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Três mortos na jornada de violência provocada por grupos racistas norte-americanos

Uma mulher foi morta após um carro ser arremessado contra manifestantes críticos aos supremacistas brancos em Charlottesville, Virgínia

Supremacistas brancos entram em choque con contraprotestantes em Charlottesville, Virginia.
Supremacistas brancos entram em choque con contraprotestantes em Charlottesville, Virginia.JOSHUA ROBERTS (REUTERS)

O caos se apoderou neste sábado (13) de Charlottesville, uma pacata cidade de 45 mil habitantes na Virgínia, nos Estados Unidos. A maior marcha dos supremacistas brancos nos últimos anos nos EUA  levou a confrontos com manifestantes contrários aos racistas e deixou três mortos, uma mulher de 32 anos e dois policiais, pelo menos 34 feridos e um número indeterminado de pessoas presas. A mulher morreu depois que um carro foi jogado contra manifestantes críticos aos grupos racistas. Foi um crime "premeditado", disse a polícia.

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A polícia prendeu o motorista do veículo na tarde de sábado. Um jovem de 20 anos de Ohio, identificado como James Alex Fields. Ele é acusado de vários crimes, incluindo o assassinato. Paralelamente, o Governo Federal abriu uma investigação sobre uma possível violação dos direitos civis no protesto, ou seja, o atropelamento teria sido motivado por discriminação racial. Também à tarde, um helicóptero da polícia que monitorou os incidentes caiu a 11 km de Charlottesville e, no incidente, dois oficiais morreram.

O EL PAÍS visitou a cidade no final tarde de sábado. O nervosismo geral e a ausência de pedestres em Charlottesville se destacaram. Nas ruas vazias e nos telhados das residências, inúmeros policiais armados e militares com escudos e máscaras de gás. "É muito triste", disse Elke, de 53 anos, residente que estava caminhando com seu cachorro perto do agora protegido Emancipation Park, onde a violência foi iniciada pela manhã.

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Elke afirmou que ela acredita na "liberdade de expressão", mas disse que estava aterrorizada quando viu alguns dos supremacistas brancos armados. E ficou atônita que um veículo tinha sido usado para atacar pessoas, como "acontece em Paris ou Londres". O carro do atacante, completamente destruído, ainda estava em cena, cercado por policiais e um perímetro de segurança isolada com fita amarela. Na estrada onde ocorreu a indignação, havia sinais de uma cena interrompida: garrafas de água, papéis, folhas de árvores ...

O começo dos conflitos

Sob o lema Unir a direita, centenas de membros da ultradireita racista norte-americana se reuniram para protestar contra o plano de retirada de uma estátua em homenagem a Robert E. Lee (1807-1870), general do Exército Confederado durante a Guerra Civil Americana, que os extremistas de direita reivindicam como um símbolo histórico do poder branco sulista, e que lutou sem êxito contra os Estados do Norte para manter o sistema de escravidão dos negros. O grupo antirracista Southern Poverty Law Center denunciou que o ato representa “o maior encontro de ódio em décadas”.

A marcha de supremacistas brancos chegou a ser declarada pela prefeitura como ato ilegal antes de seu início, sem sucesso. Os radicais racistas, incluindo elementos do velho grupo de extrema direita Ku Klux Klan, portavam bandeiras confederadas, entoavam slogans nazistas e se armaram de capacetes, escudos e cassetetes. Acredita-se até que tenham utilizado gás pimenta e lacrimogêneo contra seus oponentes. Antes do meio-dia já se havia desencadeado a situação de violência, concentrada no campus da Universidade da Virgínia. Entre os contramanifestantes se destacava o agrupamento antirracista Black Lives Matter (as vidas dos negros importam). Os protestos eram de uma violência desenfreada. E o governo estadual ativou o estado de emergência e deslocou um forte contingente de unidades antidistúrbios.

A situação começou a esquentar na sexta-feira à noite quando as primeiras centenas de manifestantes supremacistas chegados à cidade se reuniram no campus da Universidade da Virgínia, ao lado de uma estátua de Thomas Jefferson, um dos pais fundadores dos EUA, para lançar os primeiros cânticos de protesto, com proclamas como “as vidas dos brancos importam” e “vocês não vão nos substituir”, desfilando à noite por Charlottesville com tochas acesas.

Um primeiro grupo de contramanifestantes chegou para repudiar a concentração e houve momentos de tensão entre os dois lados. A polícia teve de intervir e pelo menos uma pessoa saiu algemada do local.

A polícia estadual da Virgínia se preparou para os acontecimentos deste sábado com mais de 1000 agentes. O Governo do Estado pediu aos cidadãos que não se aproximassem do ponto mais quente, o Emancipation Park. O prefeito de Charlottesville, Mike Signer, condenou o ato como “um desfile covarde de ódio e intolerância”. Há um mês a cidade viveu outra jornada semelhante com uma manifestação da Ku Klux Klan motivada também por sua oposição ao projeto de retirada da estátua do general Lee, que terminou com 23 presos.

O movimento supremacista branco, formado por uma constelação de distintos grupúsculos cuja presença é mais significativa em Estados sulistas como a Virgínia, está passando por um momento de retomada de atividade e visibilidade nos últimos tempos em meio ao calor da controvérsia em torno das medidas de raiz xenófoba e nacionalista do presidente dos EUA, o republicano Donald Trump.

Nem o mandatário, de férias em seu clube de golfe de Nova Jersey, nem nenhum alto funcionário de seu gabinete se pronunciou até o momento sobre os eventos. A primeira reação da Casa Branca foi, surpreendentemente, a da primeira-dama, Melania Trump, que escreveu no Twitter, pouco depois dos distúrbios: “Nosso país promove a liberdade de expressão, mas nos comuniquemos sem ódio em nossos corações. Nada de bom vem da violência. #Charlottesville".

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