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Governo Temer faz investida para reforçar laços entre Brasil e Israel

Visita do ministro Aloysio Nunes a Jerusalém pretende por fim às divergências da época do Governo de Dilma Rousseff

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanjahyu (à direita), e Aloysio Nunes, nesta terça-feira, 27 de fevereiro
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanjahyu (à direita), e Aloysio Nunes, nesta terça-feira, 27 de fevereiro HAIM ZACH / GPO HANDOUT (EFE)

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, começou na terça-feira em Israel sua primeira viagem ao Oriente Médio desde que assumiu o cargo. Depois de render homenagem, no Museu do Holocausto, em Jerusalém, aos brasileiros “justos entre as nações” por terem ajudado os judeus a se salvarem do extermínio nazista, foi recebido pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. “Israel está muito interessado em fortalecer os laços com o Brasil e acredita em seu potencial”, disse o mandatário em um comunicado divulgado depois da reunião.

Essas palavras cordiais de boas-vindas estavam na linha política do presidente Michel Temer, partidário da inauguração de uma nova etapa nas relações bilaterais com o Estado judeu para apagar as tensões que marcaram a presidência de Dilma Rousseff, defensora do reconhecimento da Palestina.

As divergências entre Israel e o Brasil naquela época chegaram ao ponto crítico durante a guerra de Gaza no verão de 2014, quando Dilma Rousseff qualificou de “desproporcional” o uso da força israelense na Faixa palestina. O então porta-voz do ministério das Relações Exteriores em Jerusalém, Yigal Palmor, respondeu a essas acusações chamando o Brasil de “anão diplomático”. O gigante econômico sul-americano chamou de volta seu embaixador. Finalmente, o presidente israelense, Reuven Rivlin, teve que apagar o incêndio diplomático e pedir desculpas a Brasília.

O último choque entre os dois países surgiu com a nomeação do ex-líder de colonos judeus na Cisjordânia, Dani Dayan, como embaixador no Brasil em 2015. A nomeação não foi aceita pelo Executivo de Dilma. Depois de oito meses de toma lá dá cá, o Brasil ganhou o braço de ferro e a proposta de Dayan – finalmente designado cônsul-geral em Nova York – foi retirada por Israel.

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Daí a importância da viagem de Aloysio Nunes para reativar as relações entre os dois países. De acordo com dados fornecidos pelo ministério das Relações Exteriores do Brasil, as exportações brasileiras para Israel aumentaram 9,7% no ano passado. Uma tendência de alta que Nunes pretende consolidar com vários acordos em matéria de cooperação, segurança e educação. “O ministro está dando continuidade a uma nova era nas relações bilaterais”, reconheceu o embaixador brasileiro em Israel, Paulo Cesar de Meira de Vasconcellos, durante a assinatura do acordo que regula as aposentadorias e contribuições ao Seguro Social de seus cidadãos, de acordo com o respectivo país de residência.

Segundo a Agência Judaica, cerca de 120.000 judeus vivem no Brasil. No ano passado, quase um milhar emigrou para Israel, enquanto em 2016 cerca de 700 judeus brasileiros o fizeram. Esses números triplicam a tendência dos últimos 45 anos.

O ministro brasileiro também foi recebido na terça-feira pelo presidente Rivlin, que citou durante a reunião sua admiração pelo astro brasileiro do futebol, Pelé. Posteriormente, ele se reuniu com o líder da oposição, o dirigente do Partido Trabalhista, Isaac Herzog.

Aloysio Nunes está hospedado em um hotel em Jerusalém, localizado a poucos metros da Praça Oswaldo Aranha, assim chamada em homenagem ao diplomata brasileiro que presidiu a Assembleia Geral da ONU que em 1947 aprovou o plano de partição da Palestina sob mandato britânico, que levou ao nascimento do Estado de Israel.

Apesar das boas relações que o Governo de Michel Temer tenta manter com Israel, o ministério das Relações Exteriores do Brasil reagiu desfavoravelmente ao anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel. O Brasil seguiu os passos da maioria de seus vizinhos latino-americanos e tornou público um comunicado em que enfatizou que “o status final da cidade de Jerusalém deverá ser definido em negociações que assegurem o estabelecimento de dois Estados vivendo em paz e segurança dentro das fronteiras. internacionalmente reconhecidas e com livre acesso aos lugares santos das três religiões monoteístas”.

O Brasil é o país com mais católicos do mundo e a visita de Nunes ocorre em pleno braço de ferro entre Israel e as Igrejas cristãs, que mantiveram fechada a Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém, desde o último domingo até esta quarta-feira, em sinal de protesto pelas políticas do Governo israelense com os bens das igrejas. Aloysio Nunes se reunirá na quinta-feira em Ramallah com líderes palestinos – o Brasil reconheceu o Estado palestino em 2010 – antes de continuar sua viagem diplomática na Jordânia e no Líbano.

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