As evidências de que o brasileiro fez as pazes com a seleção (por enquanto)
Nas ruas de São Paulo, alguns são mais cautelosos, outros menos, mas há uma unanimidade: animou
Tem o torcedor que não quer nem ouvir falar, como o Carlos Alberto, gerente em uma loja de esportes: “7x1? Nunca ouvi falar. O que é isso mesmo?”. Tem outros mais ressabiados, como o Juliano Santos, que passando ali por perto diz: “Não dá pra esquecer, né? Ainda mais agora que a Coreia ganhou de 2 a 0 da Alemanha, que botou sete na gente”. Mas há o consenso. E este, na véspera das quartas de final, contra a Bélgica, está na boca de quase todo mundo: animou! Concordam o Carlos, o Juliano e todos os outros com quem o EL PAÍS conversou entre a região de comércio de rua do Largo da Batata e o Museu do Futebol, sediado no estádio do Pacaembu, tudo na zona oeste de São Paulo.
Se a sensação é de que o hexa vem aí, as vendas devem ter aumentado na loja que Carlos Alberto administra, certo? Não. “Bom mesmo deve estar pros camelôs, porque aqui ainda tá fraquinho”. Dito e feito. Se o único motivo do vendedor para comemorar é o desempenho da seleção, que, garante, será hexacampeão, o seu xará, Carlos Alberto Oliveira, dono de uma barraquinha vizinha da loja, tem outros. “No primeiro tempo contra o México eles dominaram e eu já estava vendo onde eu ia esconder as camisetas que ficam penduradas na barraca, mas depois a gente fez 2 a 0 e eu vendi tudo”, comemora o camelô. Mas esconder? É para tanto? “Pensei até em queimar elas. Sabia que se vencesse o povo ia animar, mas que se perdesse ia ser uma desgraça”. É assim mesmo, diz, oito ou oitenta.
O camelô também conta que nesta Copa já desenvolveu uma tática para saber qual camiseta vai vender: basta olhar pra cara e altura do cliente. Se for mais velho, vai pedir a do Gabriel Jesus ou a do Philippe Coutinho. Se for criança, vai querer a do Neymar, já que elas não estão nem aí para o técnico Juan Carlos Osorio, que tachou o atacante brasileiro de péssimo exemplo para los niños. “É que a criançada não conhece a inveja ainda, o Neymar é o melhor do time, vai falar mais o quê?”, diz o comerciante. A Jaqueline Batista, por exemplo, é uma que se animou com as vitórias. Em um outro camelô ali pertinho, diz que ficou empolgada com o jogo contra o México e resolveu comprar outra camiseta: “Essa é azul, que é pra mudar o look”.
Se tem gente que acha o 2 a 0 da Coreia do Sul contra os alemães um demérito ainda maior para a seleção brasileira, têm outros, como o Arthur de Brito, que acham que a eliminação da Alemanha, do jeito que foi, enterrou de vez essa história de 7 a 1. Afinal, águas passadas não movem moinho. A mãe do Arthur, que aproveitou a empolgação da Copa para conhecer o Museu do Futebol com a família, é mais cautelosa. “Isso vai ser sempre uma dor para a gente, porque o futebol tem muito de simbólico e aquilo foi muito humilhante, não dá para esquecer", pondera Daniela Brito. Os dois, que moram no Recife, estão de passagem por São Paulo e se empolgam ao falar das chances do atacante Firmino nos próximos jogos, afinal, ele é o único nordestino desta seleção.
Agora, mãe e filho também concordam que o hexa está cada vez mais perto. “Tem males que acontecem para o bem, depois do 7 x 1 o Dunga ainda assumiu, mas depois o Tite chegou para arrumar o time”, diz Arthur. No começo da Copa ele ainda ficou meio descrente. O empate contra a Suíça e depois a vitória sofrida contra a Costa Rica levantaram o alarme: será que vem tudo de novo? Mas agora a confiança está lá em cima. O jogo contra a Bélgica é visto como um dos mais importantes (e perigosos) entre 10 e 10 torcedores, mas o clima é de animação. “O Thiago Silva, para mim, é o símbolo de que aquilo ficou para trás. Em 2014, ele estava chorando em campo, hoje é um dos melhores zagueiros da Copa”, comenta Arthur.
Animada também está a família Mana, que aproveitou um dia de folga para matar as saudades do Pacaembu. Corintianos, eles sentem falta de assistir aos jogos por lá, agora que o time tem seu próprio estádio em Itaquera. “Tudo que está acontecendo é pela filosofia do Tite, ele jogava de um jeito no Corinthians e levou isso para a seleção. Com o Neymar mais tranquilo, preocupado só em jogar bola, o favoritismo é nosso”, diz o Edson Mana. E ele, mais velho, dá o lembrete: “Não adianta jogar bonito em um time cheio de craque, como foi em 1982 e 1986, e não levar nada para casa. Desta vez é nossa”. É cruel, mas, no final, o recado que fica de tudo que se ouve é o mesmo. É só ganhar que está tudo bem: esquece-se qualquer crítica ao time e se esquece também do 7x1, que na véspera das quartas contra a Bélgica, já vai longe da memória do torcedor.
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