Furna da Onça, um desdobramento da Lava Jato.
Um novo depoimento foi marcado para sexta-feira. Caso ele não compareça novamente e não apresente justificativa para a ausência, pode ser conduzido coercitivamente para depor pelas autoridades. A família Bolsonaro, que até o momento não é investigada neste caso, nega qualquer irregularidade, e tanto Flávio quanto o presidente eleito afirmaram que cabe a Queiroz dar as devidas explicações sobre a origem do dinheiro e, mais importante, seu destino. Existe a suspeita de que a conta do motorista tenha sido usada em uma espécie de rateio feito com funcionários do gabinete de Flávio. Ao menos nove servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro fizeram depósitos em sua conta em datas próximas aos pagamentos de seus salários. Este ‘pedágio’ pago pelos servidores a políticos é ilegal, mas comum nos legislativos e até prefeituras. Nestas eleições Flávio foi eleito senador.
Ainda não se sabe quem foram os beneficiários destas transações, mas 24.000 reais foram transferidos para a conta de Michele Bolsonaro, futura primeira-dama. O capitão da reserva afirmou que este montante seria referente a um empréstimo feito por ele a Queiroz no valor de 40.000. Ainda de acordo com ele, o depósito teria sido feito na conta de sua mulher porque ele “não costuma ir ao banco”. “Eu podia ter botado na minha conta. Foi para a conta da minha esposa porque eu não tenho tempo de sair. Essa é a história, nada além disso. Não quero esconder nada, não é nossa intenção”, disse.
Quanto ao fato de não ter informado o empréstimo em sua declaração de imposto de renda, o presidente eleito disse que como o valor foi muito fracionado, parcelado em de cheques de 4.000 reais, ele não julgou necessário, mas afirmou estar disposto a “pagar o que deve” ao fisco caso preciso. Pela legislação, empréstimos acima de 5.000 reais para pessoas físicas precisam ser declarados.
O futuro vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB), foi um dos poucos membros da cúpula bolsonarista a dar uma declaração mais forte sobre o caso Queiroz. "O ex-motorista, que conheço como Queiroz, precisa dizer de onde saiu este dinheiro. O Coaf rastreia tudo. Algo tem, aí precisa explicar a transação, tem que dizer", afirmou.
Os problemas da família Bolsonaro não terminam com Queiroz. A filha dele, Nathalia, que também foi lotada no gabinete de Flávio e de Jair, teria atuado como personal trainer em período integral enquanto recebia salário como servidora. A suspeita é que ela fosse funcionária fantasma, assim como Walderice Santos da Conceição, que ganhou o apelido de Wal do Açaí depois que a Folha de S.Paulo revelou em agosto que mesmo sendo funcionária do gabinete de Jair Bolsonaro ela cuidava de uma barrada de açaí e da casa de veraneio do então deputado em Angra dos Reis. Ela pediu desligamento da Câmara depois que o caso veio à tona.
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