Obama entra em campanha com ataque devastador contra republicanos: “Trump é um sintoma, não a causa”
O ex-presidente pressiona os democratas a votar em massa: “Nossa democracia depende disso”

Barack Obama subiu na sexta-feira, dia 7 de setembro, a um palco em Illinois e se lançou de cabeça à campanha das eleições legislativas com um ataque duro e direto contra Donald Trump e o Partido Republicano, algo que o ex-presidente dos Estados Unidos, seguindo um desses códigos não escritos de Washington, tem tomado o cuidado de fazer desde que saiu da Casa Branca. Obama advertiu para o fato de que Trump “é um sintoma, não a causa” do populismo e urgiu os democratas a votar em massa em novembro: “Nossa democracia depende disso”.
O ex-presidente democrata atacou o republicano por todos os flancos e citou-o com nome e sobrenome, algo que não tinha feito desde o fim das eleições presidenciais de 2016. A raiva sobre a qual tanto se fala nos EUA é sincera em alguns cidadãos, disse, mas também é resultado de “uma manipulação de privilegiados e poderosos que querem nos manter divididos”. “Isso não começou com Donald Trump. Ele é um sintoma, não a causa. Ele só está capitalizando o ressentimento que os políticos estão estimulando há anos”, reforçou.
O discurso de Obama, pronunciado na Universidade de Urbana ao receber um prêmio que reconhece a ética no Governo, propõe as eleições legislativas de novembro como um referendo sobre Trump, e os primeiros compassos da campanha democrata estão apontando nesse mesma direção. Mas muitos republicanos recordam que no voto ao Congresso prevalecem muitos interesses territoriais e que os eleitores dissociarão as tolices do presidente da essência do partido.
O famoso artigo anônimo de opinião publicado no The New York Times na quarta-feira, no qual um suposto alto funcionário de Trump fala de um movimento de resistência de republicanos puros que controlam os desmandos do nova-iorquino, apresenta essa ideia: apesar de ter sido eleito “como republicano”, cita o autor, demonstra “pouca afinidade” com os princípios de liberdade de mercado, de pensamento e de pessoas que os conservadores se atribuem. No entanto, destaca o acerto de muitas das medidas adotadas durante seu mandato — redução fiscal e aumento do gasto militar — e evita citar um assunto tão discutido dentro do próprio partido como o migratório. Lança a seguinte mensagem: “Os americanos devem saber que há adultos no quarto”.
Today I’m at the University of Illinois to deliver a simple message to young people all over the country: You need to vote, because our democracy depends on it. I hope you'll tune in at 11am CT: https://t.co/34WjNaVAcU
— Barack Obama (@BarackObama) September 7, 2018
Obama, no entanto, dirigiu conscientemente sua diatribe aos republicanos, que, exceto honrosas exceções (o recém-falecido senador John McCain era uma delas), se calaram e deram seu aval às medidas trumpistas mais polêmicas. “O que aconteceu ao Partido Republicano? Seu princípio fundamental na política externa era lutar contra o comunismo, e agora estão ficando amigos do ex-chefe da KGB!”, exclamou, em referência à simpatia de Trump por Vladimir Putin, em um momento no qual o Krêmlin é acusado pelo Governo de interferir nas eleições e na política norte-americanas.
Denunciou a política do “medo e ressentimento”. “Não pretendo recorrer a Abraham Lincoln, mas isso não é o que tínhamos em mente quando ajudamos a criar o Partido Republicano. Não é conservador, mas sem dúvida não é normal, é radical”, destacou. Também recriminou os republicanos por seu silêncio nas críticas que o presidente lança contra o Departamento de Justiça, ao qual atacou diretamente por processar os políticos do partido e prejudicá-los nas eleições, assim como de ter empreendido uma “caça às bruxas” na investigação da citada trama russa. “Não deveria ser um assunto partidário não pressionar o procurador geral ou o FBI.” E lembrou a equidistância mostrada por Trump no verão de 2017 em relação aos movimentos suprematistas brancos: “Como pode ser tão difícil dizer que os nazistas são maus?”, afirmou.
O Partido Democrata tem em dois meses a oportunidade de reverter a onda conservadora (governam a Casa Branca, controlam o Congresso e são maioria no Supremo) depois do trauma das eleições presidenciais de 2016, quando uma candidata que parecia perfeita, Hillary Clinton, perdeu para um empresário e showman de discurso populista e incendiário que parecia fadado ao desastre. Uma das perguntas chave é quanto a marca Trump ainda acrescenta ou subtrai para os republicanos. Para os democratas, Obama continua com a cotação em altos patamares.